O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), cardeal Raymundo Damasceno Assis, disse ontem que a Igreja Católica
está discutindo a possibilidade de reconhecer casais formados por divorciados que
estejam em segunda união. O assunto foi tratado durante a 3ª Assembleia Extraordinária
do Sínodo dos Bispos, de 5 a 19 deste mês, no Vaticano, com o tema Os desafios
pastorais da família no contexto da evangelização.
Segundo dom Damasceno, há consenso quanto à
indissolubilidade do matrimônio, mas o sínodo não desconheceu situações
especiais que muitos casais têm hoje. São pessoas que contraem novo matrimônio,
continuam participando das atividades da igreja, atuando nas comunidades, com
uma vida estável e assumindo sua responsabilidade quanto à educação dos filhos,
disse ele. “E (esses casais) são desejosos de comungar e se confessar. Então, a
Igreja está aprofundando essa temática para ver, caso a caso, que soluções dar
para essas situações.”
O cardeal ressaltou que não houve mudança doutrinal. Ele
explicou que o sínodo foi dividido em duas etapas e que o documento final com
as conclusões será proclamado pelo papa na segunda fase, em outubro do ano que
vem. Foi preparado, no entanto, um documento com o resumo das discussões que
será encaminhado às dioceses e conferências episcopais para ser aprofundado e
receber contribuições.
Dom Damasceno, que é arcebispo de Aparecida, em São Paulo,
informou que, durante o sínodo, foram apresentadas sugestões sobre como tratar
o assunto. De acordo com ele, muitos casais procuram o tribunal eclesiástico
para anular o primeiro matrimônio. O cardeal acredita que é possível simplificar
esse processo, que normalmente se dá em duas instâncias. “É uma proposta reduzir
somente à primeira e dar poder maior ao bispo para a tomada de decisão nesses
casos.”
Outra possibilidade apresentada é de adotar a prática das
igrejas orientais que, segundo dom Damasceno, admitem a comunhão de casais em
segunda união após um processo de acompanhamento, conversão e análise da
situação deles ao longo da vida matrimonial.
“Mas não são normas gerais, há normas a serem aplicadas caso
a caso”, ressaltou. Relações homoafetivas No Brasil já existe o acompanhamento
desses casais em algumas dioceses, pelas pastorais de casal em segunda união. O
cardeal ressaltou, entretanto, que não houve, durante o sínodo, compartilhamento
de iniciativas semelhantes para homossexuais.
“Não é matrimônio, nem família. Não se pode equiparar a
união civil de casais do mesmo sexo ao matrimônio entre homem e mulher, que é
uma união aberta à geração da vida. Mas essas pessoas, que procuram a Igreja, devem
ser respeitadas e acolhidas. Há consenso sobre isso. A Igreja não discrimina e
atende aos cristãos batizados que querem participar da comunidade, mas não significa
que a Igreja esteja apoiando esse tipo de união”, disse o arcebispo.
Do Blog Carlos Magno, com Agência Brasil