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23/11/2014

Jornalista comenta derrota de Cássio: faltou “discurso convincente" e "coerente” para justificar rompimento com RC


O jornalista Arimatea Souza, do Jornal da Paraíba e da TV Paraíba, comenta em sua coluna Aparte, na edição deste domingo (23) do JP, a derrota sofrida pelo senador Cássio Cunha Lima (PSDB) para o governador e então candidato à reeleição Ricardo Coutinho (PSB), nas eleições deste ano. Segundo Ari, dentre os motivos, faltou a Cássio a adoção de um “discurso convincente e, em alguma medida, coerente”, para justificar rompimento com RC.

 

Ele cita também outros problemas verificados durante a campanha, a exemplo da baixa qualidade do guia eleitoral de Cássio; o desempenho eleitoral em Campina Grande muito aquém do que Cássio esperava; a aliança com Wilson Santiago, a quem tanto criticou no passado (Cássio chegou a chamá-lo de ‘inimigo de Campina’); na aposta de uma imagem jovial de Cássio, que era tratado, ainda, como o “Menino de Ronaldo”, dentre outros fatores.


 

Veja a coluna de Arimatea, na íntegra:

 

Tempo fechado

 

Coube ao ex-ministro Delfim Netto massificar uma expressão bem ao gosto dos economistas: ´tempestade perfeita´, que vem a ser o ´alinhamento´ de várias ocorrências para complicar um cenário já naturalmente difícil. Transposta a expressão para a cena política, aplique-se ao senador Cássio no processo eleitoral deste ano, sem deixar de considerar os méritos do governador reeleito.

 

Leque

 

Como sabiamente disse o ex-presidente americano John Kennedy,“a vitória tem mil pais, mas a derrota é órfã”. Assim, é possível enumerar várias razões para o primeiro insucesso eleitoral do ´tucano-mor´ na Paraíba.Atrevo-me a elencar algumas.

 

Inexplicável

 

E começo pelo tardio rompimento com Ricardo Coutinho, a poucos meses das convenções partidárias. Para uma faixa considerável do eleitorado, CCL não conseguiu justificar o rompimento nas circunstâncias em que ele ocorreu, apesar de ter sido instado a falar sobre isso ao longo da campanha.

 

Discurso

 

O rompimento no quarto ano da gestão do governador que ele ajudou decisivamente a eleger nos remete ao que chamaria de ´espinha dorsal´ dos atropelos verificados na disputa: falta de um discurso convincente e, em alguma medida, coerente.

 

Companheiro

 

A formação da chapa majoritária foi outro equívoco. Wilson Santiago (PTB), o nome afinal escolhido ao cabo de muita negociação, foi alvo de uma ´desconstrução´ sistemática do próprio CCL em duas ocasiões marcantes.

 

Ainda ´quente´

 

A mais recente, ao protestar contra os artifícios processuais que – legitimamente, diga-se de passagem – o petebista lançou mão na esfera do Judiciário para prolongar a sua passagem pelo Senado, enquanto permanecia o impasse relacionado à Lei da Ficha Limpa, que fez Cássio perder 11 meses de mandato.

 

Receita

 

Mas, anteriormente, e num episódio mais adensado em Campina, CCL personificou em Santiago a responsabilidade pela mudança nas regras de rateio do ICMS com as prefeituras, medida que prejudicou permanentemente a cidade em termos percentuais.

 

´Namoro´

 

Vale mencionar que um pouco antes de ´bater o martelo´ com Santiago, CCL entabulou intensas negociações com o PMDB para a celebração de uma aliança este ano, que passaria pela presença no mesmo palanque do ´tucano´ e dos irmãos Vital e Veneziano, ou até mesmo de Maranhão.

 

Rejeição

 

A negociação só não prosperou porque pesquisas feitas de parte a parte mostraram a indisposição do eleitorado para com essa composição entre pseudo adversários históricos.

 

Assimilação

 

Para um segmento mais ´politizado´ da população, ficou do noticiário do período a percepção de que apenas o desgaste recíproco evitou a união de quem o eleitorado julgava mutuamente excludentes.

 

Guia

 

É preciso citar a pífia contribuição dada pelo guia eleitoral de Cássio à evolução de sua candidatura. Nitidamente, os programas de Ricardo foram superiores ao longo de toda a campanha.

 

Remoçar

 

Em alguns períodos, insistiu-se em apresentar Cássio ainda como o ´menino de Ronaldo´, apostando todas as fichas – repetida e exageradamente – na imagem jovial do ´tucano´, enquanto o cerne da disputa era conduzido pela comparação administrativa.

 

Variação

 

Quando o guia ´tucano´ saia desse enfoque, a opção era por um ataque desmedido ao candidato à reeleição, minimizando o campo da proposição e do legado administrativo de quem governou a Paraíba por quase dois mandatos.

 

Vinculação

 

Muito provavelmente, a ilógica opção pela ´colagem´ incondicional das campanhas de Cássio e de Aécio no 2º turno foi a expressão da inexistência de foco consequente na campanha. Ou, dito de outro jeito: falta de alternativa estratégica.

 

Irreconhecível

 

Em vários momentos da campanha, o senador se mostrava flagrantemente disperso.

Era a ´caricatura´ do Cássio de outros pleitos.

 

No reduto

 

Talvez, emocionalmente tenha doído mais em Cássio o seu desempenho eleitoral insatisfatório em Campina do que a própria derrota no Estado.

 

Termômetro

 

APARTE acentuou durante a campanha que “orfandade: essa palavra pode decidir as eleições”.

 

Abandono

 

Uma parcela crescente da cidade se ressente da presença de seu líder maior vivenciando minimamente o cotidiano. E pode ter aproveitado as urnas para externar esse intangível sentimento.

 

Resistência & pedagogia

 

A conclusão dessas reflexões pode parecer paradoxal, mas é lastreada na realidade. Cássio demonstrou novamente que é uma vigorosa liderança, porque apesar do ´festival´ de vulnerabilidades e de dificuldades de toda ordem, algumas próprias do ambiente oposicionista, conseguiu chegar às urnas vertical e com chances de vitória.

A maioria de outras lideranças, em situação similar, teria sido abatida pelo caminho. Essa eleição deve ter sido pedagógica para o ´tucano´. Como ensina um provérbio japonês, “pouco se aprende com a vitória, mas muito com a derrota”.

 

Do Blog Carlos Magno, com Jornal da Paraíba