O jornalista Arimatea Souza, do Jornal da Paraíba e da TV
Paraíba, comenta em sua coluna Aparte, na edição deste domingo (23) do JP, a
derrota sofrida pelo senador Cássio Cunha Lima (PSDB) para o governador e então
candidato à reeleição Ricardo Coutinho (PSB), nas eleições deste ano. Segundo
Ari, dentre os motivos, faltou a Cássio a adoção de um “discurso convincente e,
em alguma medida, coerente”, para justificar rompimento com RC.
Ele cita também outros problemas verificados durante a
campanha, a exemplo da baixa qualidade do guia eleitoral de Cássio; o
desempenho eleitoral em Campina Grande muito aquém do que Cássio esperava; a
aliança com Wilson Santiago, a quem tanto criticou no passado (Cássio chegou a
chamá-lo de ‘inimigo de Campina’); na aposta de uma imagem jovial de Cássio,
que era tratado, ainda, como o “Menino de Ronaldo”, dentre outros fatores.
Veja a coluna de Arimatea, na íntegra:
Tempo fechado
Coube ao ex-ministro Delfim Netto massificar uma expressão
bem ao gosto dos economistas: ´tempestade perfeita´, que vem a ser o
´alinhamento´ de várias ocorrências para complicar um cenário já naturalmente
difícil. Transposta a expressão para a cena política, aplique-se ao senador
Cássio no processo eleitoral deste ano, sem deixar de considerar os méritos do
governador reeleito.
Leque
Como sabiamente disse o ex-presidente americano John
Kennedy,“a vitória tem mil pais, mas a derrota é órfã”. Assim, é possível
enumerar várias razões para o primeiro insucesso eleitoral do ´tucano-mor´ na
Paraíba.Atrevo-me a elencar algumas.
Inexplicável
E começo pelo tardio rompimento com Ricardo Coutinho, a
poucos meses das convenções partidárias. Para uma faixa considerável do
eleitorado, CCL não conseguiu justificar o rompimento nas circunstâncias em que
ele ocorreu, apesar de ter sido instado a falar sobre isso ao longo da
campanha.
Discurso
O rompimento no quarto ano da gestão do governador que ele
ajudou decisivamente a eleger nos remete ao que chamaria de ´espinha dorsal´
dos atropelos verificados na disputa: falta de um discurso convincente e, em
alguma medida, coerente.
Companheiro
A formação da chapa majoritária foi outro equívoco. Wilson
Santiago (PTB), o nome afinal escolhido ao cabo de muita negociação, foi alvo
de uma ´desconstrução´ sistemática do próprio CCL em duas ocasiões marcantes.
Ainda ´quente´
A mais recente, ao protestar contra os artifícios
processuais que – legitimamente, diga-se de passagem – o petebista lançou mão
na esfera do Judiciário para prolongar a sua passagem pelo Senado, enquanto
permanecia o impasse relacionado à Lei da Ficha Limpa, que fez Cássio perder 11
meses de mandato.
Receita
Mas, anteriormente, e num episódio mais adensado em Campina,
CCL personificou em Santiago a responsabilidade pela mudança nas regras de
rateio do ICMS com as prefeituras, medida que prejudicou permanentemente a
cidade em termos percentuais.
´Namoro´
Vale mencionar que um pouco antes de ´bater o martelo´ com
Santiago, CCL entabulou intensas negociações com o PMDB para a celebração de
uma aliança este ano, que passaria pela presença no mesmo palanque do ´tucano´
e dos irmãos Vital e Veneziano, ou até mesmo de Maranhão.
Rejeição
A negociação só não prosperou porque pesquisas feitas de
parte a parte mostraram a indisposição do eleitorado para com essa composição
entre pseudo adversários históricos.
Assimilação
Para um segmento mais ´politizado´ da população, ficou do
noticiário do período a percepção de que apenas o desgaste recíproco evitou a
união de quem o eleitorado julgava mutuamente excludentes.
Guia
É preciso citar a pífia contribuição dada pelo guia eleitoral
de Cássio à evolução de sua candidatura. Nitidamente, os programas de Ricardo
foram superiores ao longo de toda a campanha.
Remoçar
Em alguns períodos, insistiu-se em apresentar Cássio ainda
como o ´menino de Ronaldo´, apostando todas as fichas – repetida e
exageradamente – na imagem jovial do ´tucano´, enquanto o cerne da disputa era
conduzido pela comparação administrativa.
Variação
Quando o guia ´tucano´ saia desse enfoque, a opção era por
um ataque desmedido ao candidato à reeleição, minimizando o campo da proposição
e do legado administrativo de quem governou a Paraíba por quase dois mandatos.
Vinculação
Muito provavelmente, a ilógica opção pela ´colagem´
incondicional das campanhas de Cássio e de Aécio no 2º turno foi a expressão da
inexistência de foco consequente na campanha. Ou, dito de outro jeito: falta de
alternativa estratégica.
Irreconhecível
Em vários momentos da campanha, o senador se mostrava
flagrantemente disperso.
Era a ´caricatura´ do Cássio de outros pleitos.
No reduto
Talvez, emocionalmente tenha doído mais em Cássio o seu
desempenho eleitoral insatisfatório em Campina do que a própria derrota no
Estado.
Termômetro
APARTE acentuou durante a campanha que “orfandade: essa
palavra pode decidir as eleições”.
Abandono
Uma parcela crescente da cidade se ressente da presença de
seu líder maior vivenciando minimamente o cotidiano. E pode ter aproveitado as
urnas para externar esse intangível sentimento.
Resistência & pedagogia
A conclusão dessas reflexões pode parecer paradoxal, mas é
lastreada na realidade. Cássio demonstrou novamente que é uma vigorosa
liderança, porque apesar do ´festival´ de vulnerabilidades e de dificuldades de
toda ordem, algumas próprias do ambiente oposicionista, conseguiu chegar às
urnas vertical e com chances de vitória.
A maioria de outras lideranças, em situação similar, teria
sido abatida pelo caminho. Essa eleição deve ter sido pedagógica para o ´tucano´. Como
ensina um provérbio japonês, “pouco se aprende com a vitória, mas muito com a
derrota”.
Do Blog Carlos Magno, com Jornal da Paraíba