É chato para os ouvintes ter que escutar músicas, muitas vezes, empurradas ‘goela abaixo’, nas emissoras de rádio. Desde que um cara inteligente do Ceará descobriu que tocar música em rádio poderia render dinheiro, as emissoras deixaram de executar CDs apenas porque as pessoas gostam e passaram a ver, também, a possibilidade real de aumentar o faturamento.
Não tiro aqui a razão dos donos de rádio. Num mercado cada vez mais acirrado, onde fechar contratos de patrocínio requer um malabarismo gigante, é necessário que se crie, mesmo, outras fontes de recursos para manter uma emissora no ar. Mas, cá prá nós, tudo deve ter seu limite. Então, condenemos o pecado daquelas rádios que exageram na dose.
Quando falo em exagerar na dose, falo em comprometer toda ou quase toda a programação de uma emissora com músicas de bandas e atrações que pagam para ter seus ‘sucessos’ executados. Assim, o ouvinte deixa de escutar música pela qualidade e passa a aceitar tudo o que é tipo de ‘música’ porque o dono da banda ou a produtora, ou a gravadora paga.
Alceu Valença disse que há um esquema muito bem articulado envolvendo donos de rádios e bandas, no Brasil
O resultado disso é que, ao escutar uma música exaustivamente, ela acaba virando ‘sucesso’ ou ‘hit’, como os caras de FM falam. E, virando hit, entram num ciclo que envolve os ouvintes e eles acabam não sabendo mais o que é pago, o que é executado porque está fazendo sucesso, se faz sucesso porque o povo gosta, se faz porque alguém pagou... danou-se!
Estava eu vendo uma entrevista do cantor e compositor pernambucano Alceu Valença a Fernando Mitre e José Luiz Datena, na Band, esta semana, e vi a indignação do pernambucano com este fato. Alceu teve a coragem de denunciar o que vemos todos os dias e explicou, direitinho, como tudo funciona.
“Estão fazendo nas rádios o que a lei não permite. Por exemplo: você (disse ele, referindo-se a um dos entrevistadores) é dono de uma rádio e tem cinco bandas. Você (disse, dirigindo-se ao outro apresentador) também, e eu também. Então, eu toco as dele, ele toca as minhas, o outro toca as do outro e, assim, sucessivamente. Então, isso cria uma situação em que não há concorrência e isso não pode. Isso está ocorrendo no Brasil”, denunciou o pernambucano.
Alceu Valença, na entrevista, disse que compõe a música que a circunstância lhe exige. “Eu sou compositor do estilo de música da minha circunstância. Eu sou de São Bento do Una, cidade pernambucana; mas sou também de Olinda, onde moro; sou de Recife, de São Paulo, de Paris... Então, eu sou compositor das minhas circunstâncias”.
O pior de tudo é saber onde isso vai parar...
Do Blog Carlos Magno
