O jornal Folha de São Paulo apresentou recentemente, em sua
versão impressa, uma matéria mostrando a dura realidade de várias cidades do
interior nordestino que estão sofrendo com a estiagem prolongada. A Folha
mostra como a crise no abastecimento está prejudicando estas cidades e cita
caso de municípios que só tem água nas torneiras duas vezes por mês.
Na matéria, a Folha mostra também que muitas obras que
deveriam minimizar os efeitos da estiagem prolongada estão atrasadas,
prejudicando a população. Na Paraíba, segundo o jornal, essas obras estariam
prejudicando as populações de oito cidades. A matéria é assinada pela
jornalista Patrícia Britto, enviada especial à cidade de Santa Cruz do
Capibaribe-PE.
Segundo o jornal Folha de São Paulo, em Santa Cruz do Capibaribe (PE) os reservatórios estão quase secos e a população só tem água nas torneiras dois dias por mês
Veja a matéria, na íntegra:
Cidade de Pernambuco
tem água só 2 dias por mês
Todas as manhãs, a dona de casa Dorinha Arruda, 44, tem de
esperar a carroça passar para botar água no feijão.
Compra três ou quatro latas de água por dia, a R$ 1,25, para
cozinhar. O que sobra serve para o banho de cuia --tem dia que não sobra.
A casa onde mora com a filha de 12 anos, em Santa Cruz do
Capibaribe (PE), não tem torneiras nem chuveiro --e há tempos não tem água
encanada. "Faz de um ano a dois, eu nem conto mais", diz ela.
Desde o início do mês, moradores da terceira maior cidade do
agreste pernambucano enfrentam um rodízio oficial rigoroso: são dois dias com
água e 28 sem. Outros 115 dos 185 municípios do Estado também passam por algum
tipo de racionamento.
A crise poderia estar perto do fim se uma obra estratégica
para enfrentar a seca tivesse seguido o cronograma.
Parceria entre Estado e Ministério da Integração, a Adutora
do Agreste deveria ter a primeira etapa concluída até junho, mas está com
apenas 62% das obras prontas, devido a atrasos nos repasses do governo federal.
No sertão, outras duas obras que beneficiariam 14 municípios
de Pernambuco e oito da Paraíba podem parar.
Enquanto isso, carroças, carros-pipa e caminhonetes disputam
espaço nas ruas estreitas de Santa Cruz do Capibaribe para vender água nas
casas dos 99 mil moradores.
Uma vez por semana, dona Dorinha paga ainda R$ 45 para
encher a cisterna de 2.000 litros. É com essa água, mais salobra, que cuida da
limpeza geral. "O dinheiro que era para comprar roupa ou xampu vai para
comprar água", lamenta.
Nas bacias enfileiradas no chão, ela guarda cada gota que
pode ser reaproveitada, para que a água dure a semana inteira. "Isso é
ouro, ninguém pode gastar."
Uma gambiarra ajuda a reaproveitar a água que escorre pelo
ralo do tanque. "Tirei um cano daqui, aí quando estou lavando roupa a água
do ralo cai no balde, já para jogar no banheiro e ir economizando",
explica.
O período chuvoso, que vai até maio no sertão e até julho no
agreste, já se aproxima do fim sem previsão de melhora. "Teria que chover
em toda a região e por vários dias seguidos para resolver o problema",
afirma o meteorologista Patrice Oliveira.
Do Blog Carlos Magno, com Folha de São Paulo