A revista Istoé desta semana mostra um mistério que está
intrigando especialistas em Medicina Legal: durante exumação do corpo do Padre
Angioni, morto há sete anos no interior de São Paulo, os legistas retiraram a
ossada do padre, mas encontraram o coração intacto. “Enquanto legislas levantam
dúvidas, fiéis acreditam em milagre”, diz a reportagem.
A Istoé mostra, inclusive, a exibição pública que foi feita
dos ossos do padre e de seu coração, intacto, na Igreja Matriz de José
Bonifácio, interior de São Paulo, no último dia 07 deste mês. “Em 22 anos como
legista e com mais de 300 exumações realizadas nunca vi um caso como esse”, diz
Jorge Paulete Vanrell, professor de medicina legal de São José do Rio Preto
(SP).
PRESERVADO: Ossada e coração do Monsenhor Ângelo Angioni foram exibidos na Igreja Matriz de Jose Bonifácio (SP) no domingo, dia 7
Veja a reportagem da revista Istoé, na íntegra:
O mistério do santo
Angioni
Durante exumação, coração de padre morto há sete anos
no interior de São Paulo é encontrado intacto. Enquanto legistas levantam
dúvidas, fiéis acreditam em milagre
Paula Rocha (paularocha@istoe.com.br)
"Do pó vieste e ao pó retornarás”. Essa frase do livro
Gênesis é talvez uma das mais conhecidas da Bíblia e guarda em si uma verdade
quase inexorável. Não importa qual seja a sua religião, o fato é que o corpo
humano, após a morte, está fadado ao fim. Na Igreja Católica, porém, relatos
garantem que alguns santos foram capazes de superar a corrupção da carne e
mantiveram seus corpos preservados muito tempo após o falecimento – são os
chamados “santos incorruptos”. Na semana passada, um caso similar, e que já
está sendo considerado milagre pelos fiéis, chamou a atenção do Brasil. Durante
uma exumação, o coração do padre Ângelo Angioni (1915-2008) foi encontrado
intacto sete anos após a sua morte, em José Bonifácio, no interior de São
Paulo.
O órgão foi descoberto por postuladores romanos,
responsáveis por colher informações para beatificações, e que atualmente
investigam a indicação de Angioni a santo. Ao abrir o caixão, os postuladores
se depararam com as vestes do padre e, dentro delas, os ossos e o coração
preservado. Os frequentadores da Igreja Matriz da cidade puderam ver o coração
de perto no domingo 7, quando ele foi apresentado no início oficial dos
trabalhos diocesanos para o processo de beatificação e canonização do pároco. O
fenômeno foi interpretado pelos devotos como um sinal da santidade do monsenhor
Angioni, enquanto legistas levantaram dúvidas sobre o aspecto transcedental do
caso.
“Em 22 anos como legista e com mais de 300 exumações
realizadas nunca vi um caso como esse”, diz Jorge Paulete Vanrell, professor de
medicina legal de São José do Rio Preto (SP). Opinião compartilhada por Ivan
Miziara, professor do departamento de medicina legal da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (USP) e superintendente da polícia técnico
científica de São Paulo. “Um coração estar intacto sete anos após a morte é um
fenômeno que não tem explicação dentro da teoria clássica de decomposição dos
corpos”, diz Miziara.
Segundo o especialista, no processo de decomposição natural
do corpo humano, o coração, que é basicamente um músculo, demora cerca de 25
meses para se desfazer totalmente. A preservação do órgão pode ocorrer de forma
natural apenas em duas ocasiões: quando há a mumificação (espécie de
ressecamento), se o corpo for sepultado em uma região quente e seca – caso da
cidade de José Bonifácio, ou na saporificação (quando o corpo se torna uma
espécie de sabão), se o cadáver for enterrado em uma região argilosa e úmida.
“Porém, mesmo quando há uma mumificação natural, por conta do ambiente onde o
cadáver foi sepultado, esse processo normalmente acontece no corpo todo e não
em apenas alguns órgãos”, diz Vanrell. Miziara, por sua vez, ressalta que é
preciso confirmar se o coração do padre é verdadeiro. “Apenas um exame de DNA
no órgão e na ossada provaria que se trata de um coração real e de que ele é de
fato do padre Angioni.” E Vanrell acrescenta que “caso seja de fato um coração,
deve ser realizada ainda uma bateria toxicológica, para identificar se alguma
substância agiu para que o órgão se preservasse.”
A Igreja Matriz de José Bonifácio, no entanto, garante que
nenhuma técnica de preservação foi utilizada no coração do monsenhor Angioni.
De acordo com o padre Mauro Ziatti, novo padre da paróquia, Angioni foi
sepultado em um túmulo convencional, dentro da igreja, planejado pelo próprio
monsenhor em 1995. “A preparação do corpo dele foi normal, não foi usada
nenhuma substância diferente, e ele foi sepultado em um túmulo comum, com a
diferença de estar localizado dentro da igreja”, conta pe. Mauro.
A descoberta do coração intacto não terá influência direta
no processo de beatificação e canonização de Angioni, pois não é considerado um
milagre pelos postuladores, porém pode beneficiar indiretamente a indicação, ao
atrair mais devotos para o padre. “Com a divulgação desse fato, ele irá se
tornar mais conhecido, mais pessoas pedirão graças a ele e, consequentemente,
haverá mais possibilidades de que se comprovem milagres conquistados através de
sua intervenção”, diz Francisco Borba, coordenador do núcleo de fé e cultura da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Ao mesmo tempo, o
coração preservado fortalece a convicção daqueles que têm devoção a esse servo
de Deus. Para eles, o fato de o órgão não ter se deteriorado com o tempo é uma
prova inequívoca da santidade desse padre.”
Do Blog Carlos Magno, com Istoé
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