Quem vai em busca de comidas típicas ao São João de Campina
Grande (PB), autoproclamado a maior festa junina do mundo, pode se decepcionar.
Para isso, tem de chegar cedo e gastar muita sola de sapato (ou de botina) para
achar as duas únicas barracas em meio a um mar de quiosques e restaurantes.
Em vez de doces como munguzá (conhecido como canjica em
alguns Estados), canjica (o curau do Sul e do Sudeste), pamonha e bolo de
milho, o que os pontos oferecem são crepes, sushis, pizzas e até um "petit
gâteau nordestino": bolinho de rapadura com calda de queijo coalho e
sorvete de tapioca.
A festa se concentra no Parque do Povo, uma área no centro
que tem as ruas fechadas durante um mês. Entre réplicas de igrejas e casas
coloridas, os coretos com trios de sanfona, zabumba e triângulo complementam o
palco principal com shows de forró, o ritmo predominante.
Mas, na praça de alimentação, o clima junino sai de cena.
Entre os 22 restaurantes, 210 barracas e quiosques e 165 vendedores ambulantes,
a busca por guloseimas de milho pode ser frustrante.
Depois de percorrer esse espaço em busca de canjica, pamonha
ou munguzá, o funcionário público Diego Martins, 27, teve de se contentar com
uma tapioca. "Até achei um lugar que vendia, mas já tinha acabado",
disse ele, que saiu de Brasília para conhecer a festa paraibana.
A estudante Marília Mariotti, 24, também não encontrou as
delícias que buscava e acabou escolhendo um cachorro-quente. "Eu adoro
comida típica de São João, é uma das melhores partes da festa. Mas munguzá,
pamonha e canjica eu não encontrei", disse.
Uma das únicas barracas que vendem comidas típicas à base de
milho é a Tapiocaria, do empresário José da Silva. Ele conta que a procura é
tão grande que o estoque sempre acaba antes da meia-noite, quando faltam duas
horas para o fim da festa.
Ao perceber a alta procura e a escassez de oferta, o
empresário Polion Araújo decidiu, neste ano, incluir as comidas típicas na sua
barraquinha de caldo de cana, montada entre um restaurante árabe, um mexicano,
um chinês e um Subway.
"Aqui você encontra comida árabe, americana, mexicana,
menos a comida regional. Se você procura comida de milho, não tem", disse.
O presidente da Comissão Paraibana de Folclore, José Augusto
Moraes, lamenta a invasão da culinária internacional na festa nordestina.
"Isso descaracteriza o São João. Não sou contra que haja uma dinamização
da cultura, mas não se pode perder a identidade", afirmou.
Além de pratos internacionais, há opções como caldinhos,
cachorro-quente, churrasquinhos e maçã do amor.
SELEÇÃO
A Prefeitura de Campina Grande, que seleciona os
restaurantes, diz que historicamente há pouca procura por parte de comerciantes
que vendem comidas à base de milho. Não há cota para os que vendem pratos
típicos.
Segundo a administração, a seleção prioriza restaurantes e
barracas que cumprem as regras de higiene e segurança, com preferência para os
que já ocuparam o local em anos anteriores.
Para o empresário Polion Araújo, o custo do aluguel de um
ponto no Parque do Povo, que varia de R$ 450 a R$ 5.000, afasta os principais fornecedores das comidas
juninas, em geral pequenas empresas familiares.
Um exemplo é Dona Nevinha. Há mais de 30 anos, ela faz em
sua casa a canjica, o munguzá e o bolo de milho que fornece para festas
particulares e para escolas.
"Eu nem recebo encomenda para o Parque do Povo, você
acredita? É muito deselegante. Até pra São Paulo recebo, hoje mesmo estou
mandando 30 pamonhas", disse.
A festa, que vai de 9 de junho a 5 de julho, deve receber
mais de 2 milhões de pessoas, segundo a prefeitura – Folha de São Paulo, com
fotos de Wagner Pina (Folhapress).
Do Blog Carlos Magno
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