Políticas de mobilidade urbana, revisão das gratuidades e
justiça tributária, podem contribuir para redução do custo da tarifa
Pagar R$ 2,70 ou R$ 3,00 pela tarifa do transporte público
coletivo em Campina Grande não é o problema. Se esse fosse o ‘calo’ não se
pagaria, por exemplo, até 10 reais por uma “corrida” de mototaxi, independente
da moto ser nova, velha, autorizada ou não pelo município para exercer a
atividade legal de transporte de passageiros.
Na última semana, após as empresas de ônibus urbano
anunciarem um reajuste linear de 10% sobre o piso salarial de seus
trabalhadores, elevando a remuneração do motorista para mais de 2 mil reais, a
imprensa anunciou que a tarifa do “busão” poderia ser R$ 2,70 em nossa cidade,
a qualquer momento.
O anúncio motivou que algumas pessoas se manifestassem
através da imprensa e das redes sociais, com opiniões contrárias ao eventual
reajuste da tarifa. Nada mais natural,
quando as pessoas vêm seu orçamento familiar ficar cada vez mais apertado,
principalmente depois dos aumentos da energia elétrica, da gasolina, do pão, do
leite e de tantos outros produtos, além dos impostos e taxas de juros do cartão
de crédito e do cheque especial, inflação alta, desemprego. O que se estranha,
é que essa “onda” de aumentos não tenha merecido idêntico protesto nas redes
sociais ou na imprensa.
Fernando Soares dos Santos é jornalista e profundo conhecedor dos sistemas de transporte urbano
Vale a pena lembrar que entre os 'inúmeros' reajustes aprovados
pelo governo federal após as eleições presidenciais, está a revisão dos
impostos (Cide, Pis e Cofins) que gerou alta de R$ 0,22 sobre o litro da
gasolina e de R$ 0,15 sobre o litro do óleo diesel nas refinarias, empurrando
para cima dos consumidores algumas dezenas de centavos a mais.
E tem mais. O Comitê de Política Monetária (Copom), em
recente reunião, previu reajuste de mais 9,1% no valor da gasolina em 2015, de
acordo com ata divulgada pelo Banco Central, além de 41% nas tarifas de energia
elétrica.
As empresas de ônibus urbano têm no óleo diesel e na folha
de salário, seus dois maiores encargos. O impacto do diesel representa mais de
25% enquanto que os salários pesam cerca de 40% sobre o valor da tarifa. Sem
falar na manutenção mecânica que requer o uso de insumos como peças e pneus;
que o setor administrativo das empresas também está sujeito aos reajustes das
tarifas de telefone, energia, e água.
Para corrigir essas distorções, a população, as autoridades
do legislativo e do executivo, precisam ter outro olhar sobre o transporte
público coletivo urbano.
A solução dos problemas desse importante setor para a vida
da cidade (imagine uma cidade sem ônibus), passa, necessariamente, pelas
políticas de mobilidade urbana. Através
delas, seria possível desonerar os serviços desse segmento, fazendo uso de
subsídios, e promovendo uma maior justiça tributária, através da isenção ou
redução de impostos sobre os insumos (óleo diesel, por exemplo) e encargos
tributários.
Mesmo com os avanços que já aconteceram, as passagens de
ônibus ainda têm muito imposto embutido.
E como o assunto é o peso do óleo diesel no valor das
tarifas, a prioridade do transporte coletivo no espaço urbano deve ser um dos
principais pontos da propalada política de mobilidade. Sem ficar presos em
congestionamentos, contando com mais corredores e faixas com exclusividade, os
ônibus podem desenvolver maior velocidade e fazer mais viagens, gastando,
portanto, proporcionalmente menos combustível.
Todas estas ações em prol da mobilidade fariam com que as
tarifas tivessem percentuais menores de crescimento que não pesariam tanto no
bolso do trabalhador.
Uma revisão nos sistemas de gratuidades também ajudaria.
Ninguém é contra que idosos, portadores de necessidades especiais e algumas categorias
trabalhistas e de estudantes tenham isenção total ou parcial. Desde que as
isenções sejam para as pessoas socialmente carentes, na forma da lei, para que
não haja injustiças. Dessa forma, o ônus da gratuidade não recairia sobre as
empresas e, consequentemente, sobre os passageiros pagantes que, na maioria das
vezes, são os mais sacrificados.
A gratuidade de 50% da tarifa foi concedida à classe
estudantil para estimular a frequência do estudante na sala de aula.
Entretanto, esse privilégio da meia gratuidade vem sendo desvirtuada pelo
estudante quando ele usa o benefício para fazer programas de fim de semana, em
dias feriados e até nos períodos de greve das instituições de ensino.
Esse privilégio do estudante deve se limitar, apenas, ao
percurso da escola.
O empresário de ônibus moderno não quer tarifas altas, isso
pode gerar evasão de passageiros do sistema, levando-os para deslocamentos a pé
ou por outros modos.
Mas, também, os custos devem ser cobertos de maneira justa e
o lucro também é algo que deve ser encarado com naturalidade pela sociedade.
Afinal, empresa que não lucra, não investe e tem a qualidade dos seus serviços
prejudicada, o que ninguém quer nos transportes públicos.
Com políticas de mobilidade, que vão desde criação de
espaços para ônibus urbano, desonerações, justiça tributária e revisão das
gratuidades, é possível que as tarifas pesem menos no bolso do passageiro e que
as empresas tenham uma lucratividade justa.
É essa pauta que não pode se calar na voz das ruas, das
redes sociais e da imprensa.
Do Blog Carlos Magno
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