O médico-legista Silvio Luís da Silveira Lemos, que atendeu
o menino de 4 anos e 8 meses torturado em Campo Grande, disse que ele estava
com “multiplicidade de lesões” e a maioria delas é grave. Suspeitos da tortura,
os pais adotivos da criança estão presos e confessaram o crime.
Existem sinais de fratura antiga no antebraço, causando até
a “consolidação da fratura”. “As lesões depois de quatro meses estabilizam”,
afirmou o profissional, que é médico há 29 anos.
Segundo ele, a criança tem queimadura na face, possivelmente
provocada por líquidos. Os ferimentos no pescoço vão causar sequela estética.
“O pescoço está deformado com múltiplas cicatrizes.”
O casal disse que adotou a criança em maio de 2015, já com a intenção de sacrificá-la em rituais de magia negra (Imagens: Reprodução - TV Morena/Mato Grosso do Sul)
“Mesmo traumatizada, [a criança] é extremamente colaborativa
e dócil”, disse Lemos, e este comportamento diante da gravidade da violência
emocionou a equipe da Santa Casa.
Agressões – As lesões
foram verificadas nessa terça-feira (23) durante visita de profissionais de um
abrigo, tida como de rotina às famílias que adotam crianças que já ficaram
abrigadas. O menino foi encaminhado à Santa Casa e, após constatação médica de
que os ferimentos tinham sido causados por agressões, a tia-avó que o adotou,
de 31 anos, foi presa ainda no hospital.
O menino tinha
queimaduras no rosto, um dos braços quebrados, ferimentos nos olhos, no saco
escrotal e vários hematomas. A córnea de um dos olhos foi atingida e ele ficou
cego. O outro olho também pode ficar comprometido – ele tem apenas 20% da
visão.
O marido dela, de 46 anos, foi preso em seguida, e a polícia
procura por um terceiro suspeito, que seria um rapaz de 18 anos, que já tem
passagem por tráfico de drogas. O jovem também é sobrinho do casal.
A assessoria de imprensa do hospital informou que a vítima
está consciente e na sala de emergência da pediatria, em processo de drenagem
cirúrgica de abscesso extenso na orelha esquerda.
Magia negra – Conforme
a delegada que atendeu à ocorrência, Priscilla Anuda Quarti, o casal disse que
adotou a criança em maio de 2015 já com a intenção de sacrificá-la em rituais
de magia negra e afirmou que as agressões também aconteciam em outras
situações.
Os rituais, conforme depoimento dos suspeitos à polícia,
eram realizados de três a quatro vezes por semana, à noite, na sala da casa
onde moravam, além da vítima e dos presos, duas filhas do casal: uma de 9 anos
e outra de 13. Elas não eram agredidas, porém, assistiam aos rituais.
Apesar de alegar que estava sob efeito de entidade
espiritual durante as agressões, a mulher, segundo a delegada, contou com
detalhes as torturas. A criança era queimada com charutos e cachaça quente.
Família – O homem
preso era tio-avô do menino e ele e a esposa teriam sido os familiares mais
próximos interessados na adoção, depois que a avó materna deixou a criança com
a Justiça alegando não ter condições de cuidar dela.
Até a publicação desta reportagem, a polícia não tinha informações
sobre o paradeiro dos pais. O menino não frequentava a escola.
Os tios-avós moravam nos fundos de um prédio comercial no
Centro da capital sul-mato-grossense, em uma espécie de cortiço ao lado de
outras três residências.
Vizinhos afirmaram à polícia não terem suspeitado da
situação. O casal foi indiciado por tortura qualificada por lesão grave com a
pena aumentada pela vítima ser criança e abandono de incapaz – G1.
Portal Carlos Magno
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