Um adolescente amputou por iniciativa própria uma de suas
mãos após ter sido acusado publicamente de blasfêmia no Paquistão.
O incidente aconteceu quando Qaiser (nome fictício), um
jovem de 15 anos, entendeu errado uma pergunta durante uma celebração a Maomé
realizada em uma mesquita na Província de Punjab, no leste do país.
Durante a oração em homenagem ao nascimento do profeta, o
clérigo perguntou aos presentes: "Quem entre vocês crê em Maomé?".
Todos levantaram as mãos. Em seguida, ele questionou: "Quem entre vocês
não acredita nos ensinamentos do santo profeta? Levantem suas mãos!".
Qaiser entendeu errado a pergunta e, sem querer, levantou a
mão.
O incidente expõe a dificuldade de abordar o assunto ou debater qualquer tema religioso no Paquistão, um país onde 97% dos 200 milhões de habitantes são muçulmanos
Havia cerca de cem pessoas na mesquita, e o clérigo
imediatamente acusou o garoto de blasfêmia. Qaiser voltou para casa e quis
provar seu amor pelo profeta – amputando sua própria mão com um cortador de
grama. Depois, ele colocou-a em um prato e apresentou ao clérigo.
"Quando eu levantei minha mão direita sem querer, eu
percebi que havia cometido uma blasfêmia e precisava compensar tamanha
afronta", disse ele à BBC.
Após a atitude do garoto, toda a aldeia entrou em êxtase e
pessoas de outros povoados vizinhos estão chegando para prestar homenagens a
Qaiser.
O clérigo, no entanto, foi preso, enquadrado na lei
antiterrorismo do Paquistão – acusado de ter instigado o extremismo e o
fanatismo religioso.
Debate – A "punição"
que Qaiser deu a si mesmo tomou proporções inimagináveis para ele, que segue
convicto de ter feito a coisa certa cortando sua mão.
Quando perguntado se sentiu dor ao amputá-la, ele disse que
não.
"Por que eu sentiria dor ou teria algum problema
cortando uma mão que foi levantada contra o santo profeta?!"
O incidente expõe a dificuldade de abordar o assunto ou
debater qualquer tema religioso no Paquistão, um país onde 97% dos 200 milhões
de habitantes são muçulmanos.
A blasfêmia é um tema bastante sensível no Paquistão, uma
república islâmica, onde até as acusações sem fundamento podem gerar violência
e linchamentos.
Segundo a repórter da BBC que acompanhou o caso, Iram
Abbasi, o episódio do garoto é inédito no país, já que o adolescente não se
considera uma vítima, e a família dele e vizinhos comemoraram sua
automutilação.
Lei antiblasfêmia –
Embora o governo tenha tomado medidas contra o extremismo religioso, muitas
pessoas seguem adotando um discurso de fanatismo e influenciando a opinião
pública para esse lado.
A Constituição define o Paquistão como uma república
islâmica e, em 1984, o então líder do país, General Zia ul-Haq, colocou no
Código Penal uma "lei antiblasfêmia" que inclui castigos de prisão
perpétua e pena de morte para quem insultar o islã.
Entre as ofensas estão "profanar o Alcorão" e
"difamar o profeta Maomé".
Em teoria, as leis foram estabelecidas para proteger os
costumes e tradições da sociedade muçulmana. Mas, na prática, elas têm servido
como uma brecha legal para justificar vinganças políticas e pessoais entre
muçulmanos.
Essas leis também costumam ser utilizadas contra as minorias
religiosas do país, como os cristãos e os hindus.
E mesmo as acusações feitas sem prova podem instigar a
violência e os linchamentos. Quando alguém é acusado de blasfêmia no Paquistão,
tanto sua família como sua comunidade são vulneráveis a ataques de grupos que
se sintam ofendidos por suposta ofensa religiosa.
Do outro lado, os críticos de vários países europeus têm
pedido ao governo paquistanês que intervenha, modificando as leis e castigando
os "instigadores" do discurso mais extremista – G1.
Portal Carlos Magno
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