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09/04/2014

Mais um artigo do professor Jônatas Frazão: "Cícero e Rômulo, cartas fora do baralho de Cássio"


As articulações do senador Cássio Cunha Lima para entabuar a candidatura do PSDB ao Governo do Estado nas eleições deste ano estão obrigando o tucano a se desfazer de dois grandes, históricos e tradicionais aliados políticos: Rômulo Gouveia e Cícero Lucena. E tudo isso em nome do fortalecimento da chapa, diante das dificuldades que enfrentará.

 

Cássio sabe que, nas eleições em que saiu vitorioso ao Governo do Estado, teve trabalho para vencer José Maranhão e Roberto Paulino. Mesmo, em uma delas, estando à frente do Palácio da Redenção e disputando a reeleição. Pior será agora, quando vai ter que enfrentar Ricardo Coutinho sentado na cadeira de governador e, ao mesmo tempo, a candidatura de Veneziano, o que levou a Paraíba a ter, pela primeira vez em sua recente história política, três fortes candidatos ao governo.

 

Outro fator é que Cássio, sem a garantia jurídica de que poderá ser mesmo candidato a governador, sabe que, ao sacar um substituto, dificulta ainda mais a vitória tucana. Mesmo que este substituto seja o irmão, Ronaldo Cunha Lima Filho, que num ato impensado e imaturo declarou à imprensa o que deveria ficar apenas entre eles: que não assumirá mais a Prefeitura de Campina Grande até a eleição, para não se tornar inelegível.


 

Para garantir o maior poderio político possível, Cássio precisava das vagas de senador e de vice na chapa do PSDB para negociar com os partidos. Absolutamente normal, claro. Com isso, o primeiro defenestrado foi o atual vice-governador Rômulo Gouveia, que vê o cavalo passar selado para levá-lo ao Senado e não quis, desta vez, abrir mão novamente de seu projeto pessoal. Declaração de Rômulo esta semana de que já renunciou demais em sua vida e que, agora, “arranjem outro para renunciar”, serviu para ilustrar o atual sentimento do gordinho.

 

A bola da vez agora é Cícero, que deve, também, sobrar na curva. Diferente de Rômulo, que é presidente de um partido político – o PSD – e tem, portanto, vida própria na negociação política, Cícero está a reboque de Cássio. A única coisa que ele pode fazer, neste momento, é o que fez: ir a público cobrar lealdade de Cássio.

 

Porém, a lealdade parece que não virá. Tanto que Cássio estreita as conversas com Wellington Roberto (PR) e Wilson Santiago (PTB) para compor a sua chapa, o que gerou a ira de Cícero: “Minha história política vale mais que 40 segundos de tempo de televisão”, afirmou ele em entrevista concedida em Campina Grande, referindo-se ao tempo que Cássio poderá auferir, com as negociações.

 

Mas Cícero poderia ser vice de Cássio? Não. Porque Cássio também está negociando a vice. E o indicado pode ser Ruy Carneiro. Isso mesmo. Cássio negocia até mesmo dentro do partido, para que Ruy abra mão de sua candidatura à reeleição para a Câmara dos Deputados, seja o vice do PSDB e disponibilize seus municípios para negociações com deputados que, para anunciar apoio, querem a garantia de uma reeleição bem pavimentada, a exemplo de Damião Feliciano, Efraim Filho, Leonardo Gadelha, e outros que estejam abertos a esse tipo de negociação.

 

Então Cícero poderia ser deputado federal, com a garantia de Cássio de se esforçar para a sua eleição. Também não. Como deputado federal, Cícero também atrapalharia esse jogo, pois retirar Ruy Carneiro da disputa pela Câmara e colocar Cícero, seria, para Cássio – e para os deputados que Cássio quer atrair – trocar seis por meia dúzia. Diante deste cenário, restaria ao ‘Caboclinho’ disputar a Assembleia Legislativa.

 

Aceitaria? Ou será que Cícero, que entrou na política pelas mãos de Ronaldo, sairia dela pelas mãos do filho do poeta?

 

Jônatas Frazão, especial para o Blog Carlos Magno