Durante um diálogo com o procurador Deltan Dallagnol, o
então juiz Sergio Moro disse ter sido procurado pelo apresentador Fausto Silva,
que o cumprimentou pelo trabalho da Lava-Jato e deu conselhos para melhorar as
falas dos investigadores.
A mensagem inédita faz parte do material analisado por VEJA
em parceria com o site The Intercept Brasil. No material que o Intercept diz
ter recebido de uma fonte anônima, há quase 1 milhão de mensagens, totalizando
um arquivo com mais de 30 000 páginas.
Só uma pequena parte havia sido divulgada até agora — e ela
foi suficiente para causar uma enorme polêmica. Em parceria com o site, VEJA
realizou o mais completo mergulho já feito nesse conteúdo. Foram analisadas
pela reportagem 649 551 mensagens. Palavra por palavra, as comunicações
examinadas pela equipe são verdadeiras e a apuração mostra que o caso é ainda
mais grave. Moro cometeu, sim, irregularidades.
Fora dos autos (e dentro do Telegram), o atual ministro
pediu à acusação que incluísse provas nos processos que chegariam depois às
suas mãos, mandou acelerar ou retardar operações e fez pressão para que
determinadas delações não andassem. Além disso, revelam os diálogos,
comportou-se como chefe do Ministério Público Federal, posição incompatível com
a neutralidade exigida de um magistrado. Na privacidade dos chats, Moro revisou
peças dos procuradores e até dava broncas neles.
De acordo com o relato feito por Moro a Dellagnol, Faustão
aproveitou a conversa para dar conselhos aos responsáveis pela investigação:
“Ele disse que vcs nas entrevistas ou nas coletivas precisam usar uma linguagem
mais simples. Para todo mundo entender”, escreveu o atual ministro da Justiça.
Consultado por VEJA, o apresentador confirmou o teor da conversa.
Nota da redação: procurados por VEJA, Deltan Dallagnol e
Sergio Moro não quiseram receber a reportagem. Ambos gostariam que os arquivos
fossem enviados a eles de forma virtual, mas, alegando compromissos de agenda,
recusaram-se a recebê-los pessoalmente, uma condição estabelecida por VEJA.
Mesmo sem saber o conteúdo das mensagens, a assessoria do Ministério da Justiça
enviou a seguinte nota: “A revista Veja se recusou a enviar previamente as
informações publicadas na reportagem, não sendo possível manifestação a
respeito do assunto tratado. Mesmo assim, cabe ressaltar que o ministro da
Justiça e Segurança Pública não reconhece a autenticidade de supostas mensagens
obtidas por meios criminosos, que podem ter sido adulteradas total ou
parcialmente e que configuram violação da privacidade de agentes da lei com o
objetivo de anular condenações criminais e impedir novas investigações. Reiterase
que o ministro sempre pautou sua atuação pela legalidade” – Veja.
Carlos Magno
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