A jovem de 19 anos que teve o rosto queimado por soda
cáustica, no Recife, registrou três boletins de ocorrência contra o ex-companheiro,
principal suspeito de provocar os ferimentos, segundo a Polícia Civil. Na noite
desta sexta-feira (5), a delegada Bruna Falcão informou que, em 19 dias, Mayara
Estefanny Araújo foi à polícia em três ocasiões para denunciar William César
dos Santos Júnior, que está sendo procurado. (Veja vídeo acima)
O crime ocorreu na noite de quinta-feira (4), no Alto do
Progresso, na Zona Norte do Recife. Horas depois, a polícia deteve dois
suspeitos de participar da agressão que deixou Mayara em estado gravíssimo. Ela
está internada no Hospital da Restauração (HR), no Centro do Recife.
Na noite desta sexta, a polícia informou que Paulo Henrique
Vieira dos Santos teve a prisão confirmada. Segundo testemunhas, ele segurou a
vítima para que o ex-companheiro da jovem jogasse o produto químico. Outro
homem detido foi liberado por não ter relação com o crime.
Paulo Henrique foi autuado em flagrante por lesão corporal
grave e resistência. Segundo a polícia, ele tem passagem pelo sistema criminal
e já chegou a ser monitorado com tornozeleira eletrônica.
Ainda de acordo com a polícia, ele vai passar a noite na
Delegacia da Mulher, em Santo Amaro. Na manhã de sábado (6), segue para a
audiência de custódia. A polícia pede ajuda para encontrar William. Quem tiver
informações deve ligar para o Disque-Denúncia, pelo telefone (81) 3421.9595 ou
(81) 3719.4545, este último disponível para o Agreste e interior.
Denúncias
A delegada informou que o primeiro boletim de ocorrência
contra o ex-companheiro foi registrado por Mayara no dia 13 de maio. O segundo,
em 23 do mesmo mês e o terceiro, no dia 1º de junho. Desde o primeiro registro,
a Polícia Civil conseguiu na Justiça a concessão de medidas protetivas contra
William.
A polícia justifica que elas só passaram a vigorar no dia 5
de junho porque o agressor não era encontrado para intimação. William tem
passagem pela polícia pelo crime de estelionato.
Segundo Bruna Falcão, a família disse que William se
escondia, justamente para não ser intimado. No dia 5 de junho, ele foi
finalmente informado de que não poderia mais se aproximar de Mayara, nem ligar
para o telefone dela ou frequentar sua casa.
"Depois disso, a primeira agressão que ocorreu foi a da
quinta-feira. Isso não deve ser um desestímulo para as mulheres vítimas de
violência, porque esse foi um ponto fora da curva”, diz a delegada Bruna
Falcão.
A delegada disse ainda que a polícia chegou ao suspeito de
ajudar na agressão a partir da prisão do outro homem, o que foi liberado. Bruna
Falcão afirmou que ele apontou que Paulo Henrique tinha relação com o caso.
"Ele veio espontaneamente e disse que não havia sido
ele, mas apontou que Paulo teria ajudado na agressão. Levantamos informações e
verificamos que o fato era verdadeiro. Foi aí que prendemos o segundo
suspeito", disse.
A delegada observou que Paulo negou o crime. "Ele disse
que tinha acompanhado William naquela noite, que os dois teriam ido fumar
maconha num terreno baldio e que, na sequência, William teria ido lá jogar o
produto e ele, Paulo, saiu correndo, assustado. Mas testemunhas dizem que foi
ele quem segurou Mayara”, declarou a policial.
A delegada disse ainda que familiares informaram que William
pretende se entregar à polícia. "Disseram que ele foi orientado
juridicamente a se apresentar na segunda-feira [8 de julho], para livrar o
flagrante", disse Bruna.
Motivação
Nesta sexta-feira (5), a Polícia Civil ouviu a família de
Mayara, dos suspeitos detidos e da mãe de William, que, segundo a delegada, se
apresentou à delegacia espontaneamente.
Segundo a delegada, Paulo Henrique informou à polícia que
Willian teria cometido o crime porque Mayara estaria impedindo o acesso do
ex-companheiro ao filho deles, de 2 anos. A informação foi negada pelas
testemunhas.
“A família informou que ela não restringia o acesso à
criança. A mãe dele esteve aqui e se emocionou muito durante a oitiva. Mesmo dolorida,
ela pediu que se faça justiça sobre esse caso”, afirma a delegada.
Revolta
Na localidade onde Mayara mora e foi agredida, o sentimento
de indignação é compartilhado por parentes e vizinhos.
Uma vizinha da vítima que preferiu não se identificar afirmou
ter visto o momento em que Mayara teve o rosto atingido por soda cáustica e que
sabia que a vítima vivia um relacionamento abusivo.
A irmã da vítima, uma adolescente de 17 anos, contou que
Mayara tinha um relacionamento difícil com William. Segundo a jovem, o homem
teria dito que, se a irmã dela não morresse agora, ele a mataria de todo jeito,
porque não aceitava a separação.
A agressão
O caso ocorreu na saída da casa onde Mayara mora com o filho
de 2 anos, no Alto do Progresso, Zona Norte do Recife. Ela, que trabalha como
atendente em uma rede de lanchonete, foi levada para a Unidade de Pronto
Atendimento (UPA) de Nova Descoberta antes de ser transferida para o Hospital
da Restauração. (Veja vídeo acima)
Segundo o HR, a jovem teve 35% do corpo queimado e, mesmo em
estado gravíssimo, está estável e respira com a ajuda de aparelhos. De acordo
com a irmã da vítima, o hospital informou à família que Mayara tem 90% de
chance de perder a visão dos dois olhos. A assessoria da unidade diz que há
possibilidade de cegueira devido ao contato com a soda cáustica.
Violência doméstica
De acordo com a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco,
os crimes de feminicídio, cometidos exclusivamente por questões de gênero,
apresentaram uma queda de 11,5% de janeiro a maio de 2019, quando houve 23
ocorrências, em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram
registrados 26 casos.
Os números de violência contra a mulher, no entanto,
apresentam aumento. Isso, segundo a SDS, reflete a alta na procura de
atendimento das vítimas das agressões. Entre janeiro e maio de 2019, foram
registradas 17.710 queixas de violência doméstica, 8% a mais do que as notificações
no mesmo período de 2018 – G1.
Carlos Magno
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