O The Intercept Brasil divulgou, neste domingo (21), um novo
lote de conversas privadas entre procuradores do Ministério Público Federal que
integram a série de reportagens Vaza Jato. Os diálogos inéditos revelam que o
chefe da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, sugeriu aos colegas que o
ministro da Justiça, Sérgio Moro, protegeria o senador Flávio Bolsonaro
(PSL-RJ) nas investigações sobre o caso Queiroz para não desagradar o
presidente e para garantir uma possível indicação para uma vaga no Supremo
Tribunal Federal (STF).
Nas conversas, que datam de janeiro deste ano, fica
explícita a percepção de Dallagnol de que o senador cometeu crime de corrupção
quando foi deputado estadual. O filho do presidente é investigado no Rio de
Janeiro por movimentações atípicas em sua conta e na de seu ex-assessor,
Fabrício Queiroz, e tudo indica que o parlamentar capitaneava um esquema
financeiro ilegal em seu gabinete.
“É óbvio o q aconteceu… E agora, José?”, escreveu Dallagnol
em um grupo de procuradores logo depois de compartilhar a notícia de que
Fabrício Queiroz havia feito um depósito de R$24 mil na conta da primeira-dama
Michelle Bolsonaro. “Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se
isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?”, escreveu.
“Agora, o quanto ele vai bancar a pauta Moro Anticorrupcao
se o filho dele vai sentir a pauta na pele?”, questionou o procurador.
Confira o diálogo:
Deltan Dallagnol –
00:56:50 –https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2018/12/07/bolsonaro-diz-que-ex-assessor-tinha-divida-com-ele-e-pagou-a-primeira-dama.htm
Dallagnol –
00:58:15 – [imagem não encontrada]
Dallagnol –
00:58:15 – [imagem não encontrada]
Dallagnol –
00:58:38 – COAF com Moro
Dallagnol –
00:58:40 – Aiaiai
Julio Noronha –
00:59:34 –
Dallagnol –
01:04:40 – [imagem não encontrada]
Januário Paludo –
07:01:20 – Isso lembr
Paludo – 07:01:48
– Lembra algo Deltan?
Paludo – 07:03:08
– Aiaiai
Jerusa Viecilli –
07:05:24 – Falo nada … Só observo
Dallagnol –
08:47:52 – Kkk
Dallagnol –
08:52:01 – É óbvio o q aconteceu… E agora, José?
Dallagnol –
08:53:37 – Moro deve aguardar a apuração e ver quem será implicado. Filho
certamente. O problema é: o pai vai deixar? Ou pior, e se o pai estiver
implicado, o que pode indicar o rolo dos empréstimos?
Dallagnol –
08:54:21 – Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo
acontecer antes de aparecer vaga no supremo?
Dallagnol –
08:58:11 – Agora, Bolso terá algum interesse em aparelhar a PGR, embora o
Flávio tenha foro no TJRJ. Última saída seria dar um ministério e blindar ele
na PGR. Pra isso, teria que achar um colega bem trampa
Athayde Ribeiro Costa
– 08:59:41 – É so copiar e colar a ultima denuncia do Geddel
Roberson Pozzobon
– 09:02:52 – Acho que Moro já devia contar com a possibilidade de que algo do
gênero acontecesse
Pozzobon –
09:03:19 – A questão é quanto ele estará disposto a ficar no cargo com isso ou
se mais disso vir
Dallagnol –
09:04:38 – Em entrevistas, certamente vão me perguntar sobre isso. Não vejo
como desviar da pergunta, mas posso ir até diferentes graus de profundidade. 1)
é algo que precisa ser investigado; 2) tem toda a cara de esquema de devolução
de parte dos salários como o da Aline Correa que denunciamos ou, pior até, de
fantasmas.
Dallagnol –
09:05:54 – Agora, o quanto ele vai bancar a pauta Moro Anticorrupcao se o filho
dele vai sentir a pauta na pele?
Andrey Borges de
Mendonça – 09:21:16 – Uma vez pedi no caso da custo brasil e o pt alegou q
era impenhorável segundo a lei eleitoral. O juiz acabou desbloqueando sem ouvir
a gente. Mas confesso q nao sei se procede.
Paludo – 09:37:52
– Tem que investigar. E isso que ele sempre diz. Na pior das hipóteses, Podem
ir os anéis (filho e mulher), mas ficam os dedos. Seria muito traumático o
general assumir no lugar dele.
Viecilli –
10:06:32 – [imagem não encontrada]
Viecilli –
10:06:51 –
Dallagnol –
10:22:31 – Rsrsrs
Dallagnol –
10:39:47 – [imagem não encontrada]
Dallagnol –
10:41:04 – [imagem não encontrada]
Antonio Carlos Welter
– 10:52:11 – O $$ termina na conta da esposa. Vao argumentar que alimentou a
campanha. Periga terminar em AIME
Além da suposta blindagem de Moro a Flávio Bolsonaro, as
novas conversas mostram que Dallagnol e outros procuradores se preocuparam com
eventuais entrevistas sobre outros casos de corrupção e sobre foro
privilegiado, pois os jornalistas poderiam relacionar com o caso Flávio/Queiroz.
“O silêncio no caso acho que é mais eloquente”, sugeriu o
procurador Roberson Pozzobon em um dos chats.
Sem bola dividida com
os Bolsonaros
No entanto, a situação constrangedora para os líderes da
Lava Jato – Sérgio Moro e Deltan Dallagnol – não iria embora apenas por eles se
esquivarem do assunto. “A situação de Moro – como investigar um caso de
corrupção envolvendo o filho do presidente que o indicou ao cargo, ou, ainda
corrupção envolvendo o próprio presidente e seus familiares? – levou Deltan a
considerar evitar entrevistas sobre foro privilegiado por temer perguntas sobre
o caso envolvendo Flávio”, lê-se na matéria do The Intercept Brasil.
Em 21 de janeiro desse ano, cerca de um mês depois das
denúncias sobre o caso Queiroz, Dallagnol informou a outros procuradores que
foi convidado ao programa Fantástico, da rede Globo, para uma entrevista sobre
a questão do foro privilegiado.
Em princípio, o procurador se animou com a ideia de falar
sobre o possível foco da matéria: denúncias envolvendo o deputado federal Paulo
Pimenta (PT-RS), mas hesitou em aceitar o convite por temer cair no assunto
Flávio Bolsonaro.
Os colegas da Lava Jato concordaram que a melhor opção era
rejeitar o convite do Fantástico para evitar o que chamaram de um “bola
dividida Flávio Bolsonaro”.
Dallagnol –
00:58:15 – Pessoal, temos um pedido de entrevsita do fantástico sobre foro
privilegiado. O caso central é bom, envolvendo o Paulo Pimenta, se isso for
verdade rs. O risco é eles decidirem no fim focar no Flávio Bolsonaro eusarem
nossas falas nesse outro contexto. De um modo ou de outro, o que temos pra
falar é a mesma coisa. Além disso, algumas informações que buscam não temos
(são da PGR). A questão é se é conveniente darmos entrevista para essa
reportagem ou não. Eu não vejo que tenhamos nada a ganhar porque a questão do
foro já tá definida. Diferente de uma matéria sobre prisão em segunda
instância…
Curiosamente, em 17 de janeiro desse ano, quatro dias antes
do convite do Fantástico, os assessores de imprensa de Dallagnol comentaram
sobre a firmeza no posicionamento de sobre o caso Deltan o que “reforça o
apartidarismo”. O mesmo assessor, no entanto, criticou a posição de Moro sobre
o caso: “saem contar que a fala de Moro sobre Queiroz foi muito ‘neutra’. não
teve firmeza, sabe? para muita gente, pareceu que Moro quis sair pela
tangente”.
Candidata à PGR
comenta o caso Flávio Bolsonaro/Queiroz
O escândalo Queiroz explodiu em 6 de dezembro de 2018. À
época, em um grupo de procuradores do MPF chamado Winter is Coming, a
subprocuradora-geral da República Luiza Frischeisen, ao enviar um link para uma
matéria do Jornal Nacional sobre o caso, comentou sobre o esquema de corrupção
e os prováveis próximos passos da investigação: “Pessoas da mesma família
empregá-la, depósito de parte dos salários de servidores em dias de pagamento,
outros depósitos, resta saber quem recebia os saques. Agora vem a quebra do
sigilo. Vamos aguardar a investigação geral do MPRJ quanto aos assessores”.
Atualmente, Frischeisen está na lista tríplice escolhida
pelos membros do MPF para substituir a procuradora-geral da República, Raquel
Dodge, cujo mandato se encerra em setembro.
Nenhum dos citados na nova matéria da Vaza Jato se
pronunciaram, até o momento, sobre os diálogos divulgados – Revista Fórum.
Carlos Magno
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