A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) realizou, na noite
desta terça-feira (30), um ato em solidariedade ao jornalista americano Glenn
Greenwald, do The Intercept Brasil. O site publicou diálogos atribuídos ao
ministro da Justiça, Sérgio Moro, e a procuradores da Lava Jato.
O evento, que reuniu centenas de pessoas dentro e fora da
ABI, no Centro do Rio, contou a presença de artistas, como os músicos Chico
Buarque e Teresa Cristina e os atores Camila Pitanga e Wagner Moura, entre
outros. O ato começou por volta das 18h30 e acabou por volta das 22h.
A ABI defende a integridade do jornalista e o direito ao
sigilo da fonte e ao livre exercício da profissão.
Em São Paulo, também houve ato em solidariedade ao
jornalista Glenn Greenwald e ao The Intercept Brasil. Manifestantes se reuniram
no vão do Museu de Arte Moderna (Masp), na Avenida Paulista. Depois, ocuparam a
faixa direita da via e caminharam no sentido Consolação. O ato também foi
organizado pela ABI.
Desde junho, Glenn tem publicado os diálogos atribuídos às
autoridades ligadas à Operação Lava Jato. As conversas teriam ocorrido por meio
do aplicativo Telegram.
Na semana passada, a Polícia Federal prendeu quatro pessoas
suspeitas de terem invadido o celular de Moro e outras autoridades. Um dos
presos, Walter Delgatti, disse em depoimento que ele é a fonte que repassou os
diálogos para Glenn. O site não revelou a fonte nem como obteve os registros
das conversas.
Nesta terça, o presidente Jair Bolsonaro disse que considera
que Glenn cometeu um crime.
"No meu entender, ele [Glenn] cometeu um crime. Em
qualquer outro país, ele estaria já em uma outra situação. Espere que a Polícia
Federal chegue realmente, ligue os pontos todos”, disse Bolsonaro.
Delgatti afirmou à PF que não recebeu dinheiro em troca dos
diálogos. Também disse que se comunicou com o jornalista de maneira virtual,
sem revelar a identidade.
Para o presidente, o caso envolve "transações
pecuniárias" e o objetivo teria sido “atingir” a Lava Jato, Moro e ele
próprio.
“No meu entender, isso teve transações. No meu entender,
transações pecuniárias e, pelo que tudo indica, a intenção é sempre atingir, no
caso aí, atingir a Lava Jato, atingir o Sérgio Moro, atingir a minha pessoa,
tentar desqualificar, desgastar”, afirmou o presidente.
Para o presidente, jornalistas não podem se “escudar” no
sigilo da fonte para divulgar informações de “origem criminosa”.
“Invasão de telefone é crime e ponto final. Não tem o que
discutir isso daí. Não pode se escudar, 'sou jornalista'. Jornalista tem que
fazer seu trabalho. Preservar o sigilo da fonte, tudo bem. Agora, uma origem
criminosa, o cara quer preservar um crime, invadindo a República, desgastar o
nome do Brasil", concluiu Bolsonaro.
O artigo 5º da Constituição Federal, que trata dos direitos
e deveres do cidadão, estabelece que "é assegurado a todos o acesso à
informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício
profissional".
Em uma rede social, Greenwald escreveu nesta segunda-feira
uma mensagem em que cita incisos do artigo 5º e diz que alguém poderia
"mostrar ao presidente Jair Bolsonaro o que a Constituição garante".
"Acho que seria útil", completou o jornalista.
No fim de semana, Bolsonaro já havia afirmado que
"talvez" Glenn seja preso. A declaração gerou reação de associações
ligadas ao jornalismo – G1.
Carlos Magno
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