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07/08/2019

Polícia Federal investiga suspeito de se passar por agente e aplicar golpes em pelo menos 10 mulheres, em quatro estados


A Polícia Federal do Rio Grande do Sul investiga um homem, de 38 anos, suspeito de se passar por agente da PF e aplicar golpes em quatro estados. Daniel Lopes da Silveira foi preso preventivamente há duas semanas em um shopping de São Paulo, e depois levado a Porto Alegre, onde segue na Cadeia Pública. A defesa disse que irá protocolar um pedido de liberdade.

 

De acordo com a polícia, o homem, natural de Novo Hamburgo, na Região Metropolitana de Porto Alegre, enganava principalmente mulheres para obter dinheiro. Ele se aproximava das vítimas via redes sociais, se apresentava como policial federal e mantinha relacionamentos afetivos com elas.

 

Para sustentar a farsa, desde 2015 o homem postava fotos em um perfil nas redes sociais vestindo uniforme da PF e segurando uma arma.



 

"A partir daí, criava histórias de que precisava de dinheiro para liberar mercadorias apreendidas antes que fossem a leilão, oferecia visto, alegava que tinha um imóvel muito caro, que precisava pagar taxa, e que tinha tido o salário suspenso", lista o delegado federal João Rocha, que investiga o caso.

 

Vítimas também relataram à polícia que o homem buscava bons hotéis em outros estados e utilizava o cartão de crédito delas. Em troca de dinheiro, prometia ainda vantagens às companheiras, parentes e amigos delas. O falso agente oferecia vistos norte-americanos, passaportes e mercadorias apreendidas por valores abaixo do mercado.

 

Ele recebia o dinheiro, mas as promessas não eram cumpridas. Nesse momento, segundo a polícia, se tornava agressivo e partia para ameaças. Por vezes, o relacionamento acabava, sem que ele cumprisse o prometido. Em outros casos, ele simplesmente desaparecia.

 

Daniel prestou depoimento à Polícia Federal e, segundo o delegado, assumiu os atos.

 

"No primeiro momento, ele negou, mas, diante do volume de provas, admitiu que realmente se passava por um policial federal. Disse que enganava elas com o objetivo de obter vantagem financeira", relata João Rocha.

 

Na residência dele, na Região Metropolitana de Porto Alegre, foram apreendidos alguns itens, entre eles, um uniforme não-oficial da Polícia Federal e uma arma de pressão, que imitava uma arma de verdade.

 

'Éramos um casal normal'

 

O G1 conversou com uma das vítimas, que preferiu ter a sua identidade preservada. A mulher relatou que conheceu Daniel pelo Facebook no início de 2017 e que, logo após o primeiro encontro, já foi apresentada à família dele.

 

O rapaz, que vivia com a mãe, contou que estava afastado temporariamente da PF por questões administrativas, mas que, em breve, iria retornar ao trabalho. Não demorou muito para que pedisse para morar com ela.

 

Em fevereiro de 2017, o homem se mudou para a casa da vítima, em Novo Hamburgo, onde ficou até outubro de 2018.

 

"Nós éramos um casal normal. Ele veio morar comigo, conheceu meu filho, minha mãe", conta a mulher.

 

"Começava muito bem, com flores, elogiando. Depois da conversa, dessa lábia, ele conseguia te manipular", lembra.

 

O primeiro episódio que ela considerou estranho aconteceu em junho de 2017. De acordo com a mulher, Daniel disse que iria viajar em uma sexta-feira para uma operação da Polícia Federal em São Paulo e voltaria no domingo. A viagem não foi marcada com antecedência, ele a avisou um dia antes.

 

"Só que nesse mesmo final de semana, uma amiga minha encontrou ele no Morro da Borússia [Osório, Rio Grande do do Sul]. Ela relatou que viu ele com outra mulher. Só que ele não conhecia ela. Ela conhecia ele por fotos. Ela fez fotos e vídeos dele de mãos dadas com outra mulher", relata a vítima.

 

Questionado, o homem teria enviado fotos da operação, áudios com barulho de helicóptero e negado a visita ao local durante o fim de semana.

 

A mulher conta que essa foi só uma das mentiras inventadas pelo ex-companheiro. Enquanto se relacionava com outras mulheres, ele pedia dinheiro emprestado para ela, para a mãe dela, para amigos, utilizava seu cartão de crédito e sempre dizia que estava aguardando o recebimento do salário da PF. Problema na conta bancária era uma das justificativas para a demora.

 

"Às vezes, ele aparecia com um pouco de dinheiro em casa, mas eu não sabia de onde vinha. Vinha de outras mulheres", afirma.

 

"Ele gostava muito de ostentar, ir para Gramado, tomar espumante, viajar... Eu tinha um carro popular, e ele me fez pegar um carro de R$ 100 mil para manter a pose de policial federal", conta.

 

Os empréstimos nunca foram pagos. Conforme a mulher, em determinada manhã, ele simplesmente saiu para trabalhar, uniformizado, disse que voltaria à noite e nunca mais apareceu.

 

Após sofrer ameaças, ela decidiu se mudar para outro município. Hoje, a funcionária pública está afastada do trabalho por depressão.

 

"Eu estou no SPC, pagando dívidas dele até hoje, estou praticamente falida. Antes dele, tinha uma vida normal, tranquila. E assim ele fez com as outras também. Existem vários 'Danieis' por aí", alerta a mulher.

 

Pelo menos 10 vítimas identificadas

 

A investigação iniciou em março deste ano a partir de uma denúncia sobre a atuação do suspeito. Os golpes, segundo a polícia, foram aplicados no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Paraná e em São Paulo.

 

O delegado diz que o suspeito chegava a manter mais de um relacionamento ao mesmo tempo com mulheres de estados diferentes. Ele se dizia de um grupo tático da PF que precisava viajar para operações.

 

"Tinha relacionamento com uma vítima de São Paulo e dizia para a vítima do Rio Grande do Sul que estava viajando a serviço", afirma João Rocha.

 

Conforme a PF, pelo menos 10 vítimas já foram identificadas, cada uma com prejuízos que variam de R$ 15 mil a R$ 30 mil. Outras duas mulheres serão ouvidas nesta semana.

 

Algumas mantiveram o relacionamento com o homem por meses, outras por anos. "A pessoa não queria acreditar ou não achava que pudesse ser possível", justifica o delegado.

 

O telefone e um notebook do suspeito também serão periciados antes da conclusão do inquérito. Conforme o delegado, ele deve responder por estelionato, ameaça e uso de símbolo público.

 

A Polícia Federal reforça que mulheres que tenham sido enganadas devem procurar a unidade da polícia mais próxima para fazer uma denúncia.

 

O que diz a defesa

 

Ao G1, a advogada que representa Daniel disse que pediu a soltura do seu cliente, mas diante de parecer contrário do Ministério Público, a Justiça decidiu por mantê-lo preso.

 

"Agora, vamos entrar com um habeas corpus. Ele está colaborando com as investigações", garante a advogada Josiane Leal Schambeck.

 

A defesa do suspeito requer que o caso seja tratado na esfera cível e não na esfera criminal.

 

"Na verdade, ele pediu empréstimos para algumas pessoas que ele teve relacionamento. No que tange à questão de policial federal, ele não chegava se apresentando como um policial federal, durante as conversas, quando alguém perguntava, ele afirmava que era", ressalta a advogada.

 

Sobre os materiais apreendidos na residência dele e fotos em sites de redes sociais, a defesa alega que os artigos eram "de cunho fantasioso dele, nada que fosse usado para algum fim ilícito" – G1.

 

Carlos Magno

 

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