Um ano depois de fazer uma declaração pública de amor
"hétero" ao então candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL-RJ),
durante a convenção que sacramentou a candidatura do capitão, o
ex-secretário-geral da Presidência Gustavo Bebianno acusa o presidente de ser
"cara de pau" em sua decisão de indicar o filho, o deputado federal
Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para chefiar a Embaixada do Brasil nos EUA.
"Eduardo, coitado, ele não tem a menor condição. Ele
sequer sabe o papel de um embaixador. Ele não tem ideia. Eu convivi de perto
com o Eduardo, ele não tem noções básicas de negociação, é um garoto, um
menino, um surfista que teve um mandato por causa do pai, depois surfou de novo
a onda do pai, na conquista do segundo mandato, mas é um rapaz completamente
inexperiente. O nível acadêmico dele é bem iniciante, ele não tem
condições", diz Bebianno à BBC News Brasil.
Demitido por Bolsonaro em fevereiro, Bebianno vive seus
últimos dias de quarentena do cargo público e pretende voltar a advogar em
breve. Esse, no entanto, não é seu plano de longo prazo. Bebianno flerta com a
possibilidade de se lançar candidato à prefeitura do Rio de Janeiro em 2020.
Ele afirma ter tido convites para integrar diversos partidos, mas não revela
quais.
"Há conversas em curso, mas eu tenho muito cuidado
porque eu tinha abraçado com muita veemência a bandeira (Bolsonaro) na última
eleição. Não me sinto hoje confortável pra me vincular a ninguém", diz.
Seu esforço maior tem sido o de se desvencilhar das ligações
com Bolsonaro e das acusações de corrupção que surgiram após a eleição. Em
fevereiro, a Polícia Federal abriu investigação para apurar possíveis desvios
de dinheiro do fundo eleitoral e partidário.
De acordo com as denúncias, o PSL teria lançado
candidaturas-laranja de mulheres em diversos estados, atribuído valores altos
de repasses a essas pessoas a título de custeio de campanha, sem que elas
tivessem de fato feito campanha. Como Bebianno era o presidente do partido,
cabia a ele direcionar os recursos.
Bebianno nega qualquer irregularidade e diz ter liberado
recursos de acordo com o pedido dos dirigentes estaduais do partido. Admite
apenas que era um "faz tudo" da campanha de Bolsonaro. Além disso,
afirma que só assumiu a presidência da sigla porque ninguém mais no entorno do
então candidato se habilitou a fazê-lo.
"Me desliguei do PSL, renunciei ao cargo de
vice-presidente e me desfiliei, não tenho vínculo nenhum com o PSL", diz.
A demissão de Bebianno aconteceu em meio à denúncia de
corrupção, que desaguou em uma desavença pública com Carlos, um dos filhos do
presidente. Carlos acusou Bebianno de ter mentido ao dizer que havia conversado
com Bolsonaro a respeito da crise dos laranjas do PSL.
O presidente endossou o filho. Áudios divulgados pela
revista Veja comprovam que diálogos entre o presidente e Bebianno existiram.
Bebianno acabou demitido.
"O que eu observo é isso, várias pessoas, puxa-sacos,
que não fizeram nada ou fizeram muito pouco ao longo da campanha, tomaram conta
ali e hoje o presidente é cercado por essas pessoas. O rei não tem quem lhe
avise que ele está quase nu. Acho muito ruim para o presidente, ele não está lá
para roubar, não é um objetivo dele, mas deixou-se seduzir pelo poder, tanto
assim que a promessa de campanha de não buscar a reeleição, ele já até
antecipou a campanha de 2022", diz Bebianno, que não poupa críticas à
atual gestão, que ele passou ao menos dois anos dedicado a promover.
"Deveria haver muito mais conversa (entre os grupos da
direita), você tem lideranças importantes como o Flávio Rocha, o próprio (João)
Doria, todos se afastando. Ninguém mais quer muita conversa (com Bolsonaro),
por conta de posições muito radicais. Então, era um erro o Brasil do PT e acho
que hoje a gente começa a ver um erro do Brasil bolsonarista", diz – BBC News.
Carlos Magno
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