Procuradores da Lava Jato vazaram informações à imprensa
para manipular investigações e pressionar suspeitos a fazerem acordos de
delação premiada. É o que mostram novas conversas divulgadas pelo The Intercept
nesta 5ª feira (29.ago) em reportagem do Vaza Jato.
Dentre os membros da força-tarefa que compartilharam
informações privilegiadas com jornalistas está o coordenador da investigação em
Curitiba, procurador Deltan Dallagnol. Um dos exemplos citados foi em 21 de
junho de 2015, quando ele antecipou a 1 jornalista do Estadão, em chat privado
no Telegram, que os Estados Unidos iriam ajudar a investigar Bernardo
Freiburghaus, apontado como operador de propinas da Odebrecht (o Poder360
reproduz os trechos de mensagens como foram publicados pelo The Intercept, sem
correção de eventuais erros gramaticais).
Deltan Dallagnol – O
operador da Odebrecht era o Bernardo, que está na Suíça. Os EUA atuarão a nosso
pedido, porque as transações passaram pelos EUA. Já até fizemos 1 pedido de
cooperação pros EUA relacionado aos depósitos recebidos por PRC. Isso é
novidade. Vc tem interesse de publicar isso hoje ou amanhã, mantendo meu nome
em off? Pode falar fonte no MPF. Na coletiva, o Igor disse que há difusão
vermelha para prendê-lo, e há mesmo. Pode ser preso em qualquer lugar do mundo.
Agora com os EUA em ação, o que é novidade, vamos ver se conseguimos fazer como
caso FIFA com o Bernardo, o que nos inspirou.
Jornalista – Putz
sensacional!!!!! Publico hj!!!!!!!
Em seguida, Dallagnol disse, em grupo intitulado FT MPF
Curitiba 2: “Amanhã cooperação com EUA pro Bernardo é manchete do Estadão.
Confirmado”.
No dia seguinte, após a publicação da matéria, Dallagnol
falou novamente no grupo, dessa vez traçando planos para a investigação: “Acho
que temos que aditar para bloquear os bens dele na Suíça. Conta, imóvel e
outros ativos. Ir lá e dizer que ele perderá tudo. Colocar ele de joelhos e
oferecer redenção. Não tem como ele não pegar”, disse.
Em outra conversa neste grupo do Telegram, e, 21 de junho, o
procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, atualmente aposentado,
afirma que faz vazamentos objetivando “sempre fazer com que pensem que as
investigações são inevitáveis e incentivar a colaboração”. De acordo com o The
Intercept, nenhum procurador contestou esta declaração, dando a entender que os
vazamentos eram constantes e normais.
O diálogo aconteceu 2 dias após a deflagração da 14ª fase da
Lava Jato, voltada às empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, e os
procuradores discutiam formas de conseguir delação de Bernardo Freiburghaus. As
pressões não funcionaram, e o empresário não delatou.
Outra conversa, essa de 12 de dezembro de 2016, mostra
procuradores preocupados com uma suposta articulação do STF (Supremo Tribunal
Federal) para tirar o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, da
prisão.
Diante do quadro, Santos Lima questiona se há “alguma
chance” de os procuradores vazarem “notícia da Gol”. Athayde Ribeiro Costa,
procurador da República no Paraná, responde: “Vazamento seletivo”.
O outro lado
Dallagnol já negou que integrantes da força-tarefa da Lava
Jato fizessem vazamentos à imprensa. Em entrevista à BBC em 2017, ele disse que
“nos casos em que apenas os agentes públicos tinham acesso aos dados, as
informações não vazaram”, atribuindo os vazamentos às partes investigadas.
Em nota enviada ao The Intercept, a assessoria da Lava Jato
negou que o diálogo de Dallagnol com jornalista do Estadão não pode ser
considerado vazamento porque as informações passadas não eram ilegais nem
violavam ordem judicial.
“O único caso mencionado na consulta à força-tarefa se
refere a uma reportagem do Estadão que combinava dados disponíveis em processos
públicos e uma informação nova, igualmente sem sigilo, sobre possíveis
estratégias que se cogitavam adotar no futuro, em relação à formulação de
pedido de cooperação a ser enviado, o que não caracteriza vazamento”, diz a
nota.
Vaza Jato
As conversas atribuídas aos integrantes da força-tarefa da
Lava Jato foram obtidas por uma fonte do site The Intercept. O caso ficou
conhecido como Vaza Jato. Os procuradores contestam a autenticidade das
mensagens, mas não indicam os trechos que seriam verdadeiros e falsos –
Poder360.
Carlos Magno
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