Contar os dias e as horas é percepção e necessidade dos
humanos. Sentir que a vida humana e seus acontecimentos estão imersos no ritmo
do tempo que por si mesmo faz algumas coisas permanecerem e outras
transformarem-se. Na história do Ocidente cristão, nossas vilas e cidades foram
notadamente marcadas pela presença dos relógios públicos; em geral, de
iniciativa da Igreja Católica em seus organismos diversos, como os mosteiros,
as matrizes, os colégios. Hora do
trabalho, hora da oração, hora do lazer, hora do descanso.
Com o advento da Modernidade, os velhos relógios foram bem
utilizados no processo de desenvolvimento e expansão das cidades, uma vez que
se tornou imperativo a racional utilização do tempo para os ditames do
progresso e da produtividade. Sem relógios visíveis e bem regulados o mundo
padeceria no atraso, conforme a concepção da eficiência e do trabalho.
Assim deu-se a chegada do relógio da Matriz em Campina
Grande. A Igreja Matriz, totalmente reconstruída a partir de 1887 pelo engenho
do Monsenhor Sales, carecia desse equipamento e valor bem no alto de sua
imponente torre.
No ano de 1891, a crise política na recente república
brasileira destituiu os Conselhos de Intendência nos municípios. Em Campina
Grande, os intendentes Cristiano Lauritzen, Belmiro Barbosa Ribeiro e Ildefonso
de Brito Souto Maior, decidiram empregar o saldo sob sua administração numa obra
de interesse público.
A doação tinha um fim especifico: aquisição na Europa de um
relógio moderno com mostradores e provido de carrilhão, o qual deveria ser
colocado na torre esquerda da igreja, direcionado para a parte sul da cidade
com maior habitação e residências.
Dessa maneira, o Vigário Sales encomendou o relógio na
Alemanha e intensificou as obras de levantamento das torres, que somente
ficaram concluídas, como as vemos hoje, em meados de 1896. A inauguração do
relógio aconteceu em 16 de agosto, trazendo a população campinense ao largo da
Matriz, onde curiosa, ouvia atentamente o girar dos ponteiros e as primeiras
pancadas.
O citado relógio trabalhou durante décadas, sendo o
principal orientador dos moradores da cidade.
Por ele foram regulados os relógios particulares, de bolso e
de parede, e por ele se guiaram os mais humildes do povo. Os que não tinham
relógio, para evitar o inconveniente de atrasar os mais apressados para seus
afazeres e negócios, perguntando-lhes a hora, recorreram ao relógio da Matriz,
sinal de que os homens todos são provisórios por mais nobres que pareçam suas
múltiplas atividades.
Elpídio de Almeida, na obra História de Campina Grande
(1962) observou a sua paralisação num dado instante e sugeriu que por ocasião
do centenário da cidade, este instrumento que tanto servira aos campinenses
jamais poderia ficar abandonado, esquecido ou inútil. Embora já dispensável os
seus serviços, tratava-se muito mais de um símbolo, permanência de um
significado. Diz-nos o mesmo autor, que das “raras relíquias vindas do século
XIX, sobreviveu o relógio”.
Para celebrar os 250 anos da Igreja Matriz, o relógio não
pode e não deve deixar de contar o tempo. Precisamente agora, momento este que
nos lembrará das sagradas horas do dia oito de dezembro, solenidade da
Imaculada Conceição, ocasião em que ritualmente faremos memória deste marco
fundacional de nossa cidade.
Padre Luciano Guedes é Pároco da
Catedral de Nossa Senhora da Conceição e Vigário Geral da Diocese de Campina
Grande
Carlos Magno
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