A produção industrial brasileira caiu 0,3% em julho, na
comparação com junho, segundo divulgou nesta terça-feira (3) o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da terceira queda mensal
seguida e do pior resultado para meses de julho desde 2015 (-1,8%) na série com
ajuste sazonal.
Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a queda foi
ainda maior, de 2,5%.
Tanto na comparação mensal quanto na anual os números de
julho vieram piores que as previsões do mercado. Analistas consultados pela
Reuters projetavam alta de 0,3% sobre o mês anterior e queda de 1,3% na base
anual.
No acumulado no ano, o tombo chega a 1,7%. Em 12 meses, a
produção industrial mostra uma perda ainda maior de ritmo, ao passar de -0,8%
em junho para -1,3% em julho, permanecendo em trajetória descendente iniciada
em julho do ano passado.
Com o resultado de julho, a produção industrial no Brasil
segue no nível de janeiro de 2009 – 18,3% abaixo do pico mais alto do
indicador, registrado em maio de 2011. “Se lembrarmos o final de 2008, muito
marcado pela crise internacional, a indústria brasileira estava em um patamar
muito baixo de produção. Com esse resultado de julho, a gente retroage àquele
contexto”, destacou o gerente da pesquisa, André Macedo.
15 dos 26 ramos
pesquisados registraram crescimento
Segundo o IBGE, 11 dos 26 ramos pesquisados mostraram quedas
na produção, ante um recuo em 17 setores no mês anterior, indicando uma queda
mais concentrada em julho. Ou seja, a maioria dos setores registrou
crescimento.
"O que há de diferente deste resultado de julho em
relação às quedas de maio e junho é o fato de que o recuo desse mês ficou mais
concentrado, com um número maior de atividades crescendo na margem",
apontou o gerente da pesquisa.
As principais quedas em julho foram em produtos químicos
(-2,6%), bebidas (-4,0%) e produtos alimentícios (-1,0%). Juntos, estes 3
segmentos representam cerca de 22% de toda a produção industrial.
"No caso de alimentos, é a terceira queda seguida e
isso guarda uma relação com a parte relacionada ao açúcar, cuja produção tem
sido direcionada mais para a produção de etanol, por exemplo, e isso traz
impactos negativos para o setor de alimentos", explicou o pesquisador.
Já as maiores altas foram das atividades de manutenção,
reparação e instalação de máquinas (8,4%), produtos do fumo (6,9%), produtor
farmoquímicos e farmacêuticos (6,5%) e perfumaria e produtos de limpeza (6,3%).
No quadro por grandes categorias econômicas, somente bens
intermediários apresentaram queda, tanto na comparação com julho de 2018
(-5,4%), quanto no acumulado no ano (-3%), pressionada principalmente pela
indústria extrativa.
Por outro lado, os setores produtores de bens de consumo
semi e não-duráveis (1,4%) e de bens de consumo duráveis (0,5%) registraram
altas em junho, eliminando parte das perdas acumuladas nos meses de maio e junho.
No acumulado no ano, 14 dos 26 ramos, 43 dos 79 grupos e
53,3% dos 805 produtos pesquisados acumulam quedas.
Entre as atividades, indústrias extrativas (-12,1%)
permanecem como a maior influência negativa em 2019, ainda como reflexo da
tragédia de Brumadinho (MG) na produção de minério de ferro da Vale. Os outras
quedas mais significativas foram nos ramos de coque, produtos derivados do
petróleo e biocombustíveis (-1,4%), de manutenção, reparação e instalação de
máquinas e equipamentos (-9,8%), de outros equipamentos de transporte (-11,4%),
de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-4,7%), de
celulose, papel e produtos de papel (-2,5%), de produtos de borracha e de
material plástico (-1,9%) e de produtos de madeira (-5,5%).
Perspectivas
A produção industrial no ano tem sido afetada pelo ritmo
mais fraco de recuperação da economia, pela queda das exportações para a
Argentina e pelos reflexos da tragédia de Brumadinho (MG).
O Produto Interno Bruto (PIB) da indústria registrou alta de
0,7% no 2º trimestre, depois de dois trimestres consecutivos de queda,
sustentado principalmente pela reação da construção civil e da indústria de
transformação. Apesar do setor ter conseguido sair da recessão técnica, a piora
no cenário externo ainda traz incertezas para o segundo semestre, em meio à
recessão da Argentina, acirramento da guerra comercial entre China e Estados
Unidos e temores de uma nova recessão global.
“De uma forma geral, os fatores que vem explicando os
fatores da menor intensidade da produção industrial, especialmente desde o
início do segundo semestre de 2018, permanecem na nossa análise. Isso passa por
uma demanda doméstica que prossegue enfraquecida, com o mercado de trabalho com
contingente fora dele, nível de incerteza ainda elevado o que faz com que
famílias e empresas adiem suas decisões de consumo e investimento, além do
mercado externo sem nenhum sinal de recuperação recente no caso de parceiros
importantes, como a Argentina, por exemplo”, destacou Macedo.
Os economistas das instituições financeiras projetam um
cenário de estagnação para a produção industrial no ano, de alta de 0,08%,
segundo pesquisa Focus do Banco Central. Para o resultado do PIB de 2019 do
Brasil, a previsão atual do mercado é de uma alta de 0,87% - G1.
Carlos Magno
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