O procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Antônio
Sérgio Tonet, disse que o Ministério Público do estado recebeu dez queixas
contra o procurador Leonardo Azeredo dos Santos entre segunda-feira (9) e
quarta-feira (11). Azeredo ficou conhecido por chamar seu salário de R$ 24 mil
de “miserê”.
O caso foi divulgado segunda-feira (9). Em uma reunião
extraordinária do colegiado que discutia o Orçamento da instituição para 2020,
o procurador foi gravado reclamando da possibilidade da falta de aumento para a
categoria dele no próximo ano.
“Como é que o cara vai viver com R$ 24 mil? O que de fato
nós vamos fazer para melhorar a nossa remuneração? Ou nós vamos ficar quietos?,
disse na reunião.
De acordo com Tonet, essas queixas serão usadas pela
Corregedoria-Geral do Ministério Público, que é o órgão responsável pela
apuração de possíveis irregularidades ou desvios de conduta por parte de
membros da instituição.
Nesta quarta-feira (11), pelo segundo dia consecutivo, o
procurador Leonardo Azeredo dos Santos não apareceu para trabalhar. Ele
apresentou um pedido de licença médica.
O procurador Leonardo Azeredo foi procurado pelo G1 e pela
TV Globo, mas não quis se posicionar sobre o assunto.
Procurador do
‘miserê’
“Estou deixando de gastar R$ 20 mil de cartão de crédito e
estou gastando R$ 8 mil. Pra poder viver com os R$ 24 mil. Eu e vários outros
já estamos vivendo à base de comprimido, à base de antidepressivo. Estou
falando assim com dois comprimidos de sertralina por dia, e ainda estou falando
deste jeito. Se não tomasse, ia ser pior do que Ronaldinho”, afirmou em tom
exaltado.
O “desabafo” foi feito após o procurador-geral de Justiça
informar que, caso o estado assine o acordo de recuperação fiscal com o governo
federal, não será concedido qualquer reajuste salarial, mesmo que haja aumento
dos vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
O governo de Minas Gerais enfrenta uma das mais graves
crises fiscais de sua história e tem pago, de forma parcelada desde 2016, os
salários dos servidores do Poder Executivo.
Levantamento feito no Portal da Transparência mostra que
Leonardo Azeredo recebe remuneração bruta de R$ 35.462,22. Com descontos, o
valor vai para cerca de R$ 24 mil líquidos. Mas, nos sete primeiros meses deste
ano, indenizações e outras remunerações "engordaram" o contracheque
do procurador.
Em média, ele recebeu R$ 60 mil líquidos por mês em 2019 -
já o salário bruto mensal neste ano foi de R$ 80.398,42. Junho foi o mês em que
o procurador recebeu maior vencimento, de R$ 50.104,64 líquidos. Somaram-se a
este valor R$ 28.513 de indenizações e outras remunerações. O valor final
recebido foi de R$ 78.617,66.
Já janeiro, foi o mês em que as indenizações e outras
remunerações foram mais expressivas. Leonardo Azeredo recebeu R$ 64.011,8 de
"extras". Somando-se estes valores ao salário, o total recebido foi
de R$ 87.815,30.
Considerando o valor bruto, o total em janeiro e em junho
chegou a quase R$ 100 mil.
O Ministério Público não considera estas verbas extras para
efeito de vencimento dos membros, que são os promotores e procuradores de
justiça. Segundo o MP, estes valores referem-se a pagamentos de verbas
atrasadas, assistência saúde mediante comprovação de valores gastos (limitada a
10% do valor do subsídio), auxílio-alimentação e indenização de férias
acumuladas e não usufruídas em razão da necessidade de serviço, tendo em vista
o déficit de promotores de Justiça no estado.
Estas verbas indenizatórias e outros
"penduricalhos" que aumentam os salários de juízes, desembargadores,
promotores e procuradores são praxe no Tribunal de Justiça de Minas Gerais e no
Ministério Público de Minas Gerais.
De acordo com a Constituição Federal, membros do Judiciário
e do MP devem receber, no máximo, 90,2% do subsídio dos ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF). Entretanto, a lei permite que o valor seja extrapolado
no caso de inclusão de verbas indenizatórias – G1.
Carlos Magno
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