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24/09/2019

“É falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade”, diz Bolsonaro, ao acusar líderes estrangeiros em discurso na ONU


O presidente Jair Bolsonaro afirmou na manhã desta terça-feira (24) durante discurso de abertura na 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York (EUA), que tem "compromisso solene" com a preservação do meio ambiente e acusou líderes estrangeiros de ataque à soberania do Brasil.

 

Tradicionalmente, desde 1949, cabe ao representante do Brasil abrir o debate geral da assembleia das Nações Unidas. Foi o primeiro pronunciamento de Bolsonaro como chefe de Estado no encontro.

 

"É uma falácia dizer que a Amazônia é um patrimônio da humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que a Amazônia, a nossa floresta, é o pulmão do mundo. Valendo-se dessas falácias um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa e com espírito colonialista. Questionaram aquilo que nos é mais sagrado, a nossa soberania", disse Bolsonaro.



 

Bolsonaro afirmou, ainda, que tem "compromisso solene" com a proteção da Amazônia. Disse que a Amazônia é maior do que toda a Europa ocidental e "permanece praticamente intocada", o que seria prova, segundo o presidente, de que o Brasil é "um dos países que mais protegem o meio ambiente".

 

"Em primeiro lugar, meu governo tem o compromisso solene com a preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável em benefício do Brasil", declarou o presidente.

 

O discurso do presidente tem o contexto da crise provocada, em agosto, pela alta das queimadas na floresta amazônica.

 

Bolsonaro trocou farpas com o presidente da França, Emmanuel Macron, que deixou em aberto a discussão sobre um possível status internacional na Amazônia.

 

Com a fala desta terça, Bolsonaro é o oitavo presidente brasileiro a abrir os debates. O primeiro chefe de Estado do país a discursar no encontro foi João Figueiredo, em 1982. Desde então, apenas Itamar Franco não se pronunciou ao menos uma vez na assembleia geral.

 

'Mentalidade colonialista'

 

O presidente afirmou na ONU que seu governo tem política de "tolerância zero" com a criminalidade, o que inclui crime ambientais. Bolsonaro ressaltou que a Amazônia não é consumida pelo fogo.

 

"Ela [Amazônia] não está sendo devastada e nem consumida pelo fogo, como diz mentirosamente a mídia. Cada um de vocês pode comprovar o que estou falando agora", declarou.

 

Segundo Bolsonaro, o Brasil tem 61% do território preservado e utiliza 8% das terras para produzir alimentos, enquanto França e Alemanha, conforme ele, usam 50% de suas terras.

 

Bolsonaro ainda afirmou que a ONU "não pode aceitar" o retorno do que considera uma "mentalidade" colonialista e declarou que iniciativas de ajuda ou apoio à preservação da floresta e de outros biomas deverão respeitas a soberania brasileira.

 

"Quero reafirmar minha posição de que qualquer iniciativa de ajuda ou apoio à preservação da floresta amazônica, ou de outros biomas, deve ser tratado em pleno respeito à soberania brasileira. Estamos prontos para, em parcerias e agregando valor, aproveitar de forma sustentável todo o nosso potencial", disse.

 

Terra indígena

 

Bolsonaro afirmou no discurso que não ampliará o percentual do território brasileiro com terras indígenas e disse que a "visão de um líder" não representa o pensamento de todos os índios do país.

 

"Quero deixar claro: O Brasil não vai aumentar para 20% sua área já demarcada como terra indígena, como alguns chefes de estado gostariam que acontecesse", afirmou.

Bolsonaro afirmou que, "muitas vezes", líderes indígenas como o cacique Raoni, são "usados como peça de manobra" por governos estrangeiros. Ele não citou quais seriam os governos, contudo, recentemente Raoni se encontrou com o presidente da França, Emmanuel Macron.

 

"A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Muitas vezes, alguns desses líderes, como o cacique Raoni, são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia", afirmou Bolsonaro.

 

Segundo Bolsonaro, pessoas dentro e fora do Brasil, com apoio de organizações não-governamentais, "teimam em tratar e em manter" os índios brasileiros "como verdadeiros homens das cavernas".

 

"O Brasil agora tem um presidente que se preocupa com aqueles que lá estavam antes da chegada dos portugueses em 1.500. O índio não quer ser latifundiário pobre em cima de terá rica", afirmou.

 

Bolsonaro deu como exemplo de grandes extensões de terras indígenas demarcadas a Raposa Serra do Sol e a Yanomami. Ele ainda citou interesse estrangeiros nas riquezas minerais do Brasil, como ouro, diamante e nióbio.

 

"Os que nos atacam não estão preocupados com o ser-humano índio, mas, sim, com as riquezas minerais e biodiversidade existentes nessas áreas", disse.

 

O presidente ainda defendeu uma "nova política indigenista" no país a fim de buscar "autonomia econômica" dos indígenas.

 

"O ambientalismo radical e o indigenismo ultrapassado e fora de sintonia com o que querem os povos indígenas representam o atraso, a marginalização e a completa ausência de cidadania", afirmou.

 

Socialismo e Venezuela

 

Bolsonaro fez críticas ao socialismo no discurso e disse que o Brasil esteve muito próximo, em governos passados, de se tornar um país socialista, em uma alusão às gestões do petistas.

 

"No meu governo, o Brasil vem trabalhando para reconquistar a confiança do mundo, diminuindo o desemprego, a violência e o risco para os negócios, por meio da desburocratização, da desregulamentação e, em especial, pelo exemplo esteve muito próximo do socialismo", disse.

 

Neste contexto, o presidente também criticou, de forma irônica, a eficiência do regime de Nicolás Maduro na Venezuela – o Brasil está entre os países que reconhece o opositor Juan Guaidó como presidente do país.

 

"A Venezuela, outrora um país pujante e democrático, hoje experimenta a crueldade do socialismo. O socialismo está dando certo na Venezuela? Todos estão pobres e sem liberdade", afirmou.

 

Bolsonaro lembrou o êxodo migratório de venezuelanos, que nos últimos anos tiveram entre seus destinos o Brasil. O governo brasileiro executa uma operação de acolhida, citada no discurso pelo presidente.

 

O presidente disse que, junto com EUA e outros países, o Brasil trabalha para restabelecer a democracia na Venezuela, sem deixar de ser empenhar "duramente" para que outros países da América do Sul tenham governos similares.

 

Nos últimos meses, ele tem defendido a reeleição de Mauricio Macri na Argentina contra o opositor Alberto Fernandéz, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como vice na chapa.

 

Economia

 

Bolsonaro afirmou que seu governo busca se aproximar de países "que se desenvolveram e consolidaram suas democracias" e defendeu as liberdades políticas e econômica.

 

"Não pode haver liberdade política sem que haja também liberdade econômica. E vice-versa. O livre mercado, as concessões e as privatizações já se fazem presentes hoje no Brasil", discursou.

 

O presidente destacou acordos comerciais, como o anunciado entre Mercosul e União Europeia, e disse que o Brasil está pronto para iniciar o processo de adesão à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

 

Agenda da viagem

 

Antes do discurso, Bolsonaro se reuniu com o secretário-geral da ONU, António Guterres. À tarde, Bolsonaro está prevista uma visita ao ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani. À noite, o presidente embarca de volta para Brasília.

 

Bolsonaro chegou a Nova York na tarde de segunda-feira (23), acompanhado de uma comitiva que reuniu, entre outros integrantes, ministros, a primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), um dos cinco filhos do presidente.

 

Eduardo, que preside na Câmara a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (Creden), foi escolhido pelo pai para ser embaixador do Brasil em Washington. No entanto, a indicação ainda não foi enviada ao Senado, que terá de aprovar o nome do parlamentar.

 

O presidente viajou uma semana depois de receber alta hospitalar. No dia 8, ele passou por uma cirurgia para corrigir uma hérnia, o quarto procedimento desde que sofreu uma facada no abdômen em 2018.

 

Bolsonaro viajou com orientação de manter uma dieta leve e de evitar longos períodos sentado no avião – G1.

 

Carlos Magno

 

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