Conhecido internacionalmente pela defesa dos direitos dos povos
indígenas, o cacique Raoni Metuktire foi citado nesta terça-feira (24) pelo
presidente Jair Bolsonaro em seu discurso na assembleia geral da Organização
das Nações Unidas (ONU).
Bolsonaro afirmou que "muitas vezes" líderes
indígenas como o cacique Raoni são "usados como peça de manobra" por
governos estrangeiros. Ele não citou quais seriam os governos, mas recentemente
Raoni se encontrou com o presidente da França, Emmanuel Macron. "A visão
de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros",
declarou Bolsonaro.
O cacique do povo caiapó tem 89 anos e é, há décadas,
considerado um dos líderes indígenas de maior influência internacional. Em 1978
foi tema do documentário 'Raoni', indicado ao Oscar na categoria no ano
seguinte.
Em maio, ele fez um giro europeu em busca de apoio para a
defesa da Amazônia e passou por vários países. Além da visita ao presidente
francês Emmanuel Macron, esteve com o papa Francisco e passou também pelo
Festival de Cannes.
Na semana passada, a Fundação Darcy Ribeiro propôs a
candidatura do chefe indígena ao Prêmio Nobel da Paz de 2020 por sua luta pelos
povos e pela preservação da Amazônia.
"A iniciativa reconhece os méritos de Raoni Metuktire
enquanto líder de renome mundial, que, do alto de seus 90 anos, dedicou sua
vida à luta pelos direitos dos indígenas e pela preservação da Amazônia",
justificou a Fundação em um comunicado.
O regulamento do Prêmio Nobel da Paz estipula que a
indicação pode ser feita por membros de Assembleias Nacionais e alguns
professores de universidades.
Opiniões recentes
Em um artigo de opinião publicado em 2 de setembro no jornal
britânico "The Guardian", o cacique fez duras críticas à atual
política ambiental do Brasil e à forma como a Amazônia vem sendo tratada.
"Há muitos anos nós, líderes indígenas e povos da
Amazônia, temos alertados vocês, nossos irmãos que trouxeram tantos danos às
nossas florestas", afirma o cacique, dizendo que o que vem sendo feito nas
florestas "vai mudar todo o mundo, destruir nossa casa e a sua casa
também".
Segundo Raoni, depois de muitos anos lutando entre si, as
comunidades indígenas atualmente têm um inimigo comum: aqueles que invadiram
suas terras e "agora estão queimando mesmo as pequenas partes de florestas
que nos restaram", escreve no "The Guardian".
O líder indígena avalia que o presidente Jair Bolsonaro
"estimula os fazendeiros próximos de nossas terras a derrubar a floresta -
e ele não está fazendo nada para prevenir que nosso território seja
invadido".
Raoni afirma, ainda, que a população ocidental "perdeu
o rumo", e caminha somente em direção "à destruição e à morte".
Em um vídeo publicado na internet com seu nome, em 26 de
agosto, Raoni diz que "os incêndios estão se alastrando, transformando a
floresta Amazônica em cinzas". Dirigindo-se a "todos os líderes do
país", ele pede que o governo brasileiro encontre caminhos para
"acabar definitivamente com os incêndios florestais".
No vídeo, Raoni lamenta que o presidente Jair Bolsonaro não
queira se encontrar com ele pessoalmente. "Eu conheci muitos chefes de
estado, por mais de 60 anos. Eles falaram comigo, eles me consideraram. A gente
pôde discutir", afirma em sua língua nativa, conforme descreve a legenda
do vídeo.
Trajetória
O cacique Raoni nasceu na década de 1930, mas não se sabe
precisamente em que ano. Na infância, começou sua vida no vilarejo de
Krajmopyjakare, no Mato Grosso. Raoni tem como uma de suas marcas registradas o
"labret", adorno que carrega no lábio inferior - um símbolo de seu
compromisso com a terra que nasceu. Veja abaixo alguns dos momentos mais
importantes de sua vida.
No fim da década de 1950, Raoni se encontrou com o então
presidente Juscelino Kubitschek, o qual se comprometeu com a causa indígena.
Foi o primeiro encontro do cacique com um governante.
Em 1973, o cineasta belga Jean Pierre Dutilleux, iniciou a
produção de um documentário para contar a história do cacique. O longa 'Raoni'
foi exibido no Festival de Cannes em 1977 e concorreu ao Oscar em 1979.
Em 1989, o cacique conheceu Sting, ex líder da banda The
Police, eles se encontraram em uma visita do cantor no Brasil. Após o encontro,
os dois saíram em turnê mundial para denunciar a destruição da floresta e o
descaso do governo brasileiro com a população indígena.
A partir de 1989, Raoni se torna um dos principais nomes nos
protestos contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, na bacio do
Rio Xingu.
Em maio deste ano, o cacique visitou novamente a Europa e,
passou por diversos países em busca de apoio de lideres governamentais em ações
de defesa da floresta Amazônica e dos povos indígenas do Brasil – G1.
Carlos Magno
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