Donald Trump será submetido a um processo de impeachment
pelo Congresso americano, anunciou nesta terça-feira, 24, a democrata Nancy
Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados. Antes cautelosa em relação à
abertura do procedimento, Pelosi se viu pressionada pela base de seu partido
depois das recusas sucessivas de Trump e de seu governo em prestar informações
ao Congresso sobre denúncias de abuso de poder.
“O presidente viola a Constituição dos Estados Unidos,
especialmente quando diz que pode fazer o que quer”, afirmou Pelosi, que
acentuou ter Trump traído a integridade da Carta Magna do país.
Trump será o quarto presidente dos Estados Unidos submetido
a um processo de impeachment. O mais emblemático caso foi o do republicano
Richard Nixon, que renunciou antes da conclusão dos procedimentos, em 1974. O
democrata Bill Clinton sobreviveu ao processo, em 1999, assim como James
Buchanan, em 1860, e Andrew Johnson, em 1868.
O estopim foi a recente pressão de Trump sobre o presidente da Ucrânia,
Volodymyr Zelenski, para que investigasse negócios em sue país do
ex-vice-presidente americano Joe Biden, pré-candidato democrata à Casa Branca
em 2020, e de seu filho. Em troca, o líder dos Estados Unidos havia prometido liberar ajuda militar de 250
milhões de dólares a Kiev, que pouco antes havia oportunamente congelado.
Em um primeiro momento, a Câmara votou na tarde desta
terça-feira uma resolução de condenação a Trump por ter se valido de suas
atribuições de política externa para obter ganhos eleitorais. O republicano
concorre à reeleição, no ano que vem, e Biden se mantém como seu potencial
adversário nas pesquisas eleitorais. Em seguida, Pelosi colocou em votação a
criação do comitê especial para tratar do impeachment.
Em meio aos discursos e encontros bilaterais nas Nações
Unidas, Donald Trump, tentou abortar a iniciativa dos democratas ao anunciar
que disponibilizará ao público a transcrição completa da conversa por telefone
que manteve com Zelensky.
“Estou neste momento nas Nações Unidas representando nosso país
e autorizei a divulgação da transcrição completa e sem alterações da minha
conversa por telefone com o presidente da Ucrânia, vocês vão ver que foi uma
conversa apropriada e amigável”, informou
pelo Twitter.
O debate sobre o impeachment de Trump havia perdido força
após a divulgação do relatório final sobre a interferência russa na campanha
republicana de 2016, mas voltou aos holofotes com o vazamento à imprensa da
conversa de Trump com o presidente ucraniano.
A investigação gira em torno da suposta participação de
Hunter Biden em um esquema de corrupção na empresa energética ucraniana
Burisma, quando integrava o quadro de funcionários. Em 2014, Joe Biden teria
pressionado o então líder da Ucrânia Petro Porosheko a demitir o procurador que
estava encarregado no caso. Caso contrário, cortaria a ajuda financeira americana ao Exército da Ucrânia, que
enfrentava na época uma insurgência separatista no leste de seu território
apoiada pela Rússia.
Biden endossou a proposta de impeachment de Trump em discurso
nesta terça-feira no estado de Delaware. “Ele não tem outra escolha senão ser
impedido”, afirmou. “Se nós permitirmos um presidente escapar retalhando a
Constituição dos estados Unidos, isso vai repercutir para sempre”, completou.
Segundo o ex-vice-presidente, Trump tem de parar de
emparedar todas as investigações sobre seus alegados atos ilícitos e entregar
as informações requeridas legalmente pelo Congresso sobre suas ações. “Se o
presidente não concorda com esta demanda do Parlamento, ele continua a obstruir
o Congresso e a escapar da lei. Donald Trump não deixará ao Congresso outra
opção, na minha opinião, que iniciar o impeachment”, afirmou. “Isso seria uma
tragédia. Mas uma tragédia gerada por ele mesmo.”
As chances de aprovação do impeachment de Donald Trump pelo
Senado americano, onde a maioria é republicana, são praticamente nulas. Ainda
assim, o processo aberto pela Câmara deverá provocar estragos na campanha de
reeleição do presidente americano em 2020 – e os democratas contam com isso –
Veja.
Carlos Magno
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