Já agricultores familiares criticaram fala do presidente
sobre desmatamento e demarcação de terras indígenas. Bancada ruralista no
Congresso e CNA avaliaram que presidente 'defendeu a agropecuária'.
Representantes do agronegócio brasileiro avaliaram como positivo
o discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia-Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (24).
Em relação à fala de Bolsonaro, que chamou de
"falácia" o argumento de que a Amazônia é patrimônio da humanidade e
de que não vai aumentar a demarcação de terras indígenas, lideranças do setor
não acreditam que, por causa do discurso, compradores internacionais vão
interromper a compra de produtos agropecuários brasileiros.
"As questões comerciais [do agronegócio] são mais
ligadas à segurança alimentar do que ao viés ideológico. Cabe a nós
continuarmos produzindo com transparência e diversificação", avaliou o
presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Alceu Moreira
(MDB-RS).
"Ele [Bolsonaro] quis botar um ponto final em relação à
soberania da Amazônia. Ele manteve seu patamar ideológico e quis falar [também]
sobre a questão da liberdade econômica", completou Moreira, que lidera um
dos principais blocos de apoio de Bolsonaro no Congresso Nacional, com 235
deputados e 38 senadores.
Em nota, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA) disse que "Bolsonaro esclareceu equívocos sobre a Amazônia e
ressaltou o importante papel do Brasil na produção mundial de alimentos".
"Também afastou a tese de que o governo está colocando
o mundo contra o agro brasileiro, defendendo não apenas o setor, mas toda a
nação", acrescentou a CNA.
Já a Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag),
que representa os agricultores familiares, "lamentou" o discurso do
presidente brasileiro.
Para a associação, Bolsonaro erra ao "rejeitar a tese
de que a Amazônia é um patrimônio da humanidade e ao negar o aumento de
incêndios e desmatamento nos últimos dois meses no Brasil, mesmo com fotos de
satélite, inclusive da Nasa, que comprovam".
"Apesar de afirmar que o seu 'governo tem compromisso
solene com o meio ambiente', em nenhum momento falou da responsabilidade de
pecuaristas, madeireiros, grileiros e garimpeiros nas queimadas", disse em
nota a Contag.
O G1 pediu posicionamento para outras entidades do setor,
como a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), para a Sociedade Rural
Brasileira (SRB) e para a associação que representa as empresas exportadoras de
soja (Abiove). Até a publicação deste texto, nós não tivemos resposta.
Soja
Para a associação que representa os produtores de soja
(Aprosoja), o discurso do presidente da República atendeu aos desejos dos
agricultores do produto mais exportado pelo Brasil.
Questionado se as reações internacionais ao discurso de
Bolsonaro pudessem prejudicar as exportações do Brasil, o presidente da
Aprosoja, Bartolomeu Braz, disse não acreditar nesta possibilidade.
"Não vejo dessa forma [risco de retaliação]. Nossos
mercados são firmes, somos os mais sustentáveis do mundo e contra fatos não há
argumentos", acrescentou o presidente da Aprosoja.
Braz disse ainda que o discurso de Bolsonaro "desmentiu
informações erradas sobre o país" e que o presidente defendeu o setor.
"Todos são contra o desmatamento ilegal, é mentira que
estão acabando com Amazônia, não dá para acreditar nas informações
internacionais", disse Braz.
Embargos após
incêndios na Amazônia
No fim de agosto, no auge da crise provocada pelas queimadas
na Amazônia, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse que o Brasil não
havia sido ameaçado com o fechamento de mercado a produtos do agronegócio por
conta dos incêndios, já que a produção pecuária é significativa na região.
"Para mim [reclamações sobre riscos de embargos] só
pela imprensa e em conversas pessoais. Apenas uma preocupação, mas de efetivo e
concreto, nós não tivemos", disse a ministra.
"Você nunca está livre de um embargo. Cada país é
soberano e sabe como reagir, mas eu acho que seria um casuísmo, mas a gente não
está livre. Eu espero que não", completou Tereza.
Dias depois, porém, a VF Corporation, dona das marcas
Timberland e Vans suspendeu as compras do couro brasileiro. A empresa não
afirmou se a paralisação tinha relação com os incêndios na Amazônia.
À época, segundo a companhia, a medida valerá "até que
haja a segurança" de que os materiais usados em seus produtos "não
contribuam para o dano ambiental no país".
Já no início de setembro, o grupo sueco H&M, segundo
maior varejista de moda do mundo, disse que deixará de comprar couro brasileiro
temporariamente, como respostas às queimadas na Amazônia
"A proibição permanecerá ativa até que existam sistemas
de garantia críveis para verificar se o couro não contribui para danos ambientais
na Amazônia", afirmou a H&M – G1.
Carlos Magno
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