Gravado em uma reunião em que chama o presidente Jair
Bolsonaro de “vagabundo”, o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO),
afirmou, nesta sexta-feira, 18, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast,
que o governo está parado, “não existe”, pois está focado na crise da legenda.
“A única finalidade do governo hoje é me derrubar da liderança do PSL.”
Segundo ele, o presidente está “comprando” deputados com
“cargos e fundo partidário” para alçar o filho, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ao
posto de líder da bancada. Na entrevista, o deputado repete o xingamento que
fez em reunião fechada. “Eu não menti. Ele me traiu. Então, é vagabundo”,
disse.
Veja a entrevista completa após a foto.
Afinal de contas, o
que o senhor tem para implodir o presidente? O que é essa gravação que o senhor
fala no áudio vazado?
A gravação que tem é a que já foi divulgada. É na qual ele
pede votos, negociando com parlamentares e comprando a vaga do filho dele na
liderança do PSL, oferecendo cargos e fundo partidário.
Acha que vai
conseguir se manter como líder da bancada do PSL?
É uma vitória fenomenal eu ainda estar na liderança,
considerando que líder do governo, o presidente e ministros estão atuando
contra. O governo parou. O governo não existe hoje. A única finalidade do
governo hoje é me derrubar da liderança do PSL. A traição vem de onde você menos
espera.
A bancada do PSL
ainda votará com o governo?
Não haverá consenso em todas as pautas com o presidente
Bolsonaro, o partido terá seu posicionamento. Qualquer conduta do presidente de
tentar inibir os órgãos de combate à corrupção não terá nosso apoio, como já
foi feito com o (Conselho de Controle de Atividades Financeira) Coaf, com
enfraquecimento da Polícia Federal, do ministro da Justiça e Segurança Pública,
Sérgio Moro, a ação do governo em relação à CPMI das Fake News.
Houve uma oferta para
a ala dos “bolsonaristas” saírem do PSL sem perder o mandato. O senhor concorda
com isso?
É uma decisão do presidente (do PSL) Luciano Bivar, não
posso falar porque não compete a mim essa decisão.
O Planalto acena com
uma saída intermediária, em que o senhor sairia da liderança e eles recuariam
de indicar o Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Alguém o procurou? Aceitaria isso?
Eu não saio da liderança. Meu mandato é até janeiro. Só saio
se o presidente do PSL, Luciano Bivar, o vice, Antonio Rueda, e todos os
parlamentares pedirem. Caso contrário, só em janeiro. Ninguém me procurou para
falar sobre isso e eu não topo. E eu não posso falar nada por mim, faço parte
de um grupo. Não posso ter atitudes individualistas. Só quando tiver uma
decisão desse grupo é que podemos dialogar. Mas como você acha que esse grupo
poderia querer isso se, nesse momento, eles (governo) estão ligando para
parlamentares.
O governo continua
ligando?
Continua. O líder do governo na Câmara, deputado Vitor Hugo
(GO), acabou de ligar para um deputado durante a reunião do partido, o Abou
Anni (PSL-SP). Ele ligou e o Abou me mostrou que estava ligando para pedir o
nome na lista deles. Eles não querem trégua. Estão fingindo, querendo ganhar
tempo para fazer o líder.
O que Bolsonaro tem
de fazer para recompor sua base no Congresso?
Ele nunca teve base no Congresso. Tinha 53 deputados que
votaram com 98% de fidelidade.
Ele vai ter ainda
esses 53?
Em algumas pautas sim, em outras não.
Depois de chamar o
presidente de vagabundo, há chances para retomar a relação?
Eu não menti. Ele me traiu. Se precisar, eu repito dez
vezes. Eu fui um dos quatro votos para ele (na disputa pela presidência da
Câmara, em 2016), contrariando meu partido na época, o PR. Votei no Bolsonaro.
Recusei R$ 2,5 milhões de emendas parlamentares na época e vim para o PSL.
Andei 246 municípios no sol. Fui chamado de louco ao defender Bolsonaro. Ele
nunca me recebeu e agora me traiu ao pedir ao Bivar, por proposta do Major
Vitor Hugo e do governador de Goiás Ronaldo Caiado, o diretório do Estado.
Então, é vagabundo.
Tem alguma chance de
retomar a relação com o Bolsonaro?
Ele é quem tem que pensar o que tem que fazer. Eu não guardo
ódio de ninguém não, mas a conduta dele em relação a mim...eu nunca fiz nada
para ele, sempre fui fiel. É só olhar minhas redes sociais e veja se há um
ataque sequer a ele.
O que pretende fazer
caso Eduardo assuma a liderança, já que governo está se articulando de novo?
Eu não vou fazer nada, quem vai fazer é o partido. O partido
inclusive já fez agora suspendendo cinco parlamentares que não têm mais direito
a voto. Isso já foi notificado para Câmara.
Em relação ao
deputado Daniel Silveira (RJ) que gravou o senhor, o que pretende fazer?
Ele não atacou ao partido, atacou ao Parlamento, ao gravar
vários deputados. Isso é Conselho de Ética e apuração criminal. Vamos pedir,
assim como foi feito com Eduardo Cunha (ex-presidente da Câmara, atualmente
preso), que é a cassação. O PSL vai fazer esse pedido.
O senhor disse em
entrevistas que Bolsonaro tinha problemas no “quintal dele”. A que estava se
referindo?
Ué, é o filho dele. Qual é que tem problema e está sendo
investigado?
O senador Flávio
Bolsonaro (PSL-RJ)?
Sim.
Bolsonaro pode sofrer
impeachment por causa dos filhos?
Isso temos de aguardar. Quem decide isso é o Parlamento. Se
algum partido fizer uma proposta, cabe ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), se leva para plenário ou não. Não é decisão minha. Eles precisam
analisar se compra de parlamentares para votar a favor do filho é motivo de
cassação do presidente. Isso depende de outros fatores.
A crise afeta
votações no Congresso? Isso não terá impacto na economia?
Não vamos prejudicar em nenhum momento o povo brasileiro.
Acima dos interesses partidários, existem os interesses do País. Vamos votar
todas as pautas econômicas. São teses que sempre defendemos, reforma
tributária, administrativa e tudo mais que for pauta de interesse do Brasil.
O senhor põe a mão no
fogo por Bolsonaro?
Eu só coloco a mão no fogo pela minha mãe.
Carlos Magno
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