Começou nesta quinta-feira (9) o julgamento do gerente
acusado de feminicídio por estuprar e matar uma ativista feminista com um taco
de beisebol em um bar da Zona Leste de São Paulo, onde ele trabalhava, no fim
de 2016. O réu Willy Gorayeb Liger, de 29 anos, responde preso pelos crimes
contra Debora Soriano de Melo, que tinha 23 anos.
O julgamento ocorre no plenário 6 da 1ª Vara do Júri no
Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste da capital. De acordo com a acusação
feita pelo Ministério Público (MP), a vítima foi violentada e assassinada em 14
de dezembro de 2016 no bar "Sr. Boteco", na Mooca. O gerente é primo
do dono do estabelecimento comercial à época.
O G1 não conseguiu localizar a defesa do acusado para
comentar o assunto.
Taco de beisebol
De acordo com a denúncia feita pela Promotoria, Willy matou
Debora com golpes de taco na cabeça para que ela não o denunciasse por tê-la
estuprado antes. Segundo o promotor Felipe Eduardo Levit Zilberman, a vítima
não queria ter relações sexuais com o agressor.
“O acusado alega que não se lembra direito do crime, que se
recorda de ter usado cocaína com Debora, de que eles discutiram e de que ele a
golpeou com um taco de beisebol na cabeça”, disse Zilberman. “Sobre o estupro,
porém, ele disse não se lembrar de ter cometido”.
Apesar disso, o MP informou ter laudos do Instituto Médico
Legal (IML) que comprovam que Debora foi estuprada. Feminista, ela participava
de grupos e manifestações para pedir punição a homens que cometiam crimes
contra mulheres.
Além do estupro, Willy responde por homicídio doloso com
quatro qualificadoras. As agravantes são o fato de, segundo a acusação, ele ter
matado para assegurar a impunidade do crime sexual, o feminicídio, o meio cruel
e o recurso que dificultou a defesa da vítima.
O feminicídio é uma qualificadora do crime de homicídio.
“Ele ocorre quando é cometido contra uma mulher por menosprezo e com
discriminação à condição feminina”, explicou Zilberman.
Testemunhas de defesa e acusação serão ouvidas no
julgamento. E Willy será interrogado. Sete jurados votarão se ele tem de ser
absolvido ou condenado pelos crimes. Se for considerado culpado, a pena somada
para os crimes dos quais está sendo acusado pode ultrapassar 30 anos de prisão.
Feminicídio
O promotor disse estar convencido de que Willy é reincidente
em crimes contra mulheres. Segundo o MP, o gerente já era procurado da Justiça
antes de ter matado Débora.
“Em 20 de julho de 2009, ele estuprou e roubou uma outra
mulher e foi condenado a 11 anos de prisão. Como respondia aos crimes em
liberdade, foi expedido um mandado de prisão preventiva, mas ele nunca mais foi
localizado”, disse o promotor.
De acordo com a Promotoria, enquanto esteve foragido, Willy
cometeu mais outro crime. “Ele havia ameaçado a mãe do filho dele em 2015.
Tanto é que a mulher entrou com medidas protetivas baseadas na Lei Maria da
Penha, mas ele não era encontrado para ser ouvido”, falou Zilberman.
O último crime cometido por Willy ocorreu no final de 2016,
quando ficou sozinho com Débora no bar onde trabalhava como gerente. “Tudo isso
mostra bem a personalidade dele de ódio ao gênero feminino”, afirmou o
promotor.
Após matar Débora, Willy fugiu para Ubaitaba, no sul da
Bahia, onde foi preso em 23 de dezembro por determinação da Justiça. Ele estava
escondido na casa de familiares.
De acordo com a polícia baiana, ele confessou lá o
assassinato de Débora. Alegou que a matou após os dois discutirem porque ela
reclamou que a droga que usavam havia acabado e queria mais. Laudo toxicológico
indicou que a o agressor e a vítima consumiram cocaína.
O crime
Segundo a acusação, na noite de 13 de dezembro de 2016,
Willy havia ido com dois clientes do bar a uma casa noturna na Mooca para
comemorar o aniversário de um deles. Lá, conheceram Debora e uma amiga dela.
A vítima, sua amiga e os três homens saíram da boate às 7h e
foram até o bar "Sr. Boteco", onde Willy trabalhava. Por ser primo do
proprietário e morar nos fundos do bar, ele tinha a chave do estabelecimento.
Segundo as investigações, os cinco ficaram reunidos no
interior do bar, sozinhos, já que as portas estavam fechadas, até as 9h30 do
dia 14. Naquela hora, os amigos de Willy e a amiga de Débora foram embora.
O homicídio teria ocorrido quando os dois estavam a sós.
Débora levou golpes de bastão e não resistiu aos ferimentos. Depois disso,
Willy teria telefonado para o primo e contado que matou a jovem. Em seguida,
fugiu. O local do crime não possui circuito interno de câmeras.
O primo procurou a Polícia Civil e levou os investigadores
do 18º Distrito Policial (DP), Alto da Mooca, até o bar. Ao chegarem lá,
encontraram o corpo da vítima. Ao lado de Débora, estava uma meia e um tênis de
Willy manchados de sangue. Além de feminista, Débora era evangélica. Ela deixou
dois filhos pequenos – G1.
Carlos Magno
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