Após se encontrar a portas fechadas com o presidente Jair
Bolsonaro, Paulo Guedes deixou o Palácio do Planalto ainda como ministro.
Guedes ouviu apelos de Bolsonaro e dos ministros Augusto Heleno (GSI) e Luiz
Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), que também participaram da reunião, para
continuar no governo. Mesmo inclinado a entregar o cargo, ele resolveu
continuar – até quando não se sabe – para tocar sua agenda liberal. O argumento
usado para dissuadi-lo foi de que sua saída do ministério agora poderia
representar o fim precoce do governo Bolsonaro.
Saiu do Planalto para se reunir com os presidentes do
Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e líderes
partidários para tentar amarrar com o Legislativo os principais pontos da pauta
econômica em 2020, como as reformas tributária e administrativa. Considerado o
grande trunfo de Bolsonaro com o mercado, o ministro se vê encurralado pela
repercussão de suas próprias declarações e pelos cálculos políticos e eleitorais
do presidente. Para Bolsonaro, perdê-lo agora seria desastroso para a
continuidade de seu governo.
"Difícil
segurar"
Desde que assumiu o comando da Economia, com status de
superministro, Paulo Guedes já ameaçou diversas vezes entregar o cargo. Sem
nunca ter ocupado uma função pública, e com conhecido pavio curto, Guedes dá
sinais de que sua insatisfação está atingindo o ponto máximo. Nos últimos
meses, o ministro tem se aborrecido com o presidente Jair Bolsonaro e o núcleo
bolsonarista.
"Está difícil segurar", disse uma fonte próxima ao
ministro ao Congresso em Foco. O ministro tem comentado com pessoas próximas
que, se resolver deixar o governo, pretende expor os seus verdadeiros motivos.
O principal motivo hoje da irritação está na reforma administrativa. Guedes
pretende fazer mudanças profundas nas regras para o funcionalismo público. Mas
Bolsonaro tem dito, inclusive publicamente, que não pretende mexer com os
atuais servidores, o que desagrada ao ministro.
O chamado “Posto Ipiranga”, apelido dado pelo presidente
ainda durante a campanha eleitoral para indicar a autonomia que daria a ele,
sente que não tem o poder que imaginaria ter. Acha que tem perdido dinheiro por
ter se afastado dos seus negócios e que tem sido criticado por tudo o que faz
ou fala. Para Guedes, o entorno de Bolsonaro tem estimulado críticas a ele e à
sua forma de conduzir a Economia. “Eles só pensam em eleição”, desabafou o
ministro com amigos.
Interlocutor eventual da equipe econômica, o deputado
Marcelo Ramos (PL-AM), que presidiu a comissão especial da reforma da
Previdência na Câmara, diz que os conflitos entre o presidente e o ministro da
Economia eram previsíveis. "Por mais que eu discorde do Guedes algumas vezes,
ele é um homem que tem coerência, é um liberal. Já o Bolsonaro sempre foi e
jamais deixará de ser um populista que compra as piores causas corporativistas.
É difícil uma convivência pacífica".
Para receber o ministro da Economia no fim da tarde desta
terça, o presidente dispensou empresários e outros convidados que participariam
do lançamento do programa Brasil Mais, do próprio Ministério da Economia, sem
maiores explicações, irritando os presentes.
Antes da reunião entre eles, Jair Bolsonaro foi questionado
por jornalistas sobre uma possível insatisfação do ministro, rumor que circulou
em Brasília nesta terça. “Se o Paulo Guedes tem alguns problemas pontuais, como
todos nós temos, e ele sofre ataques, é muito mais pela sua competência do que
[por] possíveis pequenos deslizes”, disse Bolsonaro. “Eu já cometi muitos
[deslizes] no passado. O Paulo não pediu para sair. Aliás, eu tenho certeza de
que, assim como um dos poucos que eu conheci antes das eleições, ele vai ficar
conosco até o nosso último dia”, acrescentou – Congresso em Foco.
Carlos Magno
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