Alcyr Carneiro, de 61 anos, trabalha há mais de 23 anos como
cortador de grama em quintais. Nesta semana, uma imagem sua ao lado da mãe de
90 anos viralizou nas redes sociais.
Na foto, a idosa aparece raspando o cabelo de Alcyr. Isto
porque ele foi aprovado em 3º lugar na prova do Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) para o curso de Enfermagem da Universidade Federal do Pará (UFPA).
“Em todos esses anos, com certeza esse foi o momento mais
indescritível da minha vida”, desabafa Alcyr, que vive com a mãe em uma casa de
madeira alugada.
Alcyr diz que buscou uma vaga no ensino superior para tentar
melhorar a situação da família. Para ele, a sensação de ser aprovado na
primeira tentativa é resultado de um ano de dedicação, perseverança e força de
vontade.
“Cheguei ao ponto de pensar que havia duas saídas — ganhava
na mega sena, o que é quase impossível, ou vencia através do estudo. Optei pela
educação, porque além de obter sucesso, terei conhecimento, e isso não tem
preço!”, revelou.
O novo universitário conta que se matriculou em um cursinho
pré-vestibular em março do ano passado, quando as aulas já haviam começado há
um mês, e que dividia a sala com garotos entre 16 e 18 anos.
As aulas no período da tarde, das 13h30 às 18h, e as
revisões em casa pelas noites e madrugadas ocorriam depois da manhã “árdua” de
trabalho, de domingo a domingo.
“Mesmo com todo esse esforço, eu nunca faltei uma aula
sequer, nunca cheguei atrasado, queria participar de tudo, e todos me
incentivavam — os colegas, os professores, a coordenação, o segurança, o pessoal
que trabalhava na limpeza. Eu até brincava que se dependesse de torcida, eu já
estava aprovado. Me senti valorizado, por isso eu sempre dediquei o máximo”,
contou.
Talismã
O quarto de Alcyr virou uma sala de estudos, ele descreve.
Livros doados se amontoaram em uma biblioteca particular. O chão chegou a ficar
cheio de papéis rabiscados nas práticas de redação. Mas um objeto, como ele
conta, foi determinante para que não perdesse o foco.
Um sobrinho de Alcyr, médico, costumava doar calças e
camisas usadas, já que ele “não tinha muitas condições de comprar muitas
roupas”. “Uma vez ele me deu um jaleco, para eu usar no trabalho. Eu lavei,
coloquei em um cabide e deixei no meu quarto. Tinha um pensamento que aquele
jaleco seria um motivo para me incentivar a não desistir. Até hoje, ele está lá
do mesmo jeito que eu coloquei pela primeira vez, foi como um talismã”.
“Quando estava cansado, exausto e achando que não ia
conseguir, olhava aquele jaleco e dizia para mim mesmo: um dia vou estar usando
um jaleco como esse”, disse.
Por que Enfermagem?
“Escolhi a enfermagem por que para mim é uma profissão
digna, assim como muitas outras, mas como já fiz cinco cirurgias, em vários
hospitais, sempre fui muito bem atendido por enfermeiros, médicos, aí passei a
ter uma simpatia pela área da saúde”, revela.
“Pretendo ser competente e digno para ter uma vida melhor
para mim e minha família, além de dar minha contribuição para a sociedade,
ajudar as pessoas, sem discriminação, pessoas de baixa renda. Foi por tudo isso
que optei pelo curso”, acrescenta.
“Quando coloquei na minha cabeça que tinha esse objetivo, eu
corri atrás e passei a ver os estudos não como algo a me forçar a fazer, mas
algo que me dava alegria, satisfação. Só Deus sabe o que passei, mas acho que
uma coisa é certa: consegui esse êxito porque tudo que fiz para alcançá-lo foi
porque eu acreditei que a educação é capaz de transformar a vida das pessoas”,
conclui – Pragmatismo Político.
Carlos Magno
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