O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
afirmou nesta sexta-feira (6) que o governo do presidente Jair Bolsonaro tem
uma estratégia para, nas redes sociais, tratar as "instituições como
inimigas da sociedade". Disse ainda que o governo está "pressionado,
prometeu muito e ainda não entregou", em referência ao baixo crescimento
econômico.
As declarações foram dadas em entrevista depois de evento na
Fundação Fernando Henrique Cardoso (FHC), em São Paulo.
“Desde o início o governo tem uma estratégia nas redes
sociais de --o governo que eu digo é o entorno do governo, as redes sociais que
o governo influencia-- tem operado de forma a criar as instituições muitas
vezes como inimigas da sociedade, o que não é verdade."
No fim de fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro divulgou um
vídeo em que convoca a população para um protesto contra o Supremo e o
Congresso. A ação provocou reação do Supremo e de políticos de diversos
partidos. Em 18 de fevereiro, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional
(GSI), Augusto Heleno, disse em uma transmissão de vídeo que o governo
"não pode aceitar esses caras chantagearem a gente o tempo todo".
Falou ainda em "parlamentarismo branco". A crítica era endereçada ao
Congresso em meio à discussão sobre regras que dão a deputados e senadores
maior controle do Orçamento.
Governo pressionado
O presidente da Câmara afirmou ainda pediu paciência e falou
que o governo está pressionado pelos maus resultados na economia. "O que
nós temos que ter é muito equilíbrio, paciência, e compreender que o governo
está pressionado, o governo prometeu muito e ainda não entregou. O governo
tinha uma previsão de crescimento de 2,5% [do Produto Interno Bruto em 2019] e
cresceu 1,1%. Nós entendemos a posição do governo neste momento, mas estamos
aqui para ajudar".
Segundo o presidente da Câmara, o Congresso está disposto a
ajudar a sociedade a enfrentar o atual risco de uma epidemia de coronavírus no
país: “Temos uma crise econômica agravada pela questão coronavírus e cabe aos
Poderes encontrar soluções para que esta crise afete menos a sociedade
brasileira", declarou Maia.
Perda de tempo
Em meio às críticas ao atual governo federal, Maia também
afirmou que só restam 15 semanas ao Congresso para aprovar as reformas, pois o
Executivo demorou para repassar aos deputados os textos das reformas Tributária
e Administrativa.
"Eu fico sempre muito preocupado porque agora voltou um
discurso, levemente. Porque ano passado também existia. Agora, o ministro Paulo
Guedes (da Economia) deu só 15 semanas, é claro perderam o ano passado inteiro.
Agora, querem mais uma vez transferir para o Parlamento (a responsabilidade) e nós
só temos 15 semanas. Só que a (reforma) Tributária não chegou, a (reforma)
Administrativa não chegou, a Emergencial só chegou em novembro (de 2019) e
perderam a oportunidade de usar a PEC do deputado Pedro Paulo que é muito mais
dura", assinalou Maia.
Parlamentarismo
branco
Durante o evento, ao ser questionado sobre sobre críticas de
que o país vive um parlamentarismo branco sob a liderança dele, Maia afirmou:
"Essas teses são criadas para gerar o ódio, para que o presidente do
Congresso, da Câmara, e do Senado e do próprio Supremo sejam atacados, para que
o ódio seja generalizado. Só que isso só atrasa as soluções que o governo e o
parlamento precisam construir para a sociedade e não resolve o problema dos
brasileiros".
O presidente da Câmara disse, ainda, que o Congresso não
entrará em "uma briga de ódio" contra as outras instituições. “Estas
iniciativas do parlamento [de dialogar com as autoridades] mostram que não
vamos entrar neste jogo de quanto pior, melhor, de criar uma crise institucional
que não existe. O Parlamento deu prova no ano passado que tem muita
responsabilidade e que seus líderes comandam as pautas do Congresso, do país e
do governo com competência e liderança”, afirmou ele.
“Há um debate, não há um conflito que não seja verdadeiro, que
podíamos estar discutindo pautas importantes, como a autonomia do Banco
Central, que ficam retardadas”.
A tese de que o Congresso Nacional quer concentrar o poder e
criar uma espécie de “parlamentarismo branco”, ou “semi-presidencialismo”, onde
o presidente tem pouco ou nenhum poder prático, foi difundida por integrantes
do governo, após derrotas em projetos considerados importantes na Câmara e no
Senado Federal. Em junho do ano passado, quando o Senado aprovou o projeto que
instituiu o marco legal das agências reguladoras, determinando, entre outras
coisas, a seleção pública para elaboração de lista tríplice a ser encaminhada
ao presidente da República com nomes para os cargos de diretoria das agências,
o presidente Jair Bolsonaro não gostou e alegou que o Congresso tentava tirar
as prerrogativas dele em indicar a diretoria das agências.
"Se isso aí se transformar em lei, todos serão
indicados, todas as agências serão indicadas por parlamentares, imagine qual o
critério que eles vão adotar. Acho que eu não preciso complementar. Pô, querem
me deixar como rainha da Inglaterra? Esse é o caminho certo?", afirmou
Bolsonaro.
A declaração ecoou entre os demais ministros, que voltaram a
falar em “parlamentarismo branco” durante o início da nova queda de braço com o
Congresso em torno do orçamento impositivo.
Fim das MPs
Durante o debate na capital paulista, Maia voltou a defender
também sua posição pelo fim das medidas provisórias.
"Para começar, gera insegurança, segundo gera um
desiquilíbrio no sistema democrático. Na verdade, o que nós temos que fazer
para o próximo governo é acabar com medida provisória. O que é relevante,
urgente, nenhum parlamento nem no Brasil nem no mundo deixou de entregar para
qualquer governo", assinalou ele – G1.
Carlos Magno
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