Um grupo de cientistas brasileiros fez o sequenciamento
genético do novo coronavírus que circula pelo Brasil, o que permite abrir um
banco com informações sobre a identidade que o microrganismo está ganhando
desde que desembarcou por aqui. Segundo os pesquisadores, o vírus já está em
mutação, ganhando características próprias enquanto se espalha pela região.
Pesquisadores
começaram a decifrar identidade do novo coronavírus
O resultado do trabalho indica também que o vírus chegou ao
Brasil vindo, principalmente, da Europa -- poucos casos chegaram importados da
Ásia.
'O estudo confirma que a transmissão comunitária é real ao
identificar agrupamentos de vírus muito parecidos entre si', diz Ana Tereza
Vasconcelos, coordenadora do Laboratório de Bioinformática do LNCC (Laboratório
Nacional de Computação Científica).
O LNCC participou da iniciativa com a UFRJ e a UFMG
(Universidade Federal de Minas Gerais). Pesquisadores do Instituto de Medicina
Tropical da Faculdade de Medicina da USP e da Universidade de Oxford
colaboraram no projeto.
A equipe fez 19 sequenciamentos de vírus que infectaram
pacientes da Covid-19 no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Rio
Grande do Sul, com amostras cedidas pelos laboratórios Hermes Pardini e Simile
Medicina Diagnóstica, de Belo Horizonte, e pelo Hospital Universitário da UFRJ
(Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Com o apoio de estudantes de pós-graduação, os resultados
ficaram prontos dentro de um final de semana, nos dias 21 e 22 de março.
Por que é importante
conhecer as características genéticas do vírus?
Conhecer as características genéticas do vírus é essencial
para a elaboração de novos testes de diagnóstico e também para a produção da
vacina contra a Covid-19.
Os pesquisadores destacam que o estudo não indica que o
vírus esteja ficando mais letal ou agressivo. A ideia dos cientistas agora é
contar com mais grupos de pesquisa pelo país que vão formar uma rede para
rastrear os passos do coronavírus e seguir catalogando as mutações.
'É importante ter vários grupos de diferentes regiões
trabalhando nisso para entender como é a distribuição do vírus pelo país. A
tendência é que esse tipo de tecnologia [para sequenciar o genoma] fique para
quando outros vírus aparecerem', afirma Ester Sabino, diretora do Instituto de
Medicina Tropical da USP.
A pesquisadora foi uma das responsáveis pelo sequenciamento
do genoma do vírus que causou o primeiro caso confirmado de Covid-19 no Brasil,
no final de fevereiro.
No futuro, o banco de dados que está sendo construído pode
ajudar a identificar os motivos de uma região ser mais afetada do que outra.
Estudos com o genoma do vírus também podem ser feitos com pacientes que tiveram
a forma mais grave da doença para investigar se o vírus que os infectou tem
alguma característica que o torna mais agressivo.
O sequenciamento contou com o suporte do supercomputador Santos
Dumont, abrigado no LNCC. A instituição, que fica em Petrópolis (RJ), e a Coppe
(Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia), da
UFRJ, abriram uma chamada pública para projetos de pesquisa que busquem uma
solução para a pandemia da Covid-19.
Cientistas de toda a América Latina podem se inscrever para
usar a capacidade de computação do Santos Dumont e do Lobo Carneiro
(supercomputador da Coppe) para desenvolver seus projetos – Seleções /
Folhapress.
Carlos Magno
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