Após ser agredida durante um ato em favor do isolamento
social, em frente ao Palácio do Planalto, nesta sexta-feira (1º), a enfermeira
Ana Catarine Carneiro, de 31 anos, disse ao G1 que voltou para casa "triste
e com o sentimento de desvalorização".
"Os profissionais de saúde no mundo estão sendo
aplaudidos, e no Brasil a gente apanha."
A confusão ocorreu pela manhã, em Brasília, no Dia do
Trabalhador, quando profissionais de saúde faziam um protesto silencioso na
Praça dos Três Poderes (veja vídeo acima). O grupo segurava cruzes, em
referência aos mortos por Covid-19 no país.
Durante o ato, um homem vestido nas cores verde e amarelo
começou a filmar os profissionais. Na camisa, ele estampava os dizeres "meu
partido é o Brasil". Além das agressões verbais, o vídeo feito por
representantes do Sindicato de Enfermeiros (Sindenfermeiro-DF) mostra que o
manifestante chegou a agredir a mulher fisicamente.
"Ele falava muitos palavrões, me empurrou e bateu na
minha cabeça", afirmou a profissional que trabalha em um hospital público
da capital. O G1 não conseguiu localizar o homem que aparece na gravação.
Depois do ato, o Sindicato dos Enfermeiros divulgou uma nota
de repúdio às agressões físicas e verbais sofrida pelos profissionais nesta
sexta (veja integra da nota abaixo). O comunicado atribui as agressões a
"apoiadores do Presidente da República".
"As atitudes tomadas pelos apoiadores do governo vão ao
encontro de ideologias fascistas e antidemocráticas. Infelizmente, são
embasadas pelas atitudes do Presidente da República que diversas vezes debocha
das consequências da pandemia, desconsidera todas as recomendações e diretrizes
sobre a importância do isolamento social ao combate do novo coronavírus."
O G1 pediu um posicionamento do Planalto e aguardava retorno
até a publicação desta reportagem.
Já a Polícia Civil do DF, ao ser questionada sobre a ocorrência,
afirmou que "até o momento não localizou registro". A Polícia
Militar, que esteve no local, informou que "houve um bate-boca entre dois
grupos de manifestantes". Segundo a corporação, militares conversaram com
os grupos, "os ânimos se acalmaram e a situação resolvida no local".
O ato
Usando jaleco e máscaras, os profissionais de saúde se
posicionaram em frente ao Palácio do Planalto. Além das cruzes, eles usavam uma
faixa preta no braço, em referência ao luto.
De acordo com a enfermeira Marcela Vilarim, que participou
da homenagem, profissionais de saúde estão virando pacientes por conta do
coronavírus.
"A gente precisa de mais do que palmas, nós precisamos
de valorização, de respeito, e isso passa pela manutenção do isolamento
social."
Ao G1, os organizadores afirmaram que a manifestação também
foi "em defesa do SUS e dos profissionais de enfermagem".
7 mil afastamentos de
enfermeiros
Segundo um levantamento do Conselho Federal de Enfermagem
(Cofen), a pandemia do novo coronavírus já provocou mais de 7 mil afastamentos
do trabalho.
Só nos serviços de enfermagem, 53 pessoas morreram por causa
da doença. No Distrito Federal foram duas pessoas.
Entre as queixas dos profissionais, está a falta de
estrutura. Mas o medo, as longas jornadas de trabalho e a grande pressão também
atingem em cheio quem está na linha de frente do combate à Covid-19.
Ao todo, já são mais de 4,8 mil denúncias por falta de
equipamentos de proteção individual (EPIs) para trabalhar, de acordo com o
Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).
O que diz o Sindicato
dos Enfermeiros do DF
Após o ato, nesta sexta-feira (1º), o Sindicato dos
Enfermeiros divulgou nota de repúdio às agressões físicas e verbais contra os
profissionais que participaram da manifestação.
Leia íntegra abaixo:
"O Sindicato dos
Enfermeiros do Distrito Federal vem por meio dessa nota repudiar agressões
físicas e verbais que apoiadores do Presidente da República cometeram contra
enfermeiras na manhã desta sexta-feira, dia 1º de maio, que participavam de um
ato na Praça dos Três Poderes.
O ato tinha como
objetivo chamar a atenção para a enfermagem nacional. O protesto tinha três
objetivos centrais: defender o isolamento social com base científica,
homenagear os trabalhadores da enfermagem de todo o Brasil que morreram lutando
contra a Covid-19 e mostrar a importância da categoria.
O Ato foi uma
iniciativa da categoria, apoiada pelo Sindenfermeiro, uma vez que os diretores
da entidade são enfermeiros e também estão na linha de frente. A organização se
deu a partir dos próprios trabalhadores da enfermagem que estão na linha de
frente contra o novo coronavírus.
As atitudes tomadas
pelos apoiadores do governo vão ao encontro de ideologias fascistas e
antidemocráticas. Infelizmente, são embasadas pelas atitudes do Presidente da
República que diversas vezes debocha das consequências da pandemia,
desconsidera todas as recomendações e diretrizes sobre a importância do
isolamento social ao combate do novo coronavírus.
Hoje, no Brasil, são
mais de 2,3 milhões de profissionais de Enfermagem, que estão na luta contra a
Covid-19. Por isso, em respeito à vida da maioria da população e pensando na
segurança dos milhares trabalhadores da saúde que superam o medo para salvar
vidas, o SindEnfermeiro repudia, veementemente, as atitudes fascistas e
antidemocráticas do grupo pró-governo, e ressalta a importância de a população
seguir as recomendações da comunidade científica mundial de isolamento social.
O sindicato se orgulha
das enfermeiras que resistiram às provocações do grupo bolsonarista. A
enfermagem é feita de luta. O SindEnfermeiro reitera seu compromisso pela
defesa das enfermeiras e enfermeiros, do Sistema Único de Saúde público e
universal e da democracia acima de tudo e de todos.
E por fim, relembra
#LuteComoUmaEnfermeira !" – G1.
Carlos Magno
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