O presidente Jair Bolsonaro mandou repórteres calarem a boca
nesta 3ª feira (5.mai.2020) e disse que não interferiu na mudança da
superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, berço político de sua
família. O novo diretor-geral da corporação, Rolando Alexandre de Souza, foi
nomeado na última 2ª feira (04.mai) e, logo que assumiu, decidiu trocar o
comando daquele Estado.
Ao deixar o cargo, o ex-ministro Sergio Moro (Justiça e
Segurança Pública) afirmou que Bolsonaro queria influenciar em investigações.
De acordo com ele, o presidente queria trocar o então diretor-geral Maurício
Valeixo para ter alguém de seu “contato pessoal”.
Primeiro, Bolsonaro tentou nomear Alexandre Ramagem, que
integrou sua escolta e é amigo de seus filhos. Ramagem é também o diretor-geral
da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). A nomeação foi barrada por
decisão liminar do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal
Federal). O presidente, então, nomeou Rolando de Souza, que é braço direito de
Ramagem na própria Abin.
“A imprensa, ouça o povo!”, disse Bolsonaro nesta 3ª feira,
na saída do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência.
“Ouça o povo!”, gritou 1 apoiador.
“Para de fazer politicalha contra o Brasil. Eu vou falar
sobre essa patifaria da Folha de S.Paulo daqui a pouco aqui. Só isso e mais
nada”, prosseguiu Bolsonaro.
O mesmo apoiador voltou a falar. Defendeu uma “quarentena
vertical” na qual “as pessoas possam voltar a trabalhar”. Ele disse que os
repórteres que estavam ao lado integram uma “mídia porca que não vale nada”. A
reportagem do Poder360 estava no local.
“Claro que não agravando a todos, tem profissionais sérios
aqui, mas 90% é uma mídia podre que quer destruir o Brasil. Comunismo e
socialismo! Nós não vamos permitir que comunismo entre no Brasil. Socialismo
também não. A nossa bandeira, ela não é vermelha. Ela é verde e amarela. Nas
nossas veias, senhor presidente, corre sangue verde e amarelo. E no nosso
coração bate, bate no ritmo do Brasil”, discursou o bolsonarista.
Depois do discurso, que foi encerrado com o lema de campanha
de Bolsonaro (“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”), o presidente
começou a falar:
“Pessoal, joga rápido aqui, só vou falar uma coisa e vou
embora. Manchete da Folha de S.Paulo de hoje…”
“Porca!,” gritou o apoiador.
“Novo diretor da PF assume a acata pedido de Bolsonaro”,
disse Bolsonaro, lendo a manchete do jornal. “Que imprensa canalha a Folha de
S.Paulo”, continuou.
“Canalha é elogio para a Folha de S.Paulo. O atual
superintendente do Rio de Janeiro, que o Moro disse que eu quero trocar por
questões familiares… Não tem nenhum parente meu investigado pela Polícia
Federal –nem eu, nem meus filhos. Uma mentira que a imprensa replica o tempo
todo: dizer que os meus filhos querem trocar o superintendente. Para onde é que
está indo o superintendente do Rio de Janeiro? Para ser o diretor-executivo da
PF. Ele vai sair da superintendência. São 27 superintendências no Brasil, para
ser diretor-executivo. Eu estou trocando ele? Eu estou tendo influência sobre a
Polícia Federal? Eu estou tendo influência?”, acrescentou.
“O senhor pediu a troca, presidente?”, perguntou uma
repórter.
“Isso é uma patifaria!”, gritou Bolsonaro.
“O senhor pediu alguma troca no Rio?”, perguntou novamente a
repórter.
“Cala a boca! Não te perguntei nada!”, gritou mais uma vez.
Os apoiadores vibraram.
“O senhor pediu a troca, presidente?”, insistiu outro
repórter.
“Cala a boca! Cala a boca!”, continuou.
Bolsonaro seguiu criticando a imprensa e foi embora, sem
responder diretamente às perguntas sobre a troca na Polícia Federal do Rio. Os
apoiadores aplaudiram a atitude e começaram a dirigir ofensas aos
profissionais, como de costume – Poder 360.
Carlos Magno
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