O ex-ministro da Justiça Sergio Moro afirmou, em depoimento
à Polícia Federal, que o presidente Jair Bolsonaro pediu, por mensagem, a troca
do superintende da corporação no Rio de Janeiro. De acordo com Moro, sem
apresentar motivos, o chefe do Executivo queria a demissão de Carlos Henrique,
que ainda está oficialmente no cargo, mas deve ser trocado nas próximas horas.
"Moro você tem 27 Superintendências, eu quero apenas
uma, a do Rio de Janeiro", teria escrito Bolsonaro ao então ministro,
segundo o depoimento, revelado pela CNN Brasil (leia a íntegra no arquivo
abaixo).
Ainda de acordo com Moro, a mensagem foi enviada em março
quando o ex-juiz estava em Washington, numa viagem da qual fazia parte Maurício
Valeixo, ex-diretor-geral da PF. Diz o trecho do depoimento:
"QUE no começo de março de 2020, estava em Washington,
em missão oficial com o Dr. VALEIXO;
QUE recebeu mensagem pelo aplicativo Whatsapp do Presidente
da República, solicitando, novamente, a substituição do Superintendente do Rio
de Janeiro, agora CARLOS HENRIQUE;
QUE a mensagem tinha,
mais ou menos o seguinte teor: “Moro você tem 27 Superintendências, eu quero
apenas uma, a do Rio de Janeiro.”
Também segundo Moro, ele e Valeixo pensaram em aceitar a
troca para evitar uma crise com o presidente. No entanto, Valeixo declarou que
não poderia ficar no cargo caso a troca no comando da PF no Rio ocorresse sem
um motivo técnico. A insistência de Bolsonaro em mudar a direção da corporação
em solo flumiense teria começado em janeiro e se intensificado em março.
Quem falou em crime
foi Aras
No depoimento, Moro afirmou que não acusou o presidente de
cometer crimes quando pediu demissão do cargo de ministro da Justiça, mas
apenas "prestou as declarações" para "esclarecer as
circunstâncias de sua saída" e "proteger a autonomia da Polícia
Federal.
Consta do depoimento que Moro "reitera que em seu
pronunciamento narrou fatos verdadeiros, mas, em nenhum momento, afirmou que o
Presidente da República teria praticado um crime e que essa avaliação cabe às
instituições competentes.
Moro ressaltou ainda que o primeiro a mencionar a
possibilidade de crime cometido pelo presidente Bolsonaro foi o
procurador-geral da República, Augusto Aras, ao solicitar abertura de inquérito
ao Supremo Tribunal Federal.
Heleno sabia das
pressões
O ex-ministro disse ainda à Polícia Federal que a pressão de
Bolsonaro para que então diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo, fosse
substituído era de conhecimento de "várias pessoas" do Palácio do
Planalto e que o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI), presenciou um pedido de Bolsonaro para que Alexandre
Ramagem assumisse o comando da Polícia Federal. Diz o documento:
"QUE mesmo antes, mas, principalmente, a partir dessa
época o Presidente passou a insistir na substituição do Diretor da PF, MAURÍCIO
VALEIXO; QUE essa pressão foi,
inclusive, objeto de diversas matérias na imprensa; QUE conseguiu demover o presidente dessa
substituição por algum tempo; QUE o
assunto retornou com força em janeiro de 2020, quando o Presidente disse ao
Declarante que gostaria de nomear ALEXANDRE RAMAGEM no cargo de Diretor Geral
da Polícia Federal e VALEIXO iria, então, para uma Adidância; QUE isso foi dito verbalmente no Palácio do
Planalto; QUE, eventualmente o General
Heleno se fazia presente; QUE esse
assunto era conhecido no Palácio do Planalto por várias pessoas."
Leia a íntegra do depoimento de Moro à PF, CLIQUE AQUI.
Carlos Magno
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