Sem o adiamento do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), os
estudantes mais pobres temem não estar preparados para as provas. Um estudo
exibido no Jornal Nacional desta quarta-feira (13) revela que mais de 2,3
milhões candidatos não têm computador em casa – quase a metade dos inscritos.
A pesquisa, realizada pela Casa Fluminense – organização que
estuda a vida urbana nas periferias –, também apontou que a maioria dos
estudantes frequenta escolas públicas e vive em estados do Norte e do Nordeste
do país.
Por não ter como acessar a internet, grande parte deles teme
não conseguir uma vaga em universidades públicas. O levantamento também
identificou que a maioria dos alunos sem acesso a computadores é do Maranhão.
"A gente tem um cenário de alunos que precisa
compartilhar o seu quarto, o seu ambiente. [Eles] Não têm um ambiente
silencioso para estudar, estão fazendo leituras e atividades escolares através
de celulares, com toda limitação que isso impõe e, muitas vezes, têm que
dividir seu horário do dia com atividades profissionais, com cuidados com família,
com filhos e outras atividades necessárias para a sobrevivência, que ficam
ainda mais desafiadores nesse ambiente de isolamento social", explicou a
antropóloga Yasmim Monteiro, da Casa Fluminense.
Belford Roxo sem
acesso
No Ri de Janeiro, Belford Roxo é a cidade da Região
Metropolitana com maior número de alunos sem acesso a um computador, o que
dificulta o estudo. Lá, pouco mais de 9 mil alunos se preparam para as provas
do Enem, só que mais de 4 mil tem dificuldade de acesso ao conteúdo online.
Em Japeri, também na Região Metropolitana, 47% dos alunos
não tem acesso a um computador. Em Queimados, Guapimirim e Magé, na Baixada
Fluminense, o percentual chega a 42%. Duque de Caxias e Nova Iguaçu, também na
Baixada, são quase 40%.
Provas em novembro
Com quase metade dos alunos sem acesso a computadores e, por
enquanto, impossibilitados de realizar a prova presencial – devido à pandemia
de Covid -19 –, ainda assim as provas do Enem estão marcadas para novembro.
Universidades têm se manifestado pelo adiamento do exame.
Durante o período de crise sanitária, as aulas têm ocorrido
online, mas o conteúdo não chega para todos.
"Na minha localidade não tem wi-fi então quando tento
entrar em qualquer site pra saber os conteúdos eu não consigo , não
carrega", afirmou a estudante Carolyne Martins.
Carolyne faz parte de um grupo de alunos que não tem
computador e precisa usar o celular para estudar.
"Minha maior dificuldade para estudar nessa quarentena
está sendo o tamanho das letrinhas, porque me confunde muito, e no celular eu
recebo muita notificação e eu não consigo", explicou outra aluna, Lais
Barbalho da Silva.
Além da dificuldade de acompanhar as aulas, Lais também não
sabe até quando vai ter acesso à internet.
"Eu só tenho [internet] no celular. Por enquanto, ainda
tenho wi-fi, mas minha mãe ainda não recebeu o auxílio, então tá um pouco
difícil pra gente, pra poder ainda manter a internet dentro de casa",
lamentou a estudante.
A também estudante Ana tem usado o telefone celular da mãe
para estudar, mas nem sempre consegue.
"Tem semana que minha mãe consegue botar o crédito, pra
eu conseguir acessar. (...) Mas tem semanas que estou sem internet, sem
crédito, não tenho dinheiro pra colocar e fico sem acessar", detalhou.
Para Claudia Costin, especialista em educação, manter a data
do Enem pode dificultar ainda mais o acesso dos mais pobres às universidades.
"Não é só a questão do online. (...) No papel, eles
saem perdendo a frente dos alunos que vivem numa casa com livros, com pais que
discutem temas da atualidade e computadores que não são compartilhados",
ponderou a especialista – G1.
Carlos Magno
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