Técnicos do Ministério da Saúde apostam em uma possível
debandada do órgão após a demissão de Nelson Teich. O clima de trabalho, dizem,
está “insustentável” e há pressão tanto de defensores do fim do distanciamento
social como de quem pede mais rigidez do governo para conter o avanço da
covid-19.
Segundo relatos de auxiliares de Teich, o general Eduardo
Pazuello, secretário-executivo da pasta, já teria cobrado novo protocolo para
uso da cloroquina contra a covid-19, medicamento sem eficácia comprovada. O
presidente Jair Bolsonaro defende uso ampliado da droga, mesmo para quem
apresenta sintomas leves e até de forma preventiva.
Em nota na noite desta sexta-feira, divulgada após a
demissão de Teich, o Ministério da Saúde confirmou que está “finalizando as
novas orientações”, como antecipou o estadão mais cedo. “Objetivo é iniciar o
tratamento antes do seu agravamento e necessidade de utilização de UTI
(Unidades de Terapia Intensiva). Assim, o documento abrangerá o atendimento aos
casos leves, sendo descritas as propostas de disponibilidade de medicamentos,
equipamentos e estruturas, e profissionais capacitados”, diz a pasta.
O atual protocolo do Ministério da Saúde é mais cauteloso e
segue sociedades científicas. O medicamento pode favorecer quadros de arritmia,
hemorragias, entre outros. A cloroquina é permitida pela pasta a pacientes em
estado moderado, grave ou crítico. É preciso estar em ambiente hospitalar para
receber a droga, seja em observação ou internado.
Funcionários da pasta se dizem preocupados ainda com o
discurso do presidente contra o distanciamento social em meio à escalada de
mortes pela doença. Monitor do isolamento social feito pelo Estadão, com dados
da Inloco, mostra que a média de confinamento no País está em queda, hoje com
percentual médio de 43,4%. Especialistas apontam que, no mínimo, é necessário
70%.
Para técnicos da pasta, é dado como certo que o sucesso de
Teich promoverá uma "ruptura" com o que tem sido feito até agora.
Bolsonaro já deixou claro que escolhido irá “falar a sua língua” e mudar
orientações sobre isolamento e cloroquina.
O Ministério da Saúde revisa diariamente estudos sobre
cloroquina e outros medicamentos investigados para a covid-19. Até agora, não
há indicações de drogas promissoras. Técnicos do ministério receberam aval de
revista científica da Fiocruz para publicação de artigo que reforça a falta de
eficácia da droga para o novo coronavírus.
Sem plano
Teich entrou “perdido” no governo e sem plano de trabalho,
segundo um auxiliar do próprio ex-ministro. A principal proposta do
oncologista, a nova “matriz de risco” sobre distanciamento social, foi
rejeitado por secretários de Estados e de municípios, como antecipou o Estadão.
Bolsonaro também não gostou, dizem integrantes do ministério que acompanharam a
discussão.
Sem o aval de representantes dos governos locais, a matriz
não poderia se tornar uma portaria nacional, com força de exigir a busca por
dados. Ou seja, seria apenas uma orientação vaga.
Teich demitiu-se do ministério sem chegar a montar a sua
equipe. Os militares emplacaram ou ainda devem nomear mais de uma dezena de
nomes, além de Pazuello, em áreas estratégicas, responsáveis por compras,
orçamento, gestão de pessoas e dados. O “Centrão” também espera a sua fatia da
Saúde. A Secretaria de Atenção Especializada à Saúde (SAES), responsável pelo
custeio milionário de leitos em Estados e municípios, foi prometida ao PL, partido
ligado ao ex-deputado Valdemar da Costa Neto, condenado no mensalão.
As mudanças feitas em menos de um mês de gestão Teich ainda
esvaziaram áreas estratégicas do ministério.
Responsável pela gestão de postos de saúde, ambulatórios e
atendimentos de “saúde da família”, a Secretaria de Atenção Primária à Saúde
(Saps) está sem secretário e perdeu cerca de 10 funcionários que atuavam na
coordenação de projetos.
A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), responsável pela
elaboração de diretrizes do governo federal sobre a resposta à covid-19,
incluindo medidas de isolamento social, também foi atingida. Deixaram a pasta,
entre outros, os técnicos Sônia Maria Feitosa Brito e Rodrigo Lins Frutuoso,
que há mais de uma década faziam parte da equipe do ministério – Estadão.
Carlos Magno
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