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21/05/2020

“Casos pequenininhos de corrupção podem acontecer em qualquer governo”, diz Olavo de Carvalho, “guru” de Bolsonaro, sobre caso Queiroz


Embora diga que o presidente Jair Bolsonaro deve ser qualificado mais como um "seguidor de YouTube" do que como um discípulo de sua filosofia, o escritor Olavo de Carvalho mantém um discurso sintonizado com o do Palácio do Planalto.

 

Quase um ano e meio após o início da atual gestão, Olavo afirma que o presidente é "morbidamente honesto". Para advogar pela honestidade e inocência de Bolsonaro, o escritor concede até dizer que ele é "despreparado".

 

"Você pode chamá-lo de burro, de mau administrador, mas de ladrão você não vai conseguir", afirma Olavo, que mora há 16 anos nos Estados Unidos.

 

Para o escritor, a culpa pelas dificuldades do governo é do Supremo Tribunal Federal e do Congresso.



 

"Eles estão apenas interessados em destruir Bolsonaro", disse à BBC News Brasil, em uma entrevista feita por vídeo, de sua casa na pequena cidade de Petersburg (Virgínia), no dia 14 de maio.

 

Olavo ecoa o teor de manifestações populares — das quais o próprio presidente participou nas últimas semanas — que pedem o fechamento ou troca de membros dos outros dois Poderes. Ele afirma que escreveu várias vezes para Bolsonaro dizendo que "o senhor não pode começar a exercer a Presidência antes de assegurar que tem o poder na mão, e o senhor não vai ter o poder na mão se o senhor não amarrar a mão desses camaradas que estão boicotando 24 horas por dia".

 

Bolsonaro enfrenta seu pior momento no poder. No último mês, em meio à aceleração da epidemia de coronavírus que já matou mais de 19 mil brasileiros, ele perdeu dois ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.

 

No mesmo período, o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro deixou a pasta da Justiça e Segurança Pública atirando: acusou Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal. Segundo Moro, o objetivo do presidente seria proteger a família de investigações no Rio de Janeiro.

 

O maior foco de tensão policial seria o inquérito que apura se Fabrício Queiroz — amigo pessoal do presidente e ex-chefe de gabinete de seu filho, Flávio Bolsonaro, quando este era deputado estadual no Rio, até 2018 — operava um esquema de "rachadinhas": de acordo com os investigadores, assessores eram empregados de fachada e devolviam o dinheiro público que recebiam como salário para Queiroz.

 

Olavo se exalta ao falar do assunto.

 

"Em primeiro lugar, o Queiroz não é filho do Bolsonaro, o Queiroz foi um chofer do cara! Então eu tenho um chofer que é ladrão e eu sou o culpado agora?", questiona.

 

Para ele, Moro deixou o cargo porque pretende ser candidato à Presidência em 2022 e atuou para atrapalhar as investigações em relação à facada que Bolsonaro sofreu durante a campanha de 2018.

 

"Primeiro nós temos que resolver quem mandou matar o Bolsonaro, depois verificamos se os filhos dele roubaram palito de fósforo, pô."

 

A Polícia Federal concluiu na semana passada o segundo inquérito sobre o crime, e repete que o autor da facada, Adélio Bispo, agiu sozinho.

 

Quanto ao coronavírus, Olavo é contrário às medidas de isolamento social e ao uso de máscara. Ele chega até a duvidar que as mortes contabilizadas ao redor do mundo sejam mesmo fruto de uma epidemia e, em suas redes sociais, afirmou que seria necessário um exame em cada órgão dos mortos para ter certeza que a causa do óbito não foi outra doença.

 

Seu ceticismo, no entanto, não se estende à cloroquina, medicamento defendido por Bolsonaro como eficaz contra a covid-19 - mesmo sem comprovação científica disso.

 

"O nível de cura é imenso. No Brasil, o sucesso da cloroquina está mais do que comprovado", diz.

 

Recentemente, o presidente ordenou a produção do remédio em massa pelo Exército, embora estudos não confirmem a eficácia da droga no combate à covid-19 e apontem para o alto risco de efeitos colaterais para os pacientes.

 

A insistência de Bolsonaro em relação à cloroquina teria levado ao pedido de demissão do médico Nelson Teich do Ministério da Saúde, na semana passada.

 

Em quase três horas de entrevista, Olavo, que já foi chamado por Bolsonaro e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de "o líder da revolução", afirmou ainda que a indicação de Regina Duarte para a secretaria da Cultura foi um erro, mas se disse orgulhoso da atuação do chanceler Ernesto Araújo, que ele também indicou. Na última quarta-feira, Duarte deixou o cargo após semanas de 'fritura' pelas redes sociais bolsonaristas.

 

Carvalho também afirmou que a composição "técnica" do ministério, sem indicação de nomes por partidos, atrapalhou a formação de uma base presidencial no Congresso e que é necessário "nomear uns filhos da p*** para ter um pouco de apoio".

 

Ele ainda chamou a Constituição Federal de "um documento de merda" e disse que uma invasão de militantes direitistas ao STF não seria um ato antidemocrático. Acusou a imprensa de ser comunista e que usa técnicas da KGB, o antigo serviço secreto soviético.

 

O escritor ainda relembrou seu período como líder de um grupo islâmico esotérico e sua amizade com os petistas José Dirceu e Rui Falcão.

 

Conhecido por manter um cigarro entre os dedos enquanto apresenta seus vídeos, Olavo, de 73 anos, perdeu essa marca: por conta de um problema na traqueia, ele foi aconselhado a deixar de fumar. Mas os palavrões e o estilo verborrágico de falar seguem os mesmos – BBC News.

 

Carlos Magno

 

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