Um dos principais personagens da reunião ministerial de 22
de abril, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, gerou outra dor de cabeça
para o governo federal em meio a um clima político que já anda bastante
conturbado por conta da pandemia do novo coronavírus e do inquérito no Supremo
Tribunal Federal contra o presidente Jair Bolsonaro sobre suposta interferência
na Polícia Federal.
Devido ao tom ríspido e pouco polido adotado por ele ao
desabafar sobre o momento do país — quando xingou os ministros do Supremo de
“vagabundos” e disse que gostaria de botá-los “na cadeia” —, ele corre o risco
de ser processado pelo STF, que avalia a possibilidade de representar contra o
ministro na Procuradoria-Geral da República (PGR).
Em outra frente, o Ministério Público Federal deve pedir
nesta segunda-feira (25/5) a abertura de inquérito contra Weintraub pelo crime
de racismo contra povos indígenas e ciganos. Na reunião ministerial, o ministro
diz que “odeia” os termos “povos indígenas” e “povo cigano”.
Relator do inquérito em tramitação no STF, o ministro Celso
de Mello destacou que “essa gravíssima aleivosia perpetrada por referido
ministro de Estado, consubstanciada em discurso contumelioso e aparentemente
ofensivo ao patrimônio moral dos ministros da Suprema Corte brasileira (‘Eu,
por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF’) —, põe em evidência, além do seu destacado grau
de incivilidade e de inaceitável grosseria, que tal afirmação configuraria
possível delito contra a honra (como o crime de injúria)”.
Celso de Mello tem consultado os demais 10 integrantes da
Corte para saber como proceder contra Weintraub. O ministro Marco Aurélio Mello
disse ter ficado “perplexo” com o comportamento do ministro e comentou que se
ele fosse o presidente da República “teria um gesto de temperança” e o
“instaria a pedir o boné”. “Tudo lamentável, ante a falta de urbanidade. O povo
não quer ‘circo’. Quer saúde, emprego e educação”, disse ao jornal O Estado de
S.Paulo. “Não sou vagabundo. A carapuça passou longe”, acrescentou.
Congresso
A avaliação de que seria recomendável a Bolsonaro demitir
Weintraub também é compartilhada no Congresso, inclusive, por parlamentares da
base governista. O vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR),
reclamou que o ministro da Educação age “sempre de forma despropositada” e
abusa de “arroubos de oratória”. “Essa manifestação dele na reunião eu acho que
foi absolutamente desnecessária e despropositada. Isso só faz com que se haja
uma indignação coletiva e fragiliza cada vez mais a posição dele como
ministro”, comentou. “Mais cedo ou mais tarde, no meu entendimento, ele será
substituído, pois as suas palavras inadequadas são irrefreáveis. Isso atrapalha
tanto a relação do Congresso com o presidente, quanto a determinação de
Bolsonaro de mudar a história desse país. Nós queremos ministros que ajam como
conciliadores, e não ministros que provocam crises desnecessariamente”,
analisou.
Também vice-líder do governo no Senado, Elmano Férrer
(Podemos-PI) reclamou que Weintraub tenha sido “muito intempestivo” no encontro
ministerial. “Isso é um absurdo e algo inconcebível. Tudo tem limite. Os meus
direitos terminam quando começam os dos outros. Não caberia aquilo. Isso é
muito grave. Ele foi muito infeliz no pronunciamento e não tratou uma palavra
sobre educação”, criticou.
Brasília reage
Outro comentário de Weintraub bastante criticado no
parlamento foi o sobre ele querer “acabar com essa porcaria que é Brasília”. O
ministro também chamou a capital federal de “um cancro de corrupção, de
privilégio” e comentou que “tinha uma visão negativa de Brasília e vi que é
muito pior do que eu imaginava”. A bancada brasiliense no Congresso repudia o
comportamento de Weintraub. “Weintraub demonstra não conhecer a capital e
esquece que o DF tem mais de 3 milhões de habitantes e ainda conta com outros 2
milhões em volta. Ele acha que Brasília é só a Esplanada. Ele é radical,
polariza de graça e cria situações desnecessárias”, lamentou o senador Izalci
Lucas (PSDB-DF), que teve o respaldo do deputado Luis Miranda (DEM-DF).
“Ele deveria respeitar os milhares de brasilienses honestos
e trabalhadores que, literalmente, pagam o salário dele. Não é justo ficar
ofendendo uma população que é exemplo de esforço e resultados em todo o Brasil,
além de educação, diferente do Weintraub”, frisou Miranda. Já o deputado Israel
Batista (PV-DF) analisa que “não há surpresa alguma quando a frase vem do pior
ministro de Educação da história brasileira”. “O ministro quer destruir a
democracia por dentro, atacando as instituições. Ele faz parte de uma
orquestração para implantar um regime autoritário no país. Ele deveria ser
afastado do ministério.”
No domingo (24/5), Weintraub utilizou as redes sociais para
se defender dos ataques. “Tentam deturpar minha fala para desestabilizar a nação.
Não ataquei leis, instituições ou a honra de seus ocupantes. Manifestei minha
indignação, liberdade democrática, em ambiente fechado, sobre indivíduos.
Alguns, não todos, são responsáveis pelo nosso sofrimento, nós cidadãos.”
Repúdio do Memorial
JK
O Memorial JK divulgou uma nota em que repudia os
comentários do ministro da Educação na reunião ministerial. “Declarações que,
além de agredirem Brasília e os seus cidadãos, demonstram profundo
desconhecimento da história do país e da importância da nova capital para a
integração nacional e o desenvolvimento econômico e social do Centro-Oeste e do
Norte do Brasil. Desrespeita ainda os mais de 2 milhões de brasilienses que
vivem, trabalham, pagam impostos e geram riquezas neste magnífico quadrilátero
que temos a honra de chamar Brasília”, disse.
MEMÓRIA
Histórico polêmico
O ministro da Educação sempre esteve vinculado a polêmicas
desde que assumiu a pasta. As confusões mais recentes ocorreram em meio à
pandemia do novo coronavírus. No mês passado, Weintraub utilizou uma edição da
Turma da Mônica para atacar a China. Em uma publicação nas redes sociais, ele
fez chacota com o modo de falar português dos chineses, trocando o “r” pelo
“l”, do mesmo modo como faz o personagem Cebolinha.
Ele insinuou ainda que a China saiu “fortalecida” da crise
do novo coronavírus, obtendo benefícios da pandemia como parte de um “plano
infalível” para dominar o mundo. “Geopoliticamente, quem podeLá saiL
foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha?
Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o
mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?”, escreveu o ministro, que depois
apagou o post.
Também em abril, Weintraub disse que é alta a probabilidade
de outra pandemia como a da covid-19 surgir na China nos próximos 10 anos,
pois, segundo ele, os chineses “comem tudo que o sol ilumina e algumas coisas
que o sol não ilumina comem também”. “Os chineses não vão mudar os hábitos
deles dos últimos milhares de anos em 10 anos”, disse – Correio Braziliense.
Carlos Magno
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