O presidente Jair Bolsonaro voltou a se pronunciar nesta
quinta-feira (28) sobre a operação da Polícia Federal que, na quarta (27),
cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a empresários e
blogueiros que apoiam o governo. O ação foi autorizada pelo ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes dentro do inquérito que investiga
ataques contra a corte, o financiamento e a disseminação de informações falsas
na internet.
Bolsonaro criticou fortemente a operação e, em um dos momentos
de sua fala, disse que "as coisas têm um limite". Na sequência, sem
citar nomes, o presidente usou um palavrão para dizer que não vai mais admitir
"atitude de certas pessoas, individuais".
"As coisas têm um limite. Ontem foi o último dia. Eu
peço a deus que ilumine as poucas pessoas que ousam se julgar melhor e mais
poderosas do que os outros, que se coloquem no seu devido lugar, que nós
respeitamos e dizemos mais: não podemos falar em democracia sem um Judiciário
independente, sem um Legislativo também independente, para que possam tomar
decisões, não monocraticamente por vezes, mas as questões que interessam ao
povo como um todo, que tomem, mas de modo que seja ouvido o colegiado. Acabou,
porra! Me desculpem o desabafo. Acabou! Não dá para admitir mais atitudes de
certas pessoas individuais, tomando de forma quase que pessoal certas
ações."
Bolsonaro fez as declarações na manhã desta quinta em frente
ao Palácio da Alvorada. Foi segunda vez que ele se pronunciou sobre a operação
da PF.
Na noite de quarta, por meio de uma rede social, o
presidente afirmou que "algo de muito grave está acontecendo com nossa
democracia" e que "cidadãos de bem" haviam sido alvo dos
mandados de busca e apreensão.
Também na quarta, um dos filhos do presidente, o deputado
federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), cogitou, durante uma live, a necessidade de
adoção de "medida enérgica" pelo pai. O deputado falou ainda em
"momento de ruptura" e disse que a questão não é de "se",
mas, sim, de "quando" isto vai ocorrer.
Na fala desta quinta, Bolsonaro começou dizendo que a
liberdade de expressão é "algo sagrado" e que a mídia tradicional e
as redes sociais precisam conviver.
Em seguida, o presidente afirmou que o processo no STF, que
ficou conhecido como "inquérito das fake news", que atinge aliados
seus, foi criado "em cima de um factóide". Ele se refere à informação
de que existe na Presidência da República um "gabinete do ódio",
responsável por produzir ataques na internet contra desafetos do presidente e
de sua família.
"Dizer a vocês que inventaram o nome do gabinete do
ódio, alguns acreditaram e outros foram além: abrir processo no tocante a isso.
Não pode um processo começar em cima de um factoide. Em cima de uma fake news.
Respeitamos os demais poderes, mas não abrimos mão que nos respeitem
também."
Bolsonaro afirmou que, na operação de quarta, a PF invadiu
"casas de pessoas inocentes, submetendo-as a humilhações perante esposas e
filhos". Segundo o presidente, o que ocorreu "é inadmissível".
Ele disse esperar que providências sejam tomadas para corrigir a ação.
“Todos nós, em nossos poderes, temos aquelas pessoas que
extrapolam. Comigo, quando acontece, eu tomo a providência, espero que o mesmo
aconteça com os demais poderes”.
Leia mais frases do presidente Jair Bolsonaro no pronunciamento
feito nesta quinta:
"Repito, não teremos outro dia igual ontem. Chega!
Chegamos no limite. Estou com as armas da democracia na mão. Eu honro os meus
compromissos no juramento que fiz quando assumi a Presidência da
República."
"Respeito o Supremo Tribunal Federal, respeito o
Congresso Nacional, mas para esse respeito continuar sendo oferecido da minha
parte, tem que respeitar o poder Executivo também. Humildade, lealdade ao povo
brasileiro, patriotismo, compromisso com o Brasil é o mínimo que se
espera."
"Nunca tive a intenção de controlar a Polícia Federal,
pelo menos isso serviu para mostrar ontem. Mas obviamente, ordens absurdas não
se cumprem. E nós temos que botar um limite nessas questões”.
"Essa historinha de querer criminalizar o crime de ódio
é um artifício para censurar a mídia social. Essa mídia social me trouxe à
Presidência. Sem ela, não estaria aqui."
"Pelo amor de Deus, o objetivo dessa ação é atingir
quem me apoia. Se eu tivesse feito algo contra a esquerda, estariam dando pancada
em mim. Eu convivo com a esquerda, posso não suportar, mas convivo. Estão
perseguindo gente que apoia o governo de graça. Querem tirar a mídia que eu
tenho, a meu favor, sob o argumento mentiroso de 'fake news.'"
"Que insanidade é essa? Sabemos qual é o objetivo de
alguns. Querem me tirar da cadeira pra voltar a roubar. Eu sei que é isso. Não
terão isso pra me acusar de nada, a minha vida foi revirada de perna pro ar,
não acharam nada porque não tem. Mas inventar factóides, fake news contra a
minha pessoa pra me tirar da cadeira? não vão tirar."
"Não existe pessoa mais do que eu que é achincalhada,
humilhada, agredida e ofendida nas mídias sociais. E nem por isso eu levantei
uma só palavra no sentido de controlar quem quer que se seja."
"Essa minha cadeira presidencial não é fácil. Confesso,
tá sendo mais difícil do que eu imaginava. Os inimigos não estão fora do
Brasil, estão aqui dentro. Não mais ousarão atingir direitos individuais,
chega."
O presidente também voltou a criticar decisão de outro
ministro do Supremo, Celso de Mello, que liberou o acesso público ao vídeo da
reunião entre Bolsonaro e seus ministros, realizada em 22 de abril. Celso de
Mello é relator do inquérito que apura a suposta tentativa do presidente de
interferir na Polícia Federal, que foi aberto após denúncia do ex-ministro da
Justiça, Sérgio Moro.
Moro apontou que a reunião comprovaria suas acusações.
Bolsonaro defendeu que fosse divulgado apenas o trecho da reunião relacionado
ao inquérito. Celso de Mello, porém, autorizou o acesso público da gravação na
íntegra.
O vídeo tem trechos polêmicos. Em um deles, o ministro da
Educação, Abraham Weintraub, defendeu a prisão de ministros do STF, chamados
por ele de "vagabundos".
O STF determinou que Weintraub preste depoimento sobre o
episódio, mas o ministro da Justiça, André Mendonça, pediu que o ministro da
Educação seja excluído do inquérito.
"Outra coisa, outra coisa, uma reunião reservada do
presidente da República, do vice-presidente e dos seus ministros, que era gravada
como de praxe pra que nós viéssemos a retirar parte daquilo pra mostrar nas
mídias sociais, e destruir a fita, lamentavelmente foi tornada pública. Ela
havia sido classificada como secreta pelo secretário de governo. Fizemos o
possível para que apenas a parte que interessasse ao inquérito fosse tornada
pública. Um ministro do STF resolveu suspender o grau de sigilo, expondo uma
reunião presidencial. E a partir disso, ouvir ministro meu, com ameaça de
prisão de até 20 anos? Eu peço que reflitam. Pelo amor de deus, eu peço que
reflitam! Pelo amor de deus, eu peço que reflitam!!"
"Peço pelo amor de deus, não prossigam esse tipo de
inquérito a não ser que seja pela lei do abuso de autoridade, que tá bem claro
de quem divulga vídeos, imagens ou áudios do que não interessa ao inquérito. Tá
lá, 1 a 4 anos de detenção. O criminoso não é o Weintraub, não é o Salles, não
é nenhum de nós. A responsabilidade de tornar público aquilo é de quem
suspendeu o sigilo de uma sessão cujo o vídeo foi chancelado como secreto."
– G1.
Carlos Magno
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