O presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo,
chamou o movimento negro de "escória maldita" em uma reunião gravada
sem que ele tivesse conhecimento. Na ocasião, Camargo também disse que Zumbi
era "filho da puta que escravizava pretos", criticou o Dia da
Consciência Negra, falou em demitir "esquerdista" e usou o termo
"macumbeira" para se referir a uma mãe de santo.
Os trechos foram divulgados nesta terça-feira (2) pelo
jornal "O Estado de S. Paulo". De acordo com a publicação, o
encontro, ocorrido em 30 de abril, teve participação de outros dois servidores
da fundação e serviu para tratar do desaparecimento de um celular corporativo
de Camargo.
Questionado na reunião a respeito de quem poderia ter pego o
aparelho, respondeu: "Qualquer um. Eu exonerei três diretores nossos assim
que voltei. Qualquer um deles pode ter feito isso. Quem poderia? Alguém que
quer me prejudicar, invadindo esse prédio aqui pra me espancar. Quem poderia
ter feito isso? Invadindo com a ajuda de funcionários daqui. O movimento negro,
os vagabundos do movimento negro, essa escória maldita".
Sobre Zumbi dos Palmares – que dá nome ao órgão de promoção
da cultura afro-brasileira –, Camargo comentou:
"Não tenho que admirar Zumbi dos Palmares, que pra mim
era um filho da puta que escravizava pretos. Não tenho que apoiar Dia da
Consciência Negra. Aqui não vai ter, zero – aqui vai ser zero pra [Dia da]
Consciência Negra. Quando eu cheguei aqui, tinha eventos até no Amapá, tinha
show de pagode com dinheiro da Consciência Negra. Aí, tem que mandar um cara
lá, pra viajar, se hospedar, pra fiscalizar... Que palhaçada é essa?".
Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa da Fundação
Palmares enviou nota na qual Camargo "lamenta a gravação ilegal de uma
reunião interna e privada".
"Assim, reitera que a Fundação, em sintonia com o
Governo Federal, está sob um novo modelo de comando, este mais eficiente,
transparente, voltado para a população e não apenas para determinados grupos
que, ao se autointitularem representantes de toda a população negra, histórica
e deliberadamente se beneficiaram do dinheiro público", continua a
comunicado (leia a íntegra ao final da reportagem).
Camargo chegou a ter
nomeação suspensa
A nomeação de Camargo para a presidência da Fundação
Palmares ocorreu no fim de novembro de 2019 e causou uma onda de reações. O
motivo foi uma série de publicações, nas redes sociais, em que o jornalista
relativizou temas como a escravidão e o racismo no Brasil.
Em 4 dezembro, a Justiça Federal do Ceará aceitou um pedido
de ação popular e determinou a suspensão a indicação.
Dias depois, o governo do presidente Jair Bolsonaro
suspendeu a nomeação do jornalista.
Finalmente, em fevereiro deste ano, o Superior Tribunal de
Justiça (STJ) reverteu a decisão da Justiça Federal do Ceará, atendendo a um
pedido feito pela Advocacia-Geral da União (AGU).
Nos áudios da reunião divulgados nesta terça pelo jornal
"O Estado de S.Paulo", Camargo lembrou o período em que ficou
afastado.
"Não recebi [salário], janeiro nem fevereiro. Agora vou
ter que devolver celular. Por uma liminar que me censurou, por causa das minhas
opiniões em redes sociais. Porque a esquerda acha que é propriedade, negro é
uma propriedade dela. Não tem direito a livre opinião, só pode expressar a
opinião da cartilha. Vocês vão se foder... Se tiver um esquerdista aqui, vocês
me digam, onde está esse filho da puta, que eu quero exonerar. Ou demitir. Ou
mandar pra outro órgão, se for efetivo", afirmou.
Em outro trecho, usou o termo "macumbeira" para se
referir a uma mãe de santo que, segundo ele, repassava informações à imprensa.
"Tem gente vazando informação aqui pra mídia. Vazando
pra uma mãe de santo, uma filha da puta de uma macumbeira. Uma tal de Mãe
Baiana, aquela que infernizava a vida de todo mundo. É. Além de fazer macumba
pra mim, essa miserável tá querendo agitar invasão aqui de novo. Eu sei, tem
gente no grupo dela de WhatsApp. Tinha esquema. Não vai ter nada, nada pra
terreiro, da Palmares, enquanto eu estiver aqui dentro. Nada, sério. Macumbeiro
não vai ter nenhum centavo."
O que diz a Fundação
Palmares
Veja, abaixo, nota
enviada pela Fundação Cultural Palmares:
O presidente da
Fundação Cultural Palmares (FCP), Sérgio Camargo, lamenta a gravação ilegal de
uma reunião interna e privada. Assim, reitera que a Fundação, em sintonia com o
Governo Federal, está sob um novo modelo de comando, este mais eficiente,
transparente, voltado para a população e não apenas para determinados grupos
que, ao se autointitularem representantes de toda a população negra, histórica
e deliberadamente se beneficiaram do dinheiro público.
Infelizmente ainda
existem, na gestão pública, pessoas que não assimilaram esta mudança e tentam
desconstruir o trabalho sério que está sendo desenvolvido. Seguimos firmes em
prol do Brasil e dos brasileiros! (Sérgio Camargo).
Fundação Cultural
Palmares
Com informações do Portal G1.
Carlos Magno
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