O presidente Jair Bolsonaro aceitou nesta terça-feira, 30, a
carta de demissão de Carlos Alberto Decotelli, nomeado ministro da Educação na
semana passada. Depois de seu currículo ter sido questionado por universidades
estrangeiras e pela Fundação Getulio Vargas, o governo pediu que o economista
deixasse o cargo para qual nem chegou a ser empossado. Ele ficou cinco dias no
cargo. É o terceiro ministro da Educação de Bolsonaro em 1 ano e meio de
governo.
O secretário-executivo do MEC, Antonio Vogel, também foi à
sede do Executivo, mas negou que estivesse indo falar com o presidente. O
governo não anunciou ainda o subsituto de Decotelli.
A gota d’água foi a nota da Fundação Getulio Vargas (FGV),
divulgada na noite de segunda-feira, informando que Decotelli não foi
pesquisador ou professor da instituição. O presidente Jair Bolsonaro ficou
irritado ao saber de mais uma incoêrencia no currículo do indicado, que já teve
doutorado e pós-doutorado questionados por universidades estrangeiras e é
acusado de plágio no mestrado. O governo então passou a pressioná-lo para que
apresentasse uma carta de demissão.
Segundo o Estadão apurou, Decotelli perdeu o apoio do grupo
militar que o indicou ao governo. A nota da FGV dizia que Decotelli cursou
mestrado na FGV, concluído em 2008. "Prof. Decotelli atuou apenas nos
cursos de educação continuada, nos programas de formação de executivos e não
como professor de qualquer uma das escolas da Fundação", completa o texto.
A situação é comum na instituição em cursos com esse perfil, professores são
chamados como pessoa jurídica e atuam apenas em cursos específicos. Isso quer
dizer que ele não faz parte do corpo docente da instituição, mas foi apenas
professor colaborador.
Entre os nomes que estão sendo indicados a Bolsonaro para
substituir Decotelli está o de Antonio Freitas, defendido pelo mesmo grupo
militar e pelo dono da Unisa, Antonio Veronezi, que tem exercido grande
influência no governo. Ele é professor titular de Engenharia de Produção da
Universidade Federal Fluminense (UFF) e membro do Conselho Nacional de Educação
(CNE). Na profusão de nomes sendo indicados surgiu também o de Gilberto
Gonçalves Garcia, que tem formação em filosofia e foi reitor de várias
universidades privadas.
Outro nome que surgiu foi o de Marcus Vinícius Rodrigues,
que foi presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
(Inep/MEC) na gestão de Ricardo Velez. Ele é engenheiro e ligado ao mesmo grupo
militar de Decotelli. Rodrigues deixou o Inep depois de desentendimento com o
grupo ligado a Olavo de Carvalho.
Além dele, o evangélico Benedito Guimarães Aguiar Neto, que
foi reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e hoje é presidente da
Capes, no MEC, também é defendido por Veronezi. Correndo por fora está o atual
reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Anderson Correa, que foi
presidente da Capes já no governo Bolsonaro.
A preocupação dos militares e de educadores é que
integrantes ligados a Olavo de Carvalho agora tenham argumentos para indicar um
nome que prevaleça. O deputado Eduardo Bolsonaro teria sugerido Sérgio
Sant'ana, ex-assessor especial de Abraham Weintraub e ligado a olavistas do
governo. O nome de Ilona Becskehazy, que é a atual secretária de Educação
Básica no MEC, também está sendo defendido por grupos considerados ideológicos.
Na segunda-feira, o presidente chamou Decotelli para uma
conversa e postou nas redes sociais que o economista estava sendo vítima de
críticas para desmoralizá-lo. Mas deu um recado: "O Sr. Decotelli não
pretende ser um problema para a sua pasta (Governo), bem como, está ciente de
seu equívoco." E não indicou que haveria posse, anteriormente marcada para
esta terça. Decotelli saiu da reunião dizendo que era o ministro da Educação.
Segundo fontes, no entanto, o fato de Decotelli ser
contestado agora por uma instituição do País o fragilizou. Na semana passada,
ele foi questionado por Franco Bartolacci, reitor da Universidade Nacional de
Rosário, que disse que ele não conclui o doutorado. Nesta segunda, a
Universidade de Wuppertal, na Alemanha, também afirmou que ele não fez
pós-doutorado na instituição. Decotelli mudou seu currículo na plataforma Lattes
depois dos questionamentos – Estadão.
Carlos Magno
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