Na noite da última quinta-feira (23/7), após andar de
bicicleta sem máscara facial, mesmo testando pela terceira vez positivo para a
COVID-19, Jair Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo e falou sobre o
desmatamento na Amazônia, que bateu novo recorde em junho. O presidente do
Brasil minimizou os impactos da destruição da maior e mais importante floresta
tropical do mundo, e disse ainda que os próprios indígenas, que hoje estão
sofrendo com a pandemia de coronavírus na região, são os culpados por certas
queimadas.
“Pessoal, tem certas regiões aqui que o foco de incêndio
existe, e vai existir todo o ano, que é o cabloco, é o índio que toca fogo. Se
ele não tocar fogo, é a cultura dele, ele não vai ter o que comer no ano
seguinte“, falou. No final de 2019, Bolsonaro já havia acusado ONGs de
colocarem fogo na Amazônia para incriminá-lo, durante episódio envolvendo os
brigadistas de Alter do Chão. O caso segue sendo investigado, mas imagens
amadoras mostraram que muitos focos do fogo aconteceram em áreas de grilagem
[ilegais e com documentação falsificada], que hoje estão inclusive à venda.
Em outro momento da conversa, o presidente disse que “não
tem como fiscalizar” a Amazônia, porque ela é muito grande. Desde que tomou
posse, a floresta registrou os menores índices de fiscalização. Durante a
pandemia de COVID-19, vídeos de Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente,
falando para usar o coronavírus como “cortina de fumaça” para mudar leis que
protegem a mata foram divulgados. Bolsonaro também comentou que “o Brasil é um
gigante do agronegócio e ele não parou com a pandemia”, justificando que muitas
das áreas são desmatadas a favor da economia. O que não deixa de ser verdade. A
indústria da carne no Brasil é enorme e gera muito lucro, dentro do país e com
importações. Sabe-se que a pecuária é responsável pelo desmatamento de 80% da
floresta, e não é nenhuma novidade que o atual ministro do Meio Ambiente
defende a bancada ruralista.
Em dado momento da transmissão, Jair Bolsonaro culpou mais
uma vez a imprensa e disse que jornais conhecidos fazem de tudo para derrubar o
governo. “A imprensa de fora pega a mentira, publica lá na Europa. Daí a
imprensa daqui vai lá, pega da Europa e vem para cá”, insinuou. É importante
destacar que muitos dados oficiais sobre o desmatamento da Amazônia são
levantados, registrados e divulgados pelo Ministério Público Federal.
O presidente enfatizou que defende a chamada PL da Grilagem,
que prevê uma regularização fundiária pautada mais uma vez em cima do
agronegócio. “Esse projeto não traz benefícios para a população. Nossa urgência
hoje é a crise sanitária que estamos passando, e não beneficiar grileiros que querem
roubar nossas riquezas”, garantiu Wagner Ribeiro, professor do Departamento de
Geografia e do programa de pós-graduação em Ciência Ambiental da USP, em
entrevista à Rede Brasil Atual – MSN Notícias.
Carlos Magno
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