Mil e cinquenta e oito padres brasileiros assinaram um
manifesto, divulgado na tarde desta quinta-feira (30), em apoio a uma carta de
152 bispos da Igreja Católica com duras críticas ao governo do presidente Jair
Bolsonaro (sem partido), tornada pública no fim de semana.
A iniciativa desses sacerdotes esquenta ainda mais o embate
entre as chamadas alas "progressista" e "conservadora" na
Igreja Católica.
Grupos conservadores haviam reagido ao documento dos
representantes do episcopado, a "Carta ao Povo de Deus", divulgada no
domingo pelo jornal Folha de S.Paulo.
Os bispos disseram que o Brasil atravessa um dos momentos
mais difíceis de sua História e vive uma "tempestade perfeita",
combinando uma crise sem precedentes na saúde e um "avassalador colapso na
economia", com questionadas e polêmicas ações do presidente da República
que resultam "numa profunda crise política e de governança".
'Agir em favor de toda
a população'
Os padres afirmam que a manifestação dos bispos brasileiros
"em profunda comunhão com o papa Francisco e seu magistério e em comunhão
plena com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)" oferece ao
povo "luzes para o discernimento dos sinais nestes tempos tão difíceis da
história do nosso País".
Segundo o documento dos padres, os governantes "têm o
dever de agir em favor de toda a população, de maneira especial os mais
pobres", mas "não tem sido esse o projeto do atual governo", que
"não coloca no centro a pessoa humana e o bem de todos, mas a defesa
intransigente dos interesses de uma economia que mata, centrada no mercado e no
lucro a qualquer preço".
E acrescenta: "Por isso, também estamos profundamente
indignados com ações do presidente da República em desfavor e com desdém para
com a vida de seres humanos e também com a da 'nossa irmã, a Mãe Terra', e
tantas ações que vão contra a vida do povo e a soberania do Brasil".
O documento dos bispos brasileiros deveria ser divulgado
inicialmente na quarta-feira (22), mas foi suspenso para ser analisado pelo
Conselho Permanente da CNBB.
Acabou vazando, deliberadamente, diante do temor de alguns
signatários de que os conservadores católicos impedissem a sua divulgação.
Assinaram o documento, entre outros, o arcebispo emérito de
São Paulo, dom Claudio Hummes, o bispo emérito de Blumenau dom Angélico Sândalo
Bernardino; o bispo de São Gabriel da Cachoeira (AM), dom Edson Damian; o
arcebispo de Belém, dom Alberto Taveira Corrêa, e o bispo emérito do Xingu
(PA), dom Erwin Krautler.
O texto será avaliado pela CNBB em reunião no próximo dia 5.
A CNBB, na avaliação de religiosos, tende a se manifestar em favor da autonomia
dos bispos para darem declarações.
Padres da Caminhada
Já os padres também contrários às ações de Bolsonaro se
organizaram em movimentos como o Padres da Caminhada - com cerca de 200
integrantes, entre eles bispos eméritos, com dom Mauro Morelli, de Duque de
Caxias (RJ) -, e os Padres contra o Fascismo, com 170 membros.
Surgido no final do ano passado em um encontro de
comunidades eclesiais de base em Canoas, no Rio do Grande do sul, os Padres da
Caminhada saíram em defesa do pároco Edson Tagliaferro, da cidade de Artur
Nogueira (SP), que chamou Bolsonaro de "bandido" numa homilia, no
início de julho.
Também apoiaram os colegas padres Dennis Koltz e Sisto
Magro, agredidos por um fazendeiro no interior do Amapá, há cinco meses, e se
posicionaram contra o racismo na Igreja Católica, reivindicando ao papa
Francisco a nomeação de mais bispos negros.
Na carta divulgada ontem, os padres afirmam ser necessária e
urgente a reconstrução das relações sociais no Brasil, pois "este cenário
de perigosos impasses, que colocam nosso País à prova, exige de suas
instituições, líderes e organizações civis muito mais diálogo do que discursos
ideológicos fechados".
Afirmam ainda um compromisso "em favor da vida,
principalmente dos segmentos mais vulneráveis e excluídos, nesta sociedade
estruturalmente desigual, injusta e violenta", e se solidarizam com todas
as famílias que perderam vidas por causa da covid-19.
"Essa doença ceifa vidas e aterroriza a todos. Próximos
de atingir 100 mil mortos nesta pandemia, é inadmissível que não haja neste
governo um ministro da Saúde, que possa conduzir as políticas de combate ao novo
coronavírus", reclama o documento – BBC.
Carlos Magno
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