O Brasil teve, em julho, 32.912 mortes confirmadas pela
Covid-19, segundo dados apurados pelo consórcio de veículos de imprensa – do
qual o G1 faz parte – junto às secretarias de Saúde do país. O número é o mais
alto registrado em um único mês desde o início da pandemia.
O dado foi calculado subtraindo-se as mortes totais no dia
30 de junho (59.656) do total de mortes até 31 de julho, que era de 92.568 até
as 20h. Os números dos meses anteriores foram identificados com o uso da mesma
metodologia.
Desde que o primeiro caso de Covid-19 foi registrado no
Brasil, a quantidade de mortes por mês segue crescente no país (veja gráfico
abaixo). Julho foi o segundo mês seguido em que mais de 30 mil pessoas morreram
em solo brasileiro devido à infecção pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2).
O consórcio de veículos de imprensa começou o levantamento
conjunto no início de junho. Por isso, os dados mensais de maio, abril, março e
fevereiro são de levantamentos exclusivos do G1. A fonte de ambos os
monitoramentos, entretanto, é a mesma: as secretarias estaduais de Saúde.
Tendências
Para o epidemiologista Pedro Hallal, reitor da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel), a tendência de aumento nas mortes mostra o
"total fracasso" do Brasil em combater a pandemia.
"Não precisava ser assim. Não tem nenhum motivo para um
país onde a pandemia chegou em março o quinto mês da pandemia ser o mês com
mais mortes. Isso é completamente descabido. Só mostra o total fracasso do
Brasil no combate à pandemia", afirma Hallal.
O epidemiologista, que comanda a Epicovid, considerada o
maior estudo brasileiro sobre prevalência do coronavírus, afirma que o pais
falhou nas principais medidas que poderiam conter a transmissão da doença: a
testagem massiva, a busca ativa dos casos e o distanciamento social.
As medidas para restringir o contato social, implantadas em
março em várias partes do país, sinalizaram um bom início para o Brasil até
abril, avalia Hallal, mas, desde maio, vêm sendo relaxadas.
"Se o Brasil continuar não fazendo o distanciamento
social nas cidades onde os números ainda estão estabilizados ou crescendo,
agosto vai 'ganhar' de julho e vai ser, de novo, o mês com mais mortes",
prevê.
"A única forma de prevenir que agosto ultrapasse julho
é se, nos lugares onde os números estão estáveis ou subindo, fazer lockdowns
rigorosos, que nunca foram feitos no Brasil", afirma o epidemiologista.
"Mas, se as pessoas ficarem saindo na rua como se fosse
vida normal, enquanto o número diário de casos ainda é alto, o que vai
acontecer é que essas pessoas vão transmitir para outras, é óbvio", diz.
Já o epidemiologista Paulo Lotufo, da Faculdade de Medicina
da USP, avalia que a tendência é de redução no número de mortes daqui para a
frente. Isso porque a Covid-19 não chegou a todos os estados brasileiros ao
mesmo tempo, e, nos mais populosos, já se vê diminuição nos casos e óbitos.
"Tem lugares muito populosos – Minas Gerais, interior
de São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina – que puxam [o número de
mortes] para cima. Os outros [lugares] estão caindo, mas eles estão puxando
para cima", explica Lotufo.
"Os estados do Nordeste, o Amazonas e o Pará estão em
queda [de mortes]. O Sul, Minas Gerais e o Centro-Oeste estão em aumento. Em
São Paulo, a capital e a grande SP têm queda, mas o interior aumenta",
lembra o epidemiologista.
Ele avalia que, mesmo nos estados onde as mortes estão
aumentando, a tendência é que logo cheguem ao ponto máximo, e depois passem a
cair.
"E, aí, a nossa esperança é que os outros não subam.
Ou, se vão subir, não vão subir na mesma intensidade com que subiram em abril
ou maio. É praticamente impossível ter a mesma mortalidade de maio em agosto ou
setembro", afirma.
Nos EUA, queda
País com mais mortes por Covid-19 no mundo, os Estados
Unidos vêm registrando uma queda no número de óbitos por mês desde abril,
tendência oposta à do Brasil (veja gráfico mais abaixo).
Em julho, foram 23.851 mortes reportadas à Organização
Mundial de Saúde (OMS). O número bateu recorde em abril, quando mais de 50 mil
pessoas morreram em solo americano por causa da doença.
Os números americanos também foram calculados usando a
quantidade total de mortes no último dia de cada mês menos a quantidade total no
último dia do mês anterior, conforme boletins da OMS.
"É o normal, é o que seria observado em todos os
lugares do mundo. Neste momento, a Suécia, a Alemanha, a Inglaterra – todos os
lugares estão decrescendo muito o número de óbitos. Esse resultado do Brasil é
inédito", compara Pedro Hallal, da UFPel.
Apesar da redução no número de mortes que vêm ocorrendo nos
EUA, ao longo do mês de julho, houve crescimento das infecções nos estados
norte-americanos do Arizona, Califórnia, Flórida e Texas, o que obrigou
governos a repensarem a reabertura da economia.
Ao mesmo tempo, na Europa, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) alerta para o aumento de contágios entre os jovens. Segundo o
diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom picos de transmissão registrados em
vários países europeus recentemente foram provocados, em parte, por jovens que
baixaram a guarda no verão do Hemisfério Norte.
Na sexta-feira (31), o México se tornou o terceiro país com
mais mortes pela Covid-19 no mundo, ultrapassando o Reino Unido e ficando atrás
de Brasil e EUA.
Em quinto lugar na lista está a Índia, seguida de Itália,
França, Espanha, Peru e Irã, os dez países com mais óbitos na pandemia seundo
monitroamento da Universidade Johns Hopkins – G1.
Carlos Magno
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