Dados da quinta fase do inquérito sorológico feito com
adultos na cidade de São Paulo (pessoas acima de 18 anos) mostraram um avanço
do novo coronavírus em bairros nobres, principalmente da região centro-oeste.
De acordo com o estudo, a região, que no penúltimo inquérito sorológico apresentava
uma prevalência de 5,2%, passou agora para 10,3%. Isso significa que um a cada
10 moradores da região já têm anticorpos para a doença. Houve aumento também
nas regiões leste (que passou de 12,3% para 19,6%) e norte (de 8,3% para
12,1%). Em bairros de IDH alto, a alta foi de 53%.
"Não podemos deixar de destacar esse aumento em
distritos de maior índice de desenvolvimento humano (IDH), um aumento de 100%
na região centro-oeste, uma das mais ricas da cidade. Os inquéritos ajudam a
implementar políticas específicas para cada fase. E acende uma luz amarela esse
aumento na classe A e B", disse o prefeito Bruno Covas (PSDB).
Na coletiva, não foram explicados os motivos que estariam
levando a esse crescimento em bairros nobres, mas em entrevista ao Estadão na
semana passada, o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, afirmou que a
alta está acontecendo na população que conseguiu fazer melhor o isolamento
social durante o auge da pandemia, mas que agora está saindo às ruas, no
comércio, em bares e restaurantes, e está sendo infectada. No entanto, segundo
ele, esse dado não é indicativo de uma segunda onda iminente.
Mesmo diante do avanço em bairros nobres, a covid-19 ainda é
mais prevalente em bairros de IDH mais baixo. A prevalência é de 19,1%, tendo registrado
um aumento de 36% da doença em relação ao último inquérito. Já os bairros de
IDH médio têm prevalência de 13,2% e tiveram uma variação de apenas 1,1%. Nos
bairros de IDH alto, esse índice é de 9,5%.
O inquérito mostra, no entanto, que quando o recorte é feito
por classe social, pessoas das classes D e E têm seis vezes mais chances de
pegar a doença, com taxa de 18,7%, que pessoas da classe A (3,1%).
O estudo também mostra que a prevalência continua sendo mais
alta entre jovens, sendo de 15,4% entre pessoas de 18 a 34 anos. Entre os que
tem 35 a 49 anos, esse índice é de 14,6%.
Os resultados mostram também que 13,9% dos entrevistados já
tinham anticorpos para a covid-19. Isso equivale a 1,6 milhão de pessoas na
cidade.
O inquérito sorológico foi feito entre os dias 25 e 27 de
agosto com amostragem por sorteio aleatório de abrangência de 472 unidades
básicas de saúde (UBS) e o teste aplicado foi o imunocromatográfico IGM/IGG.
Professor vê relação entre aumento de casos e reabertura de
estabelecimentos
Para Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, o aumento do número de casos
em bairros nobres da capital é reflexo da reabertura de estabelecimentos que
podem ser considerados como "de elite", entre eles restaurantes e
salões de beleza. "Com as medidas de relaxamento, as pessoas se sentiram
mais à vontade e foram para a praia", afirma Alves. Ele reforça que, ao se
observar a média móvel, não há uma diminuição sustentável de casos, mas sim
estabilidade. "O Plano São Paulo é de recuperação econômica, não de saúde
pública."
Nesta quinta-feira, 17, bares da Vila Madalena estavam com
poucos clientes. Algumas pessoas, no entanto, estavam com saudade da rotina
boêmia. É o caso da farmacêutica Amanda Villas-Boas, de 24 anos, que se reuniu
com alguns amigos no fim de tarde. Ela conta que teve covid-19 e sentia falta
de se encontrar com as pessoas. "O local em que eu trabalho é o mais
insalubre possível".
Um grupo que finalizou um curso de joias decidiu se reunir
para celebrar em uma esquina da rua Aspicuelta. "Foi a primeira vez que
vimos todos sem máscara", conta a joalheira Rafaela Sugawara, de 25. Ela
afirma que o grupo optou por ir ao local por estar vazio e ser ao ar livre,
seguindo todos os protocolos de segurança.
Dono de cinco bares na região, Flávio Pires, de 55 anos,
conta que vem seguindo à risca as recomendações sanitárias. Desde que a reabertura
foi permitida, o faturamento caiu 80%. "Até o fim do ano, muitas pessoas
vão quebrar. Infelizmente o poder público não tem conhecimento do setor",
diz ele, afirmando que o movimento aumenta justamente quando ele precisa fechar
– Estadão.
Carlos Magno
VEJA TAMBÉM:
- Cheirar pum pode prevenir câncer, AVC,
ataque cardíaco, artrite e demência, diz estudo de universidade do Reino Unido
- Assassinato de moradores de rua em
Campina Grande-PB gera comoção: radialista faz artigo em homenagem a
"Maria Suvacão"
- UEPB vai ganhar curso de Medicina no campus de
Campina Grande. Veja detalhes
-Cliente que passar mais de 20 minutos em fila de
banco na Paraíba receberá indenização
- Jovem forja a própria morte para saber
"quais pessoas se importariam com sua ausência" e vem a público pedir
desculpas