O presidente Jair Bolsonaro afirmou na noite desta
quinta-feira (8) que não responderá à carta protocolada no Palácio do Planalto
na qual a cúpula da CPI da Covid pede a ele que informe se fez referência ao
líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), em conversa sobre
compra suspeita de vacinas pelo governo.
Os senadores Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI; Randolfe
Rodrigues (Rede-AP), vice; e Renan Calheiros (MDB-AL), relator, assinam a
carta, motivada pelo fato de, 13 dias depois, Bolsonaro ainda não ter se
manifestado sobre declaração do deputado Luis Miranda (DEM-DF). À CPI, Miranda
disse que ele e o irmão, servidor do Ministério da Saúde, informaram ao
presidente sobre suspeitas em relação à compra da vacina indiana Covaxin.
Segundo relato dos irmãos Miranda, Bolsonaro teria reagido dizendo que aquilo
era "coisa" de Ricardo Barros.
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Senado
"Não vou entrar em detalhes sobre essa CPI aí do Renan
Calheiros e do Omar Aziz, que dispensa comentários não é? E não vou responder
nada para esses caras. Eu não vou responder nada para esse tipo de gente, em
hipótese alguma. Que não estão preocupados com a verdade e sim em desgastar o
governo. Por quê? O Renan, por exemplo, é aliadíssimo do Lula. O cara quer a
volta do Lula a qualquer preço. Então, não vou responder questão de CPI para
esses caras, não é? Hoje foi, acho que, não sei se foi o Renan ou o Omar e o
saltitante. Fizeram uma festa lá embaixo na Presidência entregando um documento
para eu responder perguntas para a CPI. Você sabe qual é a minha resposta,
pessoal? Caguei. Caguei para a CPI. Não vou responder nada.", declarou
Bolsonaro.
Na carta, os três senadores dizem ao presidente:
"Somente Vossa Excelência pode retirar o peso terrível
desta suspeição tão grave dos ombros deste experimentado político, o Deputado
Ricardo Barros, o qual serve seu governo numa função proeminente."
Eles também pedem que Bolsonaro se posicione de maneira
"clara" e "cristalina".
"Rogamos a Vossa Excelência que se posicione de maneira
clara, cristalina, republicana e institucional, inspirando-se no Salmo tantas
vezes citado em suas declarações em jornadas pelo país: "Conhecereis a
verdade e a verdade vos libertarás'."
Nesta quinta, Ricardo Barros discursou na tribuna da Câmara
e se defendeu das acusações contra ele. O deputado quer que a CPI antecipe para
antes do recesso o depoimento dele à comissão, marcado para o próximo dia 20.
Íntegra da carta
Leia abaixo a íntegra da carta dos senadores ao presidente:
À Sua Excelência o Senhor
Jair Messias Bolsonaro
Presidente da República Federativa do Brasil
Senhor Presidente
Como é de conhecimento público, foram realizados no plenário
desta Comissão Parlamentar de Inquérito, no ultimo dia 25 de junho de 2021, os
depoimentos do Deputado Luis Miranda e de seu irmão, o servidor publico Luis
Ricardo Miranda.
Entre os inúmeros temas tratados, os depoentes descreveram
em detalhes o encontro que mantiveram com Vossa Excelência, no Palácio da
Alvorada, no dia 20 de março de 2021, ocasião na qual teriam lhe alertado a
respeito de vícios insanáveis e indícios de ilegalidades na documentação
referente a importação de 20 milhões de doses da vacina Covaxin.
Um dos temas mais sensíveis, motivo deste expediente
especificamente, constitui a referência que teria sido feita por Vossa
Excelência ao Líder do Governo na Câmara dos Deputados, Deputado Ricardo
Barros.
Segundo o Deputado Luis Miranda, Vossa Excelência teria dito
o que se segue, conforme consta registrado das notas taquigráficas:
"O Presidente entendeu a gravidade. Olhando os meus
olhos, ele falou: 'Isso é grave!'."
"Não me recordo do nome do parlamentar, mas ele até
citou um nome para mim, dizendo: 'Isso é coisa de fulano' . 'Vou acionar o DG
da Policia Federal, porque, de fato, Luis, isso é muito grave, isso que está
ocorrendo".
Posteriormente, o Deputado Luis Miranda, declarou à CPI:
"Foi o Ricardo Barros que o presidente falou. Foi o nome Ricardo
Barros".
Solicitamos, em caráter de urgência, diante da gravidade das
imputações feitas a uma figura central desta administração, que Vossa
Excelência desminta ou confirme o teor das declarações do Deputado Luis
Miranda.
Tomamos essa iniciativa de maneira formal, tendo em vista
que no dia de hoje, após 13 (treze) dias, Vossa Excelência não emitiu qualquer
manifestação afastando, de forma categórica, pontual e esclarecedora, as graves
afirmações atribuídas a Vossa Excelência, que recaem sobre o líder de seu
governo.
Somente Vossa Excelência pode retirar o peso terrível desta
suspeição tão grave dos ombros deste experimentado politico, o Deputado Ricardo
Barros, o qual serve seu governo em uma função proeminente.
O propósito desta iniciativa é de colaboração, esclarecimento
e elucidação dos fatos. Frisamos que a manutenção do silêncio de Vossa
Excelência, em relação a este fato específico, cria uma situação duplamente
perturbadora.
De um lado, contribui para a execração do Deputado Ricardo
Barros, ao não contar com o desmentido firme e forte daquele que participou da
conversa com os irmãos Miranda.
Segundo, ao não desmentir o relato do Deputado Luis Miranda,
impede-se que, em não sendo verdadeiras as referenciadas informações, sejam
tomadas medidas disciplinares pertinentes, porquanto é inadmissível que um
parlamentar, no exercício do mandato, faça tal afirmação envolvendo o
Presidente da República e Líder do Governo e, sendo inverídica, não responda
por este grave ato.
Caso Vossa Excelência desminta, de forma assertiva, as
palavras do Deputado Luis Miranda, esta Comissão Parlamentar de lnquérito se
compromete a dele solicitar esclarecimentos adicionais e provas do que disse,
e, na hipótese de não haver provas, tomar claro que se trata apenas um conflito
de versões. Ademais, em havendo tal conflito, será permitido à sociedade que
tenha o direito de saber a verdade sobre os fatos.
Diante do exposto, rogamos a Vossa Excelência que se
posicione, de maneira clara, cristalina, republicana e institucional,
inspirando-se no Salmo tantas vezes citado em suas declarações em jornadas pelo
País: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".
Respeitosamente,
Senador Omar Aziz
Presidente da CPI Pandemia
Senador Randolfe
Rodrigues
Vice-presidente da CPI Pandemia
Senador Renan
Calheiros
Relator da CPI Pandemia
Com informações do G1
Carlos Magno
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