A Prevent Senior omitiu no atestado de óbito que o médico
Anthony Wong, morto em 15 de janeiro deste ano em São Paulo, faleceu em
decorrência de Covid. A operadora de saúde também não informou no documento que
Regina Hang, de 82 anos, mãe do empresário Luciano Hang, dono da Havan, morreu
em 4 de fevereiro após complicações relacionadas ao coronavírus.
Os prontuários de Wong e Regina aos quais a TV Globo teve
acesso, mostra que os dois foram internados no Hospital Sancta Maggiore, da
Rede Prevent Senior, e acabaram medicados com o chamado 'kit Covid', série de
medicamentos sem comprovação científica na prevenção ou tratamento da doença.
Foto: Montagem/g1
A revista Piauí divulgou nesta terça-feira (21) reportagem
para revelar que o pediatra e toxicologista Wong, que era defensor do
tratamento precoce contra Covid, foi internado em 17 de novembro de 2020 no
hospital após o médico apresentar sintomas de Covid-19 havia oito dias.
"Um exame de PCR feito no hospital confirmou a presença
do Sars-CoV-2'', informa trecho do documento das mais de 2 mil páginas do
prontuário médico de Wong.
Quando Wong morreu, o Sancta Maggiore não informou a causa
da morte à imprensa. No seu atestado de óbito consta que a morte foi em
decorrência de: choque séptico, pneumonia, hemorragia digestiva alta e diabetes
mellitus.
A Piauí destacou que Wong autorizou ser medicado com o “kit
covid” da Prevent Senior; e que o médico recebeu outros tratamentos como a
inalação de ''heparina e metotrexato venoso'' - medicamentos sem eficácia
comprovada para Covid. Além disso, o médico também o fez “20 sessões de
ozonioterapia retal’’. E vinha "vinha fazendo uso de hidroxicloroquina''.
Wong foi atendido durante a internação pela colega médica
Nise Yamaguchi, que, segundo a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da
Covid, pertence ao chamado “gabinete paralelo” do governo federal.
De acordo com os prontuários, Wong também recebeu a visita
Pedro Benedito Batista, diretor-executivo da Prevent. Nesta quarta-feira (22) o
executivo se recusou a informar a CPI a causa da morte de Anthony Wong.
A GloboNews revelou que a Prevent Senior ocultou mortes de
pacientes que participaram de um estudo realizado para testar a eficácia da
hidroxicloroquina, associada à azitromicina, para tratar a Covid-19, segundo
dossiê ao qual a reportagem teve acesso (saiba mais abaixo). O diretor da
Prevent, Pedro Benedito Batista Júnior, negou nesta quarta-feira, durante a CPI
da Covid, que tenha ocultado mortes.
Hang
O prontuário de Regina Hang, mãe de Luciano Hang, dono da
empresa varejista Havan, mostra que ela foi medicada com o chamado ''kit
covid'', com “azitromicina, hidroxicloroquina e outras medicações.” O Sancta
Maggiore também não havia informado a causa da morte da idosa à imprensa à
época.
No quinto dia de internação, ainda segundo o prontuário,
Regina passou por sessão de ozonioterapia, uma prática que é proibida pelo
Conselho Federal de Medicina, exceto em pesquisas experimentais autorizadas
pela comissão de ética em pesquisa e em instituições credenciadas.
Segundo a Conep, não havia nenhuma autorização de pesquisa
para a Prevent. Regina Hang morreu um mês depois de dar entrada no hospital, no
dia 2 de fevereiro.
Em um vídeo gravado pelo empresário Luciano Hang - filho de
Regina - ele reafirma que a mãe morreu de Covid e lamenta o fato dela não ter
feito um tratamento preventivo, antes de pegar o vírus, o que também não tem
eficácia comprovada.
Na certidão de óbito de Regina a Covid não aparece na causa
da morte. No documento consta: disfunção múltipla de órgãos, choque
distributivo refratário, insuficiência renal crônica agudizada, pneumonia
bacteriana, síndrome metabólica e acidente vascular cerebral isquêmico prévio.
Assim como no caso de Regina Hang, a Covid-19 não consta
como causa morte de Anthony Wong.
Prevent Senior
ocultou mortes em estudo
O plano de saúde Prevent Senior também ocultou outras mortes
de pacientes que participaram de um estudo realizado para testar a eficácia da
hidroxicloroquina, associada à azitromicina, para tratar a Covid-19, aponta um
dossiê ao qual a GloboNews teve acesso.
A pesquisa foi divulgada e enaltecida pelo presidente da
República, Jair Bolsonaro (sem partido), como exemplo de sucesso do uso da
hidroxicloroquina . Ele postou resultados do estudo e não mencionou as mortes
de pacientes que tomaram o medicamento.
A CPI da Covid recebeu um dossiê com uma série de denúncias
de irregularidades, elaborado por médicos e ex-médicos da Prevent. O documento
informa que a disseminação da cloroquina e outras medicações foi resultado de
um acordo entre o governo Bolsonaro e a Prevent. Segundo o dossiê, o estudo foi
um desdobramento do acordo – G1.
Carlos Magno
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