A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp)
notificou na quinta-feira (21) o deputado que ofendeu o papa Francisco para que
apresente a sua defesa.
A atitude foi tomada depois que a Conferência Nacional de
Bispos do Brasil (CNBB) e quatro representações de outros parlamentares
cobraram punição pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa.
A notificação ao deputado Frederico D'Ávila (PSL) foi enviada
pela também deputada Maria Lucia Amary (PSDB), presidente do Conselho de Ética.
Foto: Reprodução/Youtube
Pelo regimento do órgão, o deputado do PSL tem o prazo de
cinco sessões do plenário para apresentar sua defesa prévia, que começa a
contar nesta sexta-feira (22).
Depois disso, Maria Lucia Amary vai convocar uma reunião do
Conselho de Ética para julgar a admissibilidade das representações apresentadas
pelos deputados Luiz Fernando (PT), Paulo Fiorilo (PT), Emídio de Souza (PT) em
conjunto com o Ataíde Teruel (PODE), e Carla Morando (PSDB) em conjunto com
Patricia Bezerra (PSDB) e Marcos Zerbini (PSDB).
Um quinto pedido de punição foi apresentado pelo deputado
Raul Marcelo (PSOL), que ainda está sendo registrado.
Entenda
No feriado do último dia 12, o arcebispo de Aparecida, Dom
Orlando Brandes, afirmou durante a principal missa das comemorações no
santuário que "para ser pátria amada não pode ser pátria armada".
No mesmo dia, em um discurso no plenário da Alesp, o
deputado Frederico D'Ávila fez referência a este discurso, chamou o Papa
Francisco de "vagabundo", o arcebispo de "vagabundo" e
safado", os religiosos de "pedófilos safados" e disse que a
Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) "é um câncer".
Após o episódio, a instituição entregou à presidência da
Casa Legislativa uma carta cobrando punição ao deputado pelas agressões e
informando que também acionaria a Justiça contra o parlamentar.
"Com ódio descontrolado, o parlamentar atacou o Santo
Padre o Papa Francisco, a CNBB, e particularmente o Exmo. e Revmo. Sr. Dom
Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida. Feriu e comprometeu a missão
parlamentar, o que requer imediata e exemplar correção pelas instâncias
competentes", dizia a carta.
O presidente da Alesp, o deputado Carlão Pignatari (PSDB),
entendeu que a carta já configurava uma denúncia passível de análise por parte
do Conselho de Ética, para onde encaminhou o documento, e leu um pedido público
de desculpas em nome dos deputados paulistas à Igreja Católica.
“Para o político, o dom da palavra é um direito inalienável,
mas que encontra limites no respeito pessoal e na própria lei. Não comporta,
portanto, a irresponsabilidade e o crime. Em nome do Parlamento paulista, eu
rogo um pedido expresso de desculpas ao Papa Francisco e a dom Orlando Brandes,
arcebispo de Aparecida, a quem empregamos nossa mais incondicional
solidariedade. A palavra não é arma para destruição. Ela é um dom. É
construção”, afirmou o presidente da Alesp.
Depois da repercussão, o deputado Frederico D'Ávila publicou
uma carta em que pediu desculpas pela fala, argumentando que, naquele dia, “por
pouco, foi vítima de homicídio por um assaltante em frente à esposa e filhos na
cidade de São Paulo”.
Quem é Frederico
D'Ávila?
Apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido),
Frederico D’ávila foi assessor especial do ex-governador de São Paulo Geraldo
Alckmin (PSDB) de 2011 a 2013.
Ele chegou à Alesp em 2018, eleito com o apoio de entidades
do setor agrícola do estado, especialmente da Sociedade Rural Brasileira, da
qual foi conselheiro entre 2017 e 2020.
D'Ávila costuma circular na Alesp sem máscara e já foi
flagrado pela reportagem do g1 sem a proteção no auge da segunda onda da Covid,
no início deste ano.
Em 20 de novembro de 2019, D’Ávila apresentou um projeto na
Alesp para homenagear o ex-ditador chileno Augusto Pinochet, que, para ele
"foi, sem dúvida, o maior estadista sul-americano do século 20".
Augusto Pinochet foi responsável por uma das ditaduras mais
sangrentas da América Latina, que deixou mais de 40 mil mortos, segundo
relatório da Comissão Valech – g1.
Carlos Magno
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