Um áudio, obtido pelo jornal Folha de S. Paulo, revela uma
fala polêmica do ministro da Educação, Milton Ribeiro. Ele afirma que prioriza
liberação de recursos da pasta para prefeituras que negociaram o repasse com
dois pastores, que não têm cargos no Ministério da Educação (MEC). Ribeiro
ainda diz que a prioridade dada por ele atende a um pedido do presidente Jair
Bolsonaro (PL).
"Foi um pedido especial que o presidente da República
fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar", diz o ministro na
conversa em que participaram prefeitos e os dois religiosos.
Foto: Clauber Cleber Caetano/PR
Gilmar Santos é um dos pastores envolvidos no suposto
esquema informal de obtenção de verbas da pasta e comanda a igreja Ministério
Cristo para Todos, em Goiânia (GO). Além dele, é citado o pastor Arilton Moura,
que é secretário da entidade evangélica Convenção Nacional de Igrejas e
Ministros de Assembleias de Deus no Brasil Cristo para Todos — Gilmar preside a
instituição.
A fala teria sido dita durante uma reunião dentro do MEC e,
no momento, Ribeiro falava sobre o orçamento da pasta, cortes de recursos da
educação e a liberação de dinheiro para obras. Estavam presentes prefeitos,
lideranças do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e os dois
pastores.
O ministro deixa claro na conversa que trabalha com duas
prioridades: municípios “que mais precisam” e prefeituras agraciadas pelos
pastores. "Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que
mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor
Gilmar".
No registro em áudio, o líder da pasta fala sobre uma
contrapartida para a liberação dos recursos. “Então o apoio que a gente pede
não é segredo, isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção das igrejas”,
disse. No entanto, ele não dá detalhes sobre como o apoio seria realizado.
O áudio é mais uma comprovação da relação dos pastores
evangélicos com o governo Bolsonaro, revelada na semana passada pelo jornal O
Estado de S. Paulo. Os religiosos atuam, pelo menos desde janeiro de 2021 em
negociações com prefeituras para liberação de recursos federais para obras de
creches, escolas, quadras ou para compra de equipamentos de tecnologia.
Os dois são figurinhas carimbadas na gestão do presidente
desde o primeiro ano de governo. Em 18 de outubro de 2019, os dois participaram
de evento no Palácio do Planalto e se sentaram ao lado de Bolsonaro. Já em
2021, em 10 de fevereiro, eles estiveram ao lado do ministro do MEC e de
Bolsonaro em um evento da pasta com 23 prefeitos. A participação deles, porém,
não foi registrada na agenda oficial.
Negociações informais
em hotel e restaurantes de Brasília
Gestores e assessores da pasta contaram, sob anonimato, ao
Estadão, que as negociações ocorrem em hotéis e restaurantes de Brasília.
Depois, os pastores entram em contato com o ministro Milton Ribeiro, que dá a
ordem para que o FNDE oficialize o empenho, que é o primeiro passo da execução
orçamentária, que reserva o recurso para determinada ação.
Alguns prefeitos chegaram, inclusive, a se reunir na casa de
Ribeiro, fora da agenda oficial, após reuniões em hotel da capital, com um dos
pastores. Em 15 de abril de 2021, uma reunião de prefeitos em um evento do MEC,
com presença dos dois pastores, rendeu um grande montante de liberação de
recursos para novas obras aos políticos presentes.
O município de Anajatuba (MA) conseguiu o empenho para seis
obras, das quais nem mesmo os terrenos foram comprados antes da liberação.
O prefeito da cidade, Helder Aragão (MDB), contou que se
encontrou com o pastor Arilton. “Esse pastor Arilton eu conheci em Brasília.
Não tenho amizade com ele, fui até um hotel em Brasília onde tinha vários
prefeitos e ele falava que conseguia obra para o FNDE”, disse. No entanto, o
político afirmou à Folha que não negociou as obras, nem com o religioso, nem
com qualquer pessoa do MEC.
O protagonismo político dos pastores dentro da pasta também
foi visto em eventos em outros estados. Em maio de 2021, durante um evento do
FNDE em Centro Novo, no Maranhão, o presidente do FNDE agradeceu aos pastores
pela organização do evento. Em um vídeo publicado pelo município na época, o
ministro da Educação diz que a história dele com o município “começa com
Arilton”.
“Esse homem que pegou no meu pé e insistiu para que eu desse
atenção ao Maranhão. Depois conheci o Gilmar, o líder da igreja, que também
ficou no meu pé”, afirmou. Ainda em maio, Arilton viajou com Ribeiro em uma
aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) a Alcântara (MA), de acordo com
informações oficiais. O município garantiu recursos para cinco obras, o que
totalizou verba de R$ 27,4 milhões.
Ministro Ribeiro
Milton Ribeiro também já esteve com o nome envolvido em
outra polêmica relacionada a um possível tráfico de influência. Em 2021, o
ministro foi acusado de ter protelado uma denúncia contra um centro
universitário privado suspeito de fraude no Enade, uma avaliação do ensino
superior. O motivo seria a posição religiosa da instituição de ensino: a
Unifil, de Londrina (PR), se considera presbiteriana, como Ribeiro.
À Folha, os pastores Arilton e Gilmar não comentaram o caso.
O Correio Braziliense entrou em contato com as assessorias do MEC e do FNDE,
mas não obteve resposta até a última atualização dessa matéria. O espaço
permanece aberto para eventuais manifestações. A Presidência também foi
questionada, mas não respondeu até o fechamento dessa matéria – Correio Braziliense.
Carlos Magno
VEJA TAMBÉM:
- Cheirar pum pode prevenir câncer, AVC,
ataque cardíaco, artrite e demência, diz estudo de universidade do Reino Unido
- Assassinato de moradores de rua em
Campina Grande-PB gera comoção: radialista faz artigo em homenagem a "Maria
Suvacão"
- UEPB vai ganhar curso de Medicina no campus de
Campina Grande. Veja detalhes
-Cliente que passar mais de 20 minutos em fila de
banco na Paraíba receberá indenização
- Jovem forja a própria morte para saber
"quais pessoas se importariam com sua ausência" e vem a público pedir
desculpas