Dois prefeitos relataram ao jornal O Globo que o pastor
Arilton Moura, suspeito de fazer lobby para o Ministério da Educação, teria
solicitado propina para ajudá-los a conseguir recursos do MEC para a construção
de escolas em seus municípios.
Os prefeitos Kelton Pinheiro, de Bonfinópolis (GO), e José
Manoel de Souza, de Boa Esperança do Sul (SP), chegaram a ter audiências com o
ministro da Educação, Milton Ribeiro, e que depois se reuniram com o pastor
Arilton.
Foto: Luis Fortes/MEC
Os pedidos de propina supostamente feitos pelo pastor
variaram de R$ 15 mil a R$ 40 mil, e ele chegou até mesmo a exigir de Kelton
que comprasse bíblias que ajudariam na arrecadação de dinheiro para sua igreja.
Arilton é assessor de Assuntos Políticos da Convenção
Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, organização
presidida pelo também pastor Gilmar Silva dos Santos. Os dois atuam como
assessores informais do MEC, intermediando reuniões entre municípios e a pasta
para ajudar na liberação de recursos dela, como revelou o jornal O Estado de S.
Paulo.
Nesta semana, a Folha também revelou um áudio do ministro da
Educação, Milton Ribeiro, afirmando que o governo prioriza “os amigos de
Gilmar”, a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL). O ministro negou em nota
as acusações.
O prefeito de Bonfinópolis, Kelton Pinheiro, contou ao Globo
que se reuniu no MEC, em Brasília, com Ribeiro e outros 15 gestores municipais
em 11 de março de 2021. Após o encontro, os pastores Arilton e Gilmar chamaram
os prefeitos para um almoço, no qual Arilton o abordou questionando se sua
cidade tinha algum pedido de melhorias.
Após dizer que seu município precisava de mais uma escola, o
prefeito teria ouvido do pastor o pedido de propina. “Disse que eu teria que
dar R$ 15 mil para ele naquele dia para ele poder fazer a indicação. (Ele
disse) ‘Transfere para minha conta, é hoje (…) No Brasil as coisas funcionam
assim”, contou Kelton ao Globo.
O prefeito de Bonfinópolis também revelou o pedido inusitado
do pastor, que ele comprasse bíblias da igreja dele para ajudar na arrecadação de
verbas.
“Que eu desse uma oferta para a igreja, comprasse as bíblias
para ajudar na construção da igreja (…) Seria uma venda casada. Eu teria que
comprar essas bíblias, porque ele estava em campanha para arrecadar dinheiro
para a construção da igreja”, afirmou Kelton.
Já o prefeito de Boa Esperança do Sul, José Manoel de Souza,
teve uma reunião com o ministro da Educação e cerca de 30 gestores no MEC, em
13 de janeiro de 2021. Após o encontro, ele diz ter sido abordado por Arilton e
que o pastor teria pedido R$ 40 mil de propina para a liberação de recursos do
MEC para seu município.
“Eu o abordei e perguntei: ‘Senhor Arilton, como serão as
liberações? Vai ser para todos os municípios?’ E ele falou: ‘Vamos ali fora… Eu
vou ser bem sincero. Tem escolas profissionalizantes no seu município?’ Eu
disse que não, porque a cidade é pequena, e a gente precisa aumentar creches e
ônibus escolar. E ele falou: ‘Se você quiser, eu passo um papel agora, ligo
para uma pessoa e as escolas profissionalizantes vão chegar ao seu município,
mas em contrapartida, você precisa depositar R$ 40 mil para ajudar a igreja.
Uma mão lava a outra, né?’, disse Souza.
“Eu bati nas costas dele e falei: ‘Obrigado senhor Arilton,
mas para mim não serve'”, disse o prefeito de Boa Esperança do Sul – Istoé.
Carlos Magno
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