O presidente Jair Bolsonaro, a cada reajuste nos preços dos combustíveis
anunciado pela Petrobras, volta as suas baterias contra a estatal e diz que não
irá mais tolerar tamanho desrespeito com os brasileiros. Chegou até a trocar o
comando da empresa ou do Ministério das Minas e Energia, o que significa apenas
um “jogo de cena”, para tentar transmitir à população a imagem de um presidente
realmente preocupado com a situação.
Entretanto, o que Bolsonaro nunca fala é que a União é o
acionista majoritário da Petrobras e que, por este motivo, tem mais moral do
que qualquer outro investidor para, pelo menos, iniciar um processo de
discussão sobre a atual política de preços da companhia. Política esta que,
pelo que se vê, massacra o brasileiro e beneficia um pequeno grupo de
acionistas que lucram maravilhas com os reajustes, inclusive o acionista
principal que, como dissemos, é o próprio governo.
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Especialistas insistem em afirmar que os constantes reajustes
nos preços dos combustíveis no Brasil não estão atrelados, por exemplo, à
questão do ICMS dos estados, como o presidente tentou passar para a opinião
pública quando os reajustes começaram a sufocar o brasileiro. É sabido que as alíquotas
são altas, mas sempre foram e nem por isso existiam os reajustes como estão
ocorrendo hoje. É a coisa mais lógica do mundo: reajuste não depende de
alíquota de imposto algum.
Como a desculpa não decolou, o presidente mudou a estratégia
e passou a acusar os governos do PT pelos reajustes, o que também não
prosperou, visto que, nos anos de Lula e Dilma, os reajustes nunca ocorreram
nos índices e na frequência que ocorrem atualmente. Após essa segunda tentativa
de transferir responsabilidade, Bolsonaro muda de estratégia pela terceira vez
e, agora, acusa diretamente a própria Petrobras, sem, no entanto, dizer que ele
próprio representa a estatal. Ou seja: novo jogo de cena.
A verdade é que o governo não está nem um pouco preocupado
em alterar a política de preços dos combustíveis. Essa, sim, a principal razão
dos constantes e elevados reajustes, considerando que o mercado internacional
sofre consequências diversas, a exemplo dos conflitos nos países produtores de
petróleo e até mesmo da guerra da Ucrânia, para citar uma razão mais recente.
Simples assim: atrelar os preços dos combustíveis à loucura
que se vive mundo afora, com a qual não temos nada a ver, só traz prejuízos.
Aliás... só traz prejuízos para nós, consumidores, porque para um certo pequeno
e seleto grupo, do qual faz parte, principalmente, o próprio governo, traz tudo
de bom.
Desatrelar a política de reajustes dos combustíveis que são
produzidos no Brasil do mercado internacional levaria o próprio Brasil e ter
autonomia na definição dos preços. Porém, reduziria sobremaneira os lucros
auferidos aos acionistas que, repito, tem no governo federal o acionista majoritário.
Perguntar não ofende: nosso presidente terá coragem de mexer nesse vespeiro?
Carlos Magno